No avião, Erika estava inquieta. Olhava pela janela, as cidades brilhavam como estrelas em um céu terreno, amarelado e luminoso. Sua mente ficava passando as imagens do tiroteio, a excitação, o beijo que deu em Franziska, do êxtase que não conseguiu conter. Aposto que, se estivesse com seu diário, estaria escrevendo com linhas compridas e o mais rápido possível.
Pensei ainda em me aproveitar da situação, tocar aqui e ali, aumentar seu desejo e realizar uma fantasia no banheiro do avião. Foi difícil negar esse desejo, cada vez que olhava a garota, a dificuldade só aumentava. Abaixei o quepe sobre os olhos e tentei dormir, evitando esses desejos e pensamentos.
Mas, quanto mais você nega um desejo, mais forte ele fica, até o ponto de vencê-lo.
Erika se levantou, passando por mim e Franziska, dizendo que ia ao banheiro. Em passos medrosos, andou como se andasse em um ônibus, se apoiando nas poltronas. Eu sabia como ela estava excitada e a ideia da aventura no banheiro do avião só aumentava. Não pensei duas vezes, mas quando fiz menção em levantar, Franziska segurou meu antebraço. Ela me olhou por de baixo da boina, apenas vi seu olho esquerdo, castanho amarelado como um topázio de brilho dourado sobre a sombra, me prendendo na poltrona.
– Eu sei o que vai fazer, nem pense nisso. Deixe a garota em paz.
Fiquei calado, seu olhar me atacando.
– Ela já está com problemas demais e você quer fazer ela se apaixonar por você... Assim como eu?
– Franziska, você não está...
– Você não consegue negar mais minha paixão por você, e você sabe disso – ela suspirou e fechou o olho, terminando de cobrir com a boina. Você não quer que eu deixe de gostar de você, mas ainda assim, não faz nada quanto a isso. Agora, fique quieto aí e deixe Erika fora dos seus joguinhos. Foi muito bonito enquanto durou, não é mesmo? Enquanto me usou, há um ano? Agora eu não passo de uma funcionária sua, executando seus serviços – Franziska me soltou e cruzou os braços – ao invés de me levar para uma aventura no banheiro, como você mesmo planejava com Erika... Mas, na realidade, eu me preocupo com sua dúvida no seu próprio desejo...
Não disse nada, apenas me ajeitei na poltrona, procurando uma posição mais confortável. Ela estava certa e eu sabia disso, ceder aos meus desejos só pioraria as coisas. Erika teve de se satisfazer sozinha, trancada naquele cubículo. Evita olhar seu reflexo no espelho, sentada com as calças arriadas. Sentia vergonha de estar ali naquele momento, e mais vergonha ainda das imagens que lhe passava na cabeça. Mas, ainda assim, o desejo era maior e estava tão excitada que não demorou para alcançar o orgasmo da primeira vez, e da segunda, e da terceira, e da quarta...
Quase meia hora depois, Erika voltou, corada e ofegante. Um forte cheiro de sabonete pairou logo após ela ocupar novamente seu lugar. Não disse nada, apenas voltou a encarar a janela, olhando a cidade.
Em seu diário, depois descobri o que ela pensava, em Franziska, em mim, em nós três, em meio a sacos de arroz e poças avermelhadas.
...
Pela manhã, deixei Erika e Franziska em sua casa.
Erika estava calada, envergonhada e todo aquele tesão que sentia voltou com a mesma força. Ela tentava se conter em silêncio, cansada e com olheiras que a maquiagem mal escondia. Franziska notou o comportamento da amiga e sabia o que ela estava sentindo. Quando foi sincera consigo mesma, ela admitiu que aquilo lhe excitava um pouco, mas preferia manter distância da amiga. Não era simplesmente o caso de ceder ao lesbianismo, e sim ceder ao Vazio, que apenas iria deixar aquela situação ainda maior.
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Vazio
Teen FictionErika estava vivendo, sem saber muito o porquê disso. E nesses momentos de vida encontrou o Vazio, ou o Vazio a encontrou, e agora o pouco que sabia sobre a vida se tornou irrelevante. Ao tentar ser completo, o Vazio sempre cresce. Algumas pessoas...