Parte 13

3 0 0
                                    


A cidade era bem mais desenvolvida do que Erika era acostumada. Prédios grandes cobrindo a visão do céu no grande centro, tráfego congestionado de carros e pessoas pelas ruas. A típica metrópole moderna, afundada em um gigantesco e aparentemente eterno desenvolvimento. Erika só via tantas pessoas no mesmo lugar assim quando havia algum evento importante acontecendo, mas naquela cidade, nada de importante acontecia realmente, as pessoas apenas iam para cima e para baixo, cuidando da própria sobrevivência.

Erika não usava mais a palavrar vida ou viver, não acreditava mais que as pessoas viviam, apenas sobreviviam.

Pararam em frente a um grande teatro, com uma escadaria que escalava todo seu caminho de forma natural, divida por uma harmoniosa área verde, com pequenas e frágeis flores. Alguns adolescentes fumavam tranquilamente sentados nas escadas, com sacolas de comida e bebida, em uma plena manhã no meio da semana.

Todos saíram do carro, Hod e as duas francesas foram até o teatro, Cheng ficou encostado no carro e Erika sentada no capô.

– Você não vai apenas atrás de Eduard – começou Cheng, suspirando. Você será Eros. Você que nos manterá vivos – sorriu, com os olhos fixos no teatro. Seu desejo, seu elo conosco. Eu tenho certeza que Franziska e eu você consegue manter vivos, não consegue?

Erika enfiou a mão no bolso do cardigã e tirou uma carteira de cigarros mentolados que Franziska costumava a fumar. Acedeu um e deu um longo trago, baforando para baixo enquanto olhava seu instrutor de braços cruzados, concentrado.

– Provavelmente – sorriu, dando mais um trago. Eu espero que sim. Eu realmente espero que sim. Mas a lembrança de Annabel e que...

– Você amadureceu muito desde aquele dia – interrompeu. Não pense em Annabel, não pense em o que pode acontecer a Hod, a mim ou a Franziska. Apenas se concentre em nos ver amanhã vivos e em casa.

Erika manteve o cigarro na boca e tornou a olhar para Cheng, reparando em seu corpo masculino, que ficava à vista mesmo coberto por uma grossa jaqueta de couro marrom. Ela sorriu ao se lembrar dos dias de treinamento e do que sentia ao ser tocada.

– E esse tal de Aquiles? Quando eu vou conhecer ele?

– Hoje, no final da tarde – sorriu.

– Deve ser alguém muito importante, não é? Até mesmo Eduard eu já vi foto.

– Ele é sim.

Ambos se silenciaram após a curta conversa, Erika concentrada em seu cigarro e Cheng na entrada do teatro. Ao longe, o som de trovões e pequenos brilhos nas nuvens anunciavam a chuva que estava por vir.

...

Nosso encontro aconteceu no final da tarde, a chuva ainda estava apenas como um ralo sereno, mas já esfriava o suficiente para nos agasalharmos e cruzarmos os braços enquanto conversávamos. Foi nesse dia que vi Erika ao vivo pela primeira vez, sentada com os braços cruzados nas costas da cadeira do pequeno pub em que nos encontramos.

Erika me fitava com seus olhos azuis, enquanto eu explicava e organizava os últimos detalhes da operação. Em seu diário, ela me descreveu como um homem pálido, na faixa de quarenta anos, ainda que estivesse com trinta e dois na época e ela chegando aos dezoito, com olhos amarelos como mel e os cabelos castanhos caídos sobre o rosto. Eu costumava usar um quepe preto avermelhado como meu casaco, mas no dia estava sem, Eduard conhecia bem meu quepe e da última vez que me viu, meu cabelo estava bem curto, ralo como de um militar. O engraçado foi quando ela descreveu meu corpo como "alguém que não come há um ano". Realmente eu tinha perdido peso, mas esse comentário foi exagerado.

– Após sua chega, precisamos atacar rápido, de forma precisa e sincronizada, nesse momento é imprescindível que Eduard ou qualquer outra pessoa de seu grupo não note a movimentação – falava baixo, deixando a fala ser abafada pela conversa do bar. Eu, Cheng e Andressa vamos nos concentrar em Eduard, vocês duas nos seus possíveis cúmplices.

VazioOnde histórias criam vida. Descubra agora