Parte 15

3 0 0
                                    

A polícia não ia chegar a tempo de nos encontrar naquele lugar graças ao meu desejo, Cheng não estava preocupado, pois sabia disso, costumávamos fazer dessa forma quando íamos atrás de Eduard em nossa guerra particular.

– Qualquer coisa que eu falar vocês já saberão, não há nada de novo nos planos de Eduard.

– Não sabemos sobre o culto – disse sem pressa. Como ele funciona?

– Não é lógico para você? – Dini falava ofegante. Funciona como qualquer outro desejo, quanto maior a vontade, maior a intensidade.

– Ele está fazendo as pessoas desejarem morrer, isso vai tornar seu desejo mais fácil de ser realizado – disse Cheng a mim. Várias pessoas desejando ao mesmo tempo, a mesma coisa.

– Simples – respondi – muito simples. Por isso deve funcionar.

– Pronto, por que tiveram de vir até mim para isso? – Dini segurava o ombro, o sangue escorrendo entre os dedos e pelo braço. Mataram a pobre Lena, que só sofreu a vida toda, quando ela finalmente estava em paz, quando finalmente ela conseguiu dormir à noite, esse fantasma do passado vem tirar sua vida.

Erika estava tão ofegante quanto Dini, se excitava em ver a mulher indefesa, caída a sua mercê. Sua respiração ofegante, o sangue gotejando de seu braço, sua boca sempre entreaberta com o batom vermelho. Imaginava aquela boca em seu sexo, em pé, ali mesmo naquela parede manchada de sangue. O Vazio estava mostrando sua face para Erika e ela estava gostando.

Olhei para Cheng e apontei discretamente para Erika, que encarava Dini ainda com a arma em mãos.

– Precisamos acabar logo com isso – Cheng foi até Erika e tocou em seu ombro, a garota tomou um leve susto, sua mente desviou os pensamentos por um momento. Precisamos saber como Eduard espalha o Vazio, não o culto, mas o conhecimento.

– Os mais promissores vêm até mim e depois para Penélope. Eles se reúnem em grupos e organizam centros de meditação em que concentram seus desejos. Isso é tudo que eu sei – Dini estava piscando com mais frequência, seus olhos se fechavam por mais tempo. Eu sei o que fizeram na guerra, sei o que fizeram a Lena. Não é à toa que desejamos com tanta vontade recomeçar a humanidade.

Apontei a arma para a testa de Dini, ela fechou os olhos. Erika relaxou o braço e ficou olhando para o rosto da mulher, seu cabelo caído sobre o rosto, sua respiração lenta. Dini soltou o ferimento e também relaxou, o braço sujo de sangue caído a seu lado. Hesitei no primeiro momento, observando a respiração, depois disparei.

Erika não desviou o olhar.

...

No caminho de volta, Erika estava agitada no banco de trás, às vezes mexia no celular, às vezes mudava de acento. Puxava uma conversa fiada aqui e ali, mas não chegava a ser chata. Durante a viagem, Cheng pediu para que Hod e Franziska se encontrassem conosco na casa de Cheng, Erika sorriu ao ouvir isso.

Foi quando eu a vi sorrindo que eu me preocupei, ninguém sem sã consciência sorri após matar alguém.

Já era madrugada quando nos reunimos, Franziska estava ao lado de Hod como sua irmã costumava estar, ambos com seus trajes bonitos como de costume. Cheng preparou um chá para todos enquanto discutíamos o ocorrido, Erika não parava de encarar a amiga e vice versa.

Eu expliquei para Hod o que aconteceu e o que descobrimos, ele tornou a transformar seu rosto em um emaranhado de rugas. Era inevitável os confrontos de Hod comigo.

– Por que levou Erika ao invés de Franziska? O que estava pensando, Aquiles? –Hod bufou de raiva, quase gritando. Descobrimos nada, apenas o óbvio.

VazioOnde histórias criam vida. Descubra agora