Lembranças da Arena

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Boa Leitura.

|| Manuela Costa Brava ||

Quando vejo Natália descendo as escadas, meu sangue ferve o que essa garota está fazendo aqui, com o meu irmão? André era um idiota mesmo.

Natália cinicamente sorri pra mim, e sai da casa acompanhada por um amigo do meu irmão, que erda que tava rolando por aqui?

"Você sabe quem são eles?" Sofia pergunta

"Era um amigo, e a ex do meu irmão."

"Seu irmão já namorou?"

"Por incrível que pareça, meu irmão era um cara comportado e fiel."

"Ele namorava aquela garota?" Sofia pergunta surpresa.

Entendia bem a sua surpresa, Natália não tinha nada a ver com André e nem com o nosso mundo. Naquela época André era cego por aquela garota, até que um dia ele quebrou a cara se ferrou, mas eu o tinha avisado que aquela garota era encrenca, mas ele não me ouvia, ate hoje não ouve, por isso que continua se ferrando bonito.

"Sim, ele era apaixonadinho por ela."

"O que ela tava fazendo aqui?"

"É uma boa pergunta." Me levanto do sofá rapidamente. "A Heloísa não faz o tipo que faz escândalo né?" Pergunto preocupada

"Ela faz o tipo, que mata silenciosamente sem deixar pistas." Diz Sofia.

"Eu vou lá ver como que tá os dois." Digo indo até as escadas, mas vejo Heloísa descendo, observo bem a sua cara, mas não consigo dizer se tudo estava bem ou não. "Tá tudo bem?"

"Tudo bem."

"O que aconteceu la em cima?"

"Nada demais. Vocês já tiraram as nossas coisas do carro?"

"Ainda não. Primeiro eu vou falar com o meu irmão."

"Tá bom." Heloísa termina de descer os degraus e vai se juntar com Sofia no Sofá, que me olha sem entender nada, eu apenas dou de ombros, também não estava entendo nada. Começo a subir os degraus, e penso no que Sofia diz, Será que ela tinha razão Heloísa era do tipo que matava silenciosamente? 

Encontro meu irmão, deitado de bruços na cama fico parada no batente esperando que ele me note mas isso não acontece. "Ainda ta vivo?"

"Porque eu não estaria?" Ele responde, com a cara tampada pelo travesseiro.

"Por que a Heloísa encontrou sua ex namorada!?"

"Ela não sabe desse detalhe."

Reviro os olhos, ótimo mais essa. "Que maravilha. Você não vai contar pra Heloísa?"

"Pra quê? Só vai ser dor de cabeça. Deixa pra lá." André se senta na cama.

"O que a Natália tava fazendo aqui?"

"Não me olha, com esse olhar acusador, não aconteceu nada entre mim e ela."

"O que ela tava fazendo aqui?"

"Eu sai ontem com o Thiago, a gente encontrou com ela. Ela acabou ficando com o Thiago, que tava bêbado deixei que eles passassem a noite aqui. Nada demais."

"André você aprontou por acaso?"

"Não fiz nada." André não me olha nos olhos, não gosto disso.

"André, por favor me diz a verdade." Ele ameaça a dizer alguma coisa, Mas se cala. "Pensando melhor, não me fala nada, eu não quero saber. Se você fez alguma coisa eu não quero saber, não vou conseguir esconder da Helô."

"Meu deus Manu." André se levanta da cama e caminha até mim. "Você ja sabe né!?"

"Do que?"

"Do lance do papai."

"Você deveria ter me contado André e não ter saído daquele jeito."

"Me desculpa, eu não sabia o que fazer com o que eu tinha descobrido."

"Ele continua com o caso?"

"Não."

"Como você soube disso?"

"Eu vi uma foto da mulher, estava no escritório dele."

"E você deduziu que fosse a amante dele?"

"Eu desconfiava que tivesse tendo um caso, um tempo atrás escutei uma conversa dele com a mamãe. Depois que eu vi a foto nas coisas dele, eu o confrontei e ele me disse tudo."

"Eu não acredito que ele fez isso com a mamãe. Ela sabe?"

"Sabe." André se senta ao meu lado.

"Ela aceitou numa boa? Ela perdoou, eu nao acredito."

"Ela ama o papai."

"Mas ele não ama a nossa mãe, se amasse não tinha feito o que fez. Como você tem certeza que ele não Ta mais tendo um caso?"

"Apenas tenho."

"Não. Não vem com essa. Me fala André?"

"A mulher com que ele tinha um caso morreu, já faz um bom tempo."

"Que droga!" Exclamo, irritada. "Eu não sei como que eu vou olhar pro papai depois disso."

"Eu sinto vergonha do papai." André diz, cabisbaixo. Olho pra ele, estava pronta para um comentário nada legal, mas me calo não era o momento pra isso.

"Quando eu voltar pra Girassol, vou conversar com a mamãe."

"O que vai adiantar você falar com ela? Ela o perdoou, esqueceu o que ele fez e vive como se nada tivesse acontecido."

"Eu não posso acreditar que a mamãe simplesmente perdoou o papai por que simplesmente o ama. O amor só vale a pena quando é recíproco, e coisa que não aconteceu."

"Desde quando você entende alguma coisa sobre o amor?" André me olha, com suas sobrancelhas franzidas.

Dou de ombros. "Andei ajudando a Heloísa na livraria, dei uma lida em alguns livros, e li algo do tipo."

André se ajeita na cama, ficando com o seu corpo de frente pra mim, ele segura minhas mãos "Vamos fazer o seguinte, a gente volta pra Girassol juntos e conversamos com a mamãe juntos, ta bom?"

"Tá bom." Dou um meio sorriso.

"Isso aí." André deposita um beijo em minhas mãos

"A quanto tempo, ele tinha esse caso?"

"Quase dez anos."

Fecho meus olhos com força, estava chateada, triste e desapontada. Eu achava lindo o amor que meus pais sentiam um pelo outro, ou pelo menos achei que sentia já que tudo era uma mentira, uma fachada pra a família perfeita. Pensar no quanto minha mãe não sofreu por ter que fingir que nada aconteceu, passar por cima do seu orgulho. Será que valeu a pena?

Por que ela o perdoou? Meu pai não merecia perdão. Traição não merece perdão.

Acreditar que ela tinha feito isso por amor, me fazia querer ficar ainda mais longe de qualquer coisa que me fizesse agir por impulso de um sentimento inconsequente. Eu não queria passar por cima do meu orgulho, por cima do que achava certo por que eu simplesmente amava alguém.

O amor era uma droga, tudo que o envolvia. E eu queria distância disso.

•••