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|| Sofia Ferraz Sampaio ||

Eu tinha convencido Renato para que ele ficasse comigo observando a noite e as estrelas no capô do seu carro, jogando conversa fora quando nos aproximamos da porteira da fazenda, sabia que iria encontrar com a minha mãe acordada a minha espera não estava afim de iniciar uma discussão com a minha mãe, à essa hora da noite.

Talvez eu estivesse fugindo ou adiando o inevitável, mas não estava preparada pra ouvir o que quer quê seja que minha mãe vai dizer.

"Eu acho que você só tá aqui, porque não quer encarar sua mãe. Estou enganado?"

"Eu só não quero iniciar uma briga agora a noite."

"Então não está fugindo?"

"Talvez. Minha mãe vai surtar comigo, eu não quero nem ver."

"Você disse que seu pai te apoiava, ele vai te ajudar."

"Meu pai não enfrenta a minha mãe. Ele se cala perante à ela. Ela dá ordens, faz regras e se meu pai não concorda ele apenas se cala. Ele sabe que discutir com ela, é como se fosse uma causa perdida. Por isso não perde tempo mais "

"E o que você quer, o seu sonho é uma causa perdida?"

"Eu não sei."

"Sofia, ela é a sua mãe ela vai ficar brava no início mas depois vai te entender e te apoiar. Não se preocupa."

"Eu quero muito acreditar nisso."

"Por que é tão difícil assim você acreditar que sua mãe vai ficar do seu lado."

"Eu desapontei ela, digamos que destruir os sonhos que ela tinha pra mim. Acho que a minha mãe não vai me perdoar."

"Para de besteira, é claro que vai te perdoar."

"Meus irmãos fizeram o que ela queria. Deram orgulho a ela."

"Sério que eles realmente seguirem o que ela queria, mesmo não sendo o que eles queriam?"

"Minha irmã, queria ser atriz minha mãe disse que era perda de tempo e depois mostrou a ela que Direito era um caminho melhor pra ter dinheiro, luxo, um nome conhecido. Era profissão digna de Uma Ferraz Sampaio. E então Isadora foi pra São Paulo e se tornou uma excelente advogada. Meu irmão bom, ele queria ficar aqui ajudar o nosso pai mas acho que minha mãe conseguiu o convencer que ele precisava ser médico."

"Ou seja, eles talvez nem queriam essa profissão e é bem capaz de ter se tornado duas pessoas infelizes em suas profissões. Isso é horrível. E agora você tem que enfrentar a sua mãe pra não se tornar alguém infeliz daqui uns anos." Apenas sorrio para Renato. "Não pira antes da hora. Tudo vai dar certo." Ele deixa um beijo na minha buchecha mas não me contento só com isso eu o puxo pra mim e o beijo de verdade.

°°°

Depois de uma boa chuveirada, estou mais acordada pronta pra encarar o dia, mas nem tão pronta assim para encarar minha mãe quando saio do banho, ela estava sentada na minha cama e quando me vê se levanta e caminha até mim sem esboçar nenhum sentimento.

"Por que não atendeu minhas ligações? Por que você não voltou no dia combinado? Por que me desobedeceu,por que fez isso?"

"Bom dia mãe. Também estava com saudades." Digo.

"Me responde Sofia."

"Mãe, você sabe que eu não queria fazer a prova."

"Sofia quantas vocês vou ter que te dizer, que é o melhor pra você é a faculdade de direito, quando você terminar você entrará no escritório da sua irmã como sócia, sua irmã já é conhecida e te ajudará a ter o mesmo sucesso que ela."

"E quantas vezes vou ter que te falar, que não quero isso pra mim. Eu tenho meus próprios objetivos, e não preciso da senhora pra ditar cada passo meu, já tenho idade pra fazer as minhas próprias escolhas."

"Sofia, minha doce Sofia. O que você entende da vida? Eu quero o seu melhor. E não vou admitir que disperdice o seu tempo com coisas inúteis."

"Meus sonhos, meus objetivos são inúteis?"

"São apenas sonhos, sonhos não enche barriga não dá casa, comida, comodidade."

"Mas eu tô afim de arriscar mãe."

"Eu não vou admitir que você seja um fracasso. Essa família não cabe fracassos."

"Mãe, eu sei que a senhora quer o melhor pra mim. Mas direito não me encanta, não me dá prazer em fazer. Seja em qualquer curso que eu escolher, eu vou me sair bem."

"Eu não admito que você destrua o seu futuro."

"É a minha vida. Eu que escolho."

"Eu sou sua mãe, e não vou deixar que você destroua seu futuro."

"Você não pode fazer nada mãe, não pode me obrigar a fazer uma prova, a seguir algo que eu não quero. Você não pode. É a minha vida, eu que decido."

"Eu vou ser bem clara, se você quiser brincar com o seu futuro fique a vontade. Mas não pense que eu e seu pai irá te ajudar nisso, e que iremos assistir isso de camarote. Faça o que você quiser então, mas vai ter que se virar, sem a nossa ajuda financeira."

"Do que você tá falando mãe?"

"Direito não é o que você quer, certo. Era engenharia agrônoma que você tanto fala quer fazer, faça. Mas vai ter que se virar pra pagar as mensalidades os custos extras. Por que eu não vou deixar seu pai gastar dinheiro com você sobre esse sonho maluco."

"Você acha que me negando ajuda, vai me fazer desistir?"

"Eu espero que você abra os olhos e veja a burrada que está fazendo. Não te ajudar  financeiramente com essa bobagem irá economizar o dinheiro que estava destinado a você caso fizesse direito. Quando mudar de ideia, estaremos felizes em te ajudar." Minha mãe ajeita uma mecha do meu  cabelo, e sorri pra mim antes de sair do meu quarto. Só quando ela saiu eu volto a respirar, ainda estava processando cada palavra que a minha mãe tinha dito.

Eu não precisava da ajuda dos meus pais pra conquistar um diploma, eu ia me virar iria conseguir sem meus pais e no fim eu ia mostrar pra minha mãe que o meu sonho valia a pena.

Me sento na minha cama ainda atordoada, quando meu celular notifica uma nova mensagem. Pego o celular sobre o criado mudo.

Renato

Bom dia flor do dia.
Já encontrou com a sua mãe?

Sofia

Bom dia. Acabei de conversar com ela. Ela não gritou e nem surtou. Isso foi bom. Mas agora eu tenho outra coisa com o que me preocupar.

Renato

E o que é?

Sofia

Preciso de um trabalho.

•••

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