90

804 80 19
                                    

|| Sofia Ferraz De Sampaio ||

Eu Estava pegando no sono, quando Renato se levanta e vai para o banheiro e se tranca por lá,  me remexo na cama esperando por Renato, eu estava fazendo ele de travesseiro. Fazer do seu namorado o seu travesseiro é  melhor coisa.

A palavra namorado, me incomoda. Renato não era meu namorado e não fazia ideia se algum dia iria ser. Eu estava maluca, pensando que a qualquer momento ele iria terminar tudo o que tínhamos e que iria voltar para sua ex.

Sim, eu pensava nisso. Quem é que não pensaria nisso.

Renato finalmente sai do banheiro, e se aconchega na cama, me puxando pra perto, sinto ele me abraçando com tanta força que quase me falta o ar, estava pronta a dizer que ele estava me sufocando, mas ele começa a sussurrar contra o meu pescoço.

"Vou fazer valer a pena cada minuto que você estiver comigo. A gente vai dar certo."

Eu poderia ser uma pessoa comum e ficar quieta continuar como se  eu tivesse realmente dormindo, mas eu não iria conseguir me conter.

"Por que disso agora?  O que te fez querer botar fé na gente?"

Seu aperto fica mais frouxo. "Você está acordada?"

"Muito bem acordada." Me viro ficando de frente para Renato.

"Achei que tivesse dormindo."

"Você se levantou, fiquei sem meu travesseiro."

"Sua danada, me fazendo de travesseiro."

"Mais é claro. Mas então por que você ta botando fé na gente, agora?"

"Eu acordei pra vida. Percebi que eu ja estava seguindo em frente, mas eu tinha me desapegado do passado completamente."

"E o que fez você acordar pra vida?"

"Algo que o meu pai me falou. E por você estar aqui."

"E eu estar aqui, o que tem demais?"

"Me fez ver várias coisas. Me acordou pra realidade." Renato me surpreende, selando nossos lábios de forma selvagem e sedenta.  "Me desculpa ter demorado tanto."

"Antes tarde do que nunca." Sussurro ainda embriagada pelo beijo, não perco mais tempo e volto a beija-lo.

***

Se eu pudesse não tinha ido embora  da casa de Renato, eu me senti tão bem ali, que moraria ali com eles sem nenhum problema. Voltar pra casa seria enfrentar uma realidade na qual eu não estava pronta, eu estava cansada das brigas nas quais eu perdia sempre e que não tinha ninguém para me apoiar e me ajudar a enfrentar a minha mãe.

Mas eu estava de bom humor hoje, a noite anterior tirou todas as minhas inseguranças e neuras, realmente Renato estava comigo, ele não estava pela metade, não mais.

Por isso chego em casa com sorriso de orelha a orelha. Crente de que nada poderia me deixar mal.  Grande engano

Minha mãe estava na sala, andando de um lado para outro, ao me ver, minha mãe me olha de cima abaixo incrédula, queria saber que crime eu tinha cometido para ela me olhar desse jeito.

"Você passou a noite, com aquele garçom?"

"Bom dia Mãe."

"Não me venha, com sarcasmo. Me responda!

"Eu passei a noite, na casa do meu namorado."

"Você chama aquele moleque de namorado? Você está fazendo isso para me envergonhar, é algum tipo de joguinho de rebeldia pra me desafiar?"

"Mãe, ele é meu namorado. Um cara bacana, gente Boa, educado, honesto, e além disso tudo ele é lindo, qualquer garota iria se apaixonaria fácil por ele."

"Você não é qualquer garota. Tem um nome."

"Como se uma simples sobrenome significasse tudo. Não é assim que funciona o mundo."

"E o que você sabe sobre o mundo!? Nada. Não sabe de absolutamente nada, e não vou deixar destruir o teu futuro, por que você simplesmente quer me afrontar."

"O que te faz pensar que eu to com o Renato pra te afrontar? Eu não iria tão baixo por causa de você mãe. Eu gosto de verdade."

"E ele, gosta de você, ou do fato de você ser filha do prefeito e de que ele pode tirar proveito disso, como todos os rapazes que você se envolveu até agora?"

"O Renato não é assim. Eu sei os motivos dele, pra estar comigo."

"Você está,  apaixonada não está enxergando um palmo a sua frente."

"Chega! Ta legal? Chega com isso mãe. De agir como que você fosse Deus pra  saber de tudo. Você acha que por ser mãe, você sabe de tudo, que pode agir da forma que age, mas não é assim. Ser mãe não dá o direito de querer fazer com o que as coisas funcionam do seu jeito, da sua maneira perfeita e mesquinha. Você acha que tá sendo uma ótima mãe, mas ta fracassando nisso. Imensamente. Você so quer apontar os erros da gente, mas não ta  vendo os seus próprios erros e atitudes. Só porque o Renato tem menos que a gente, não faz dele uma pessoa interesseira. E o Conrado continua sendo o seu filho, o seu garotinho mesmo  ele sendo gay. Eu continuo sendo a sua pequena mesmo não seguindo a carreira de advogada. Os seus filhos continua sendo os seus filhos, e você não pode mudar isso, mesmo que eles não seguem o script que você escreveu. Você não é a dona da verdade."

"Eu não sou uma pessima mãe. Eu faço o melhor, o bem pra vocês."

"Sério que você acha isso? Ser uma boa mãe é um expulsar um filho de casa, só porque ele é gay? Me obrigar a ser uma advogada como a Isadora? Isso o que você faz, é o melhor?"

Vejo minha mãe mudar de postura, ela fica branca como um papel, seu olhar não estava sobre mim e sim além de mim. Olho para trás e vejo meu pai encarando minha mãe de maneira fria.

Ele não diz nada enquanto se aproxima da minha mãe, ele caminhava duro e de punhos fechados.

"É verdade o que a Sofia disse?"

"Sobre o que?"

"Que o nosso filho é gay, e que você o expulsou ele daqui?"

"Ele foi fazer faculdade. Era isso o que ele queria."

"Não. Não era isso o que ele queria. Eu sabia muito bem o que o Conrado queria, e não era ir embora daqui. Como você pôde fazer isso com ele, com o nosso filho, só porque ele gostava de homem?"

"Querido, foi melhor assim. Conrado estava muito confuso na época, ele achou melhor ir embora, ficar um tempo longe pra entender o que estava acontecendo com ele e poder resolver o seu problema. "

Eu nao conseguia entender como minha mãe podia ser tão dissimulada.
"Isso não é verdade mãe. Por que não conta logo a verdade?" Digo, eu não podia deixar meu pai ficar sem saber a verdade por mais tempo.

"Não se intrometa Sofia."

"Chega de mentiras. Me diga a verdade, você colocou o Conrado pra fora daqui porque ele é gay?"

"Eu não queria que você tivesse essa decepção com o seu único filho homem."

"Decepção? Eu não vejo o fato de Conrado ser gay como decepção. Eu vejo a forma como você agiu com o nosso filho, como uma decepção. Como Você pôde virar as costas pra ele, no momento que ele mais precisava. E me privar de apoiar ele, quando ele mais precisava de mim. Isso é uma decepção, é horrível o que você fez com ele."

Minha mãe estava sem reação, eu também estava. 

"Você não acha ruim do Conrado ser gay, pai?"

"Ele continua sendo o meu filho. E a sua orientação sexual, não muda o meu amor por ele."

Eu fico tão feliz por ouvir, que começo chorar enquanto corro para abraçar meu pai.

Minha família ainda tinha esperanças de saber como realmente é ser uma família unida.

•••

Lembranças da Arena Onde histórias criam vida. Descubra agora