|| Heloisa Brandão ||
Acordo antes que meu pai, olho para o relógio, eu tinha exatamente dez minutos para ir até a cozinha e pegar alguma coisa pro café da manhã do André. Ele estava esparramado em meio ao meu edredom Rosa, estava brava com ele, além dele se mexer demais enquanto dorme, puxa o edredom me deixando passar frio. Dava vontade de chutar seu pé quando ele fazia isso.
Vou logo pra cozinha, abro a geladeira e não me deparo com ela vazia. Hoje era o dia de fazer o mercado, missão do meu pai. Olho ao meu redor e apenas vejo uma banana e uma maçã na fruteira. Era o que tinha pra hoje.
Quando me viro dou de cara com o meu pai, ele já estava devidamente arrumado pra mais um dia de trabalho. Ele me olhava sério.
"Bom dia pai." Sorrio.
"Acho que o André deveria ajudar nas despesas, ja que ele se tornou um morador fixo daqui."
"O Que?" Me faço de desentendida.
Como que meu pai sabia, que André estava dormindo aqui? Eu não tinha pedido a Ele, porque ele negaria. Mesmo que André dormisse no chão do seu quarto, ele não ia concordar.
"Eu sei que o André está dormindo aqui. Especificamente no seu quarto."
"Como você sabe?" Pergunto curiosa.
"Bom, o teu namorado tem o hábito de comer durante a noite. Em uma dessas vezes, eu escutei ele. No inicio achei que fosse você, mas então senti o cheiro da lasanha de brócolis, e pensei a minha adorada filha, odeio brócolis. Então achei que fosse um ladrão muito abusado, que além de assaltar, vai fazer uma boquinha. Quando eu vim ver o que estava acontecendo, vi que era o André. Você me contou que ele e o pai estão brigados, o André está sem lugar pra ir."
"Às vezes ele dorme no Renato."
"É eu sei disso. Mas aposto que o André adora dormir na sua cama."
"Pai!" Exclamo envergonhada.
"Não estou bravo tá? Mas será que ele pode apartir de hoje dormir no sofá, pelo menos?" Meu pai se aproxima de mim, e deixa um beijo em minha testa.
"Eu vou falar com ele."
"E a propósito, o que ele vai fazer da vida? Ficar pra sempre nessa? Entre o sofá do Renato e aqui?"
"Ele não vai voltar pra Fazenda. O pai dele não aceita o que o André escolheu pra vida dele. Então, o André está sem teto por enquanto."
"Você já tentou conversar com ele, sobre ele parar de montar? Talvez fosse melhor, passar por várias situações, por algo que é arriscado demais pro bem estar dele, talvez não vale a pena pagar um preço tão alto assim."
"É o que ele ama pai. Ele não vai desistir."
"E você apoia isso? Mesmos sabendo dos riscos?"
Penso um pouco, não tinha porque não ser sincera com o meu pai. "Eu to traumatizada pai, às vezes eu tenho pesadelos, com ele caído naquela arena. Eu não sei se vou conseguir ver qualquer outra pessoa montando. Nem quero nem imaginar o André. Mas o que eu posso fazer? Ele ama isso, e não vai parar."
"Já que ele não vai parar, e não tem onde ficar. Vou ajuda-lo a dar um jeito nisso."
"Como?"
"Vou conversar com a mãe dele."
"Pra Que?"
"Ela tem condição de ajudar o filho a ter um lugar pra morar."
"O André não queria pedir ajuda da mãe. Acho que ele estava envergonhado por não saber se virar sozinho."
"As vezes temos que passar por cima de algumas coisas. Ele tem que aprender a fazer isso."
"É, ele tem."
"Eu tenho que ir. Meu dia está cheio hoje. Depois eu te ligo contando como foi com a Marisa."
"Tá bom." Ele ja estava saindo da cozinha, quando eu torno a falar. "Pai?"
"Sim?"
"Você acha que ele aceita ir comigo naquela viagem que eu estava programando fazer?"
Meu pai, se aproxina de mim "Você ainda pensa em fazer essa viagem?"
"Claro que penso."
"Desde que você fez novas amizades, e tudo mudou na sua vida. Você não tocou mais no assunto. Achei que tivesse desistido." Meu pai, ainda tinha esperanças, que eu desistisse do que meu pequeno sonho. Que era mais um último desejo da minha mãe que deveria ser realizado.
"Eu só estava esperando o momento certo."
"E agora é?"
"Acho que sim. Eu não queria ir, e deixar ele. Queria ele fosse junto."
"Convide ele. Quem sabe ele aceita."
"É talvez aceite."
"E se ele não aceitar?"
"Não sei." Dou de ombros.
"Lembra que você ainda tem todo o tempo do mundo."
"A mamãe sempre me dizia que queria fazer essa viagem, quando eu completasse 21. Tá chegando pai."
"Eu sei disso. Eu só espero que o André vá junto com você. Assim ele cuida de você."
"É mais provável que eu tenha que cuidar dele."
"Ah claro." Meu pai ri. "Tenho que ir."
"Tenha um bom dia."
"Juízo vocês dois."
Sozinha com os meus pensamentos, fico insegura de André não querer ir comigo. E se ele não fosse como que iria ser?
Não era uma viagem demorada, quando eu era pequena minha mãe vivia dizendo que tinha vontade de conhecer vários lugares pelo mundo, ela ficava encantada quando dizia que um dia iria fazer a tão sonhada viagem. Eu também ficava encantada, e dizia a ela que queria que ela me levasse junto, no início ela dizia, que iria pensar, que uma viagem dessas teria diversos gastos ainda mais levando uma criança. Até que um dia, ela tinha me dito, ou melhor prometido que quando eu completasse 21, a gente iria viajar.
Só eu e ela.
Eu fiquei tão feliz, comecei a contar os dias, realmente. Mas então teve o acidente, e tudo desmoronou. Até que dois anos atrás resolvi realizar esse desejo da minha mãe. Conhecer vários lugares diferentes, cidades novas, culturas, O idioma. Tudo!
Comecei refazendo o roteiro que a minha mãe tinha começado, tirei alguns lugares, coloquei alguns que eu queria conhecer. E Então estava tudo sendo organizado, pesquisei hotéis, pousadas, os passeios que ia fazer. Quanto tempo que iria ficar nos lugares. Mas então conhecia as garotas, me apaixonei pelo André. E a viagem ficou um pouco pra trás.
Mas agora estava na hora, eu tinha que fazer essa viagem. E queria que o André fosse junto, mas tinha medo dele não querer.
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Lembranças da Arena
RomanceLIVRO #1 A vida é cheio de ironias. Cheio de idas e voltas, como falam por ai, o mundo é pequeno afinal. E o destino fez o favor de unir três garotas. Um elo que começou em uma situação inusitada. Heloisa, Sofia e Manu Moram em Girassol, uma...