Noite n° 1/1

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Entre todos os dias que vocês já viveram qual deles você arriscaria escolher para ser seu último dia de vida?

Sua opção seria aquele dia horrível, onde tudo deu errado. Mas o último deles seria o seu próprio aniversário.

Mas até que seria mais fácil para lembrar que dia você morreu.

Olhei pela janela, as árvores batiam umas nas outras, os últimos raios solares sumiam entre elas, podia ouvir as cigarras cantarem recebendo a noite. Fiz um esforço para levantar da cama , conseguia ouvir meus ossos estalando ao me levantar, eu estava totalmente esgotada tanto fisicamente como psicologicamente. Meu pensamento se concentrava naquilo que me perseguia na floresta.

Uma sensação estranha percorreu minha espinha, minha familia estava ali junto com aquele estranho e eu não podia fazer nada, ninguém iria acreditar em mim, até eu mesma duvidava do que vi nessas ultimas horas.

"venha"

Me perguntava para onde ele queria que eu fosse, aquela voz penetrava minha mente tentando identificá-la de alguma forma.

Meu reflexo se formava no espelho, eu estava com a mesma roupa de banho que havia ido a cachoeira, decidi que era melhor toma um banho antes de ir jantar. Peguei minha toalha e fui em direção ao banheiro, que era antigo e meio rústico, havia armários de madeira com uma pia pequena e um espelho envelhecido, nele eu parecia estar tão cansada quanto eu realmente estava. Comecei a me despir quando de repente notei uma foto estranha perto da pia, minha mão tocou em um papel rígido e frio, para minha surpresa uma assustadora foto de fundo branco tinha um homem grande vestido de preto com uma máscara de lobo.

-- O qu...

Meu coração falhou por um segundo, minha voz travava ao tentar falar, o som de uma rajada de vento ecoou lá fora, podia ouvir galhos se quebrarem ao tocar o solo. Ao levantar o olhar para o espelho meu corpo congelou, fechei meus olhos fortemente com medo de ser uma ilusão , mas eu conseguia sentir sua respiração na minha nuca, tão rígida e fria enquanto meu corpo tremia de aflição, finalmente criei coragem de abrir os olhos e o mesmo homem da foto desapareceu em um piscar de olhos.

A foto deslizou da minha mão como uma geleia, involuntariamente meu corpo me moveu para frente.

Minha pressão.
Presumi.

Um homem tinha acabado de aparecer atrás de mim e simplesmente sumiu, o que eu podia esperar da minha sanidade depois disso? Dentro do meu consciente eu só implorava para que parasse, eu só tinha passado um dia naquele lugar e minhas feições já eram psicóticas! Meu olhar era vazio, meus cabelos desgrenhados demonstravam meu total descaso com minha pessoa. Naquele momento meu desejo era ir pedir para Paul ligar o carro e sair dali, mas meu outro desejo era mostrar que nada tiraria minha sanidade outra vez.

Toc-Toc.

--Minha querida? Está tudo bem?

A voz de minha mãe atravessou a porta de madeira, já desgastada pela umidade e cupins.

Era bom ouvi-la, saber que existe um porto seguro no mundo real era o que me mantinha firme no meu propósito de ser alguém normal.

--Está sim, mãe. Obrigada.- minha voz falhou , como um choro engasgado.

Por um minuto pude sentir aquele silêncio golpear meu peito várias vezes, ela sabia que tinha algo errado, mas preferia esconder de si mesma.

-- Tudo bem, filha. O jantar vai estar pronto em 10 minutos, se apresse, você sabe que a vovó gosta da família reunida para comer.- pude imaginar seu olhar frustrado quando mencionou a "família reunida", mas não quis questionar.

--Ok. Já estou indo.

Os passos dela eram entregues pelo barulho do chão de madeira velha.

A água caía sobre meu rosto com uma suavidade majestosa, meus olhos observavam as gotas caírem sobre mim.
A pele é o maior órgão do nosso corpo, umas de suas funções é a impermeabilidade, a água cai sobre sua pele e simplesmente desliza e leva consigo as impurezas, eu queria que a água levasse consigo todos o meus medos como ela faz com a sujeira.

Meus pensamentos viajaram para a aula de biologia.

****
-- Se existe uma anatomia humana considerada perfeita, seria a sua.

Tive que segurar meu riso.
"Que cantada barata!"
Pensei.

-- Você é horrível nisso, Aaron!- abafei meu sorriso entre as mãos.

O professor direcionou o olhar para nós com raiva, Aaron estava colado ao meu ouvido , mas logo se endireitou na cadeira e me cutucou.

Virei discretamente para não atrair a atenção do professor, ele me entregou um papel dobrado.

"Como você pode ser tão linda?
Para me explicar disque: 5687-2345
Ou você pode dar um beijo no seu namorado bonitão depois da aula, disque 1 para confirmar, disque 2 para ter certeza."

Ele conseguia conseguiu roubar aquele sorriso bobo, como todos os dias. Meu rosto enrusbesceu, porém sem notar o professor tomou o papel das minhas mãos.

-- O que eu disse sobre papelzinho na minha aula?!- ele advertiu para a turma.

Me enchi de vergonha e me enterrei na cadeira quando ele começou a falar a o que estava escrito no papel para toda a turma.

-- O senhor não tem direito de fazer isso! - Aaron levantou a voz para ele na tentativa de me defender.

As pessoas riam, zombavam do romantismo feito pelo Aaron, mesmo sendo totalmente vergonhoso também era fofo vê- lo me defendendo.

-- Eu tenho todo direito, vocês estão na minha aula e adverti sobre esse tipo de coisa!- ele foi até a lata de lixo e jogou meu papel no lixo.

Não sei o porquê, mas a raiva que eu estava sentindo me fez levantar, pegar o pincel do professor e escrever no quadro : "Disquei o n° 2". Eu virei para o Aaron e ele estava com sorriso travesso em direção a mim. Elê tinha entendido o recado.

-- Vamos?- pisquei para ele e peguei minha bolsa. - foi um prazer estar na sua aula, mas nós temos que atender meu pedido. Tchau prof.

Peguei o Aaron pela manga da camisa e o puxei o mais rápido possível antes que o professor tivesse notado a loucura que eu tinha acabado de fazer. Só pude ouvir um grunhido de raiva atrás de nós, olhei para Aaron, o corredor estava vazio, sem dizer uma palavra corremos corredor acima em busca do melhor beijo possível.

****

Venha Até Mim (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora