Noite Final part.II

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Foi tudo tão rápido que eu mal pude reagir.

Aaron saiu do banheiro empunhando a faca. Christopher ao notar isso partiu pra cima dele. Mesmo machucado, ele conseguiu retirar a faca da mão de Aaron e o imobilizou com uma chave de braço. Vi ele segurar algo contra a cabeça de Aaron.
Era uma arma.

Eu me desespero ao reparar nisso. A minha mãe escancara a porta, mas quando nota que Christopher está apontando uma arma para cabeça de Aaron, ela derruba a faca no chão e levanta as mãos.

— Por favor, solte ele. - ela suplica.

Vejo o terror nos olhos de Aaron, ouço Max arquear de dor, vejo a força de Christopher através da máscara. E eu só conseguia ficar paralisada.

— Vamos, Madeleine! Me diz, o que eu devo fazer? Mato ele? Um sinal e eu atiro, com prazer! - ele grita com a voz um pouco falhada. Ele aperta a arma com mais força.

Antes que eu pudesse dizer algo, Max pega minha mão. Eu estava ajoelhada perto do seu corpo caído.

— Mate esse desgraçado. - diz ele, muito fraco.

Max tira da calça uma arma, de forma discreta ele passa para a minha mão. Ele estava muito fraco, sangrando muito, eu tinha que salvá-lo, mas naquela situação eu não conseguiria. Eu fico trêmula ao sentir o choro vindo.

Ele deu um meio sorriso e piscou pra mim.

Eu fecho os olhos com força,. As lágrimas caem dos olhos que estavam lacrimejando a muito tempo.
Ele ia morrer. Eu não conseguia suportar. Tudo que passamos juntos, todos os sentimentos confusos, todas as lembranças, as alegrias... estava indo embora com a vida dele.

Meu coração se enche de coragem. Algo dentro de mim faz um estalo, eu me sinto quebrada em pedaços minúsculos, impossíveis de serem reconstruídos.
Eu levanto e aponto a arma a arma em direção a Christopher.

— Olha só, o que temos aqui. Vamos, atire nele...- ele vira para minha mãe.- Melhor, mate ela e eu mato ele. Assim todo mundo sai feliz. - ele começa a rir freneticamente.

— Vamos! Mate ela! Você odeia ela, lembra?? Lembra de como ela te internou naquele hospital? A força ! Não acreditou em você, não confiou em você. Te traiu! Te chamou de louca! Ela odeia você ! Ela merece morrer...

Um interruptor permite a passagem da energia elétrica. Foi assim que eu me senti ao escutar aquelas palavras. Ele tinha ligado um interruptor na minha mente. Algo inexplicável, um sentimento de raiva, de ódio, de desespero.

Eu direcionei a arma. Apontei ela para minha mãe.
Os seus olhos arregalaram, ela me olhou confusa.

— Não, Madeleine! Não escuta ele! Ela é sua mãe! Você a ama! - Aaron se desespera. Mas Christopher aperta o braço com mais força em volta do seu pescoço.

— Cala a boca. Não vê que isso é assunto de família? Que inconveniente.

As palavras de Aaron ecoam na minha mente, assim como as de Christopher. Minha mão tremia. Eu sabia que não devia atirar, mas algo me controlava.

— Filha...- ela disse calmamente.- Abaixe essa arma. Você sabe quem é o verdadeiro inimigo.

Sim! Claro! Eu sei quem é o verdadeiro inimigo!

Eu fechei os olhos e escutei aquelas palavras na minha mente.
Desde sempre, eu fui atormentada por demônios internos. Que não me deixavam dormir, me tiravam a sanidade.
As pessoas me olhavam torto, torcendo o nariz como se a qualquer momento eu pudesse surtar. Tudo era intenso demais dentro de mim. A minha intensidade afastou pessoas, prejudicou outras e me feriu.
Eu causei meu próprio declínio.

Eu pus a arma contra a minha cabeça.

— Deixe eles irem embora. Ou eu me mato.

Christopher parece surpreso e demora pra responder. Posso ver Aaron derramar algumas lágrimas e negar freneticamente com a cabeça.

— Não! Não! Filha! Não faz isso! - minha mãe se desespera e ajoelha implorando. Ela estava em prantos.

Nada mais importava do que aquilo. Manter eles vivos. Eu já havia sofrido perdas demais, perdas que nunca seriam revertidas. Eu iria viver com aquela dor para sempre. Era tentador puxar o gatilho. Na verdade, quase obrigatório.

— Você não seria tão idiota...

Pela primeira vez, vi Christopher não ter uma resposta afiada. Era como se ele tivesse ficado intrigado, como se fosse A única coisa que ele não conseguiu previr que eu fizesse.

— Como poderia viver, se você quer tirar tudo de mim? - pergunto. Com a voz trêmula, quase um choro.

Ele então solta Aaron.

Eu volto a respirar. Ele havia cedido.

Ele continuou apontando a arma para o Aaron, que ficou ao lado da minha mãe.

— Corram.- ele disse com firmeza.

Eu olhei para eles dois.
Há anos atrás o meu olhar seria outro.
Mas lá estávamos eles, juntos. Os dois se amavam. E agora tinham as chances de viver, juntos ou não, tinham a chance de viver.
Eu me sentia destruída. Tanto que aquela traição apenas me beliscava.

Eles me olharam e eu afirmei com a cabeça. Alguém tinha que viver.
Pra mim já não valia mais a pena.

Então eles saíram. Apenas correram.
Eu suspirei e abaixei a arma.

Christopher virou para mim.

—  Você fez a escolha errada. O amor te deixou cega. E isso, querida, vai te custar muito caro.

Venha Até Mim (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora