Minha cabeça sempre foi uma confusão. Pensamentos fora da realidade sempre estiveram comigo. Mas eu sei que aquilo foi real.
Sai do quarto meio zonza, tentando compreender o que havia acontecido, eu estava apavorada e sem chão porque sabia que pedir ajuda era em vão. Sempre foi nessa família.
Vejo Aaron na porta da sala vindo em direção a mim. Sem a menor noção do quanto eu estava desestabilizada, eu desabo no chão aos prantos. Essa sensação de impotência, de dor por não ter credibilidade, de não ser o que queriam...isso e dilacerante.
Ele corre até mim e me acolhe nos braços no chão.Como nos velhos tempos.
- Shhh...vai ficar tudo bem. Eu to aqui com você, não chora.- ele sussurra enquanto me balança lentamente.
Só de ouvir essas palavras eu choro ainda mais, são como facadas em meu peito. Ele mentia pra mim, não ia ficar tudo bem e ele não estava comigo. Mas eu não consigo me livrar do seu calor, do seu falso consolo... eu deixaria ele fingir por toda a eternidade só pra ter a ilusão do seu amor.
- Por que você me deixou?- viro para ver seu rosto e escutar finalmente a verdade.
Ele nega com cabeça, vejo lágrimas nos seus olhos.
- Dessa forma não, Madeleine. Eu não quero te machucar mais.
A tristeza me afunda quando sinto pena nas suas palavras, a culpa o consumia, ele estava aqui por isso.
- Então o que você está fazendo aqui? Por que veio reviver tudo isso? - a raiva tomava conta das minhas lágrimas
Vejo que ele nega a me dar respostas e levanto.
- Você não tem nada pra fazer aqui, vai embora!
Ele continua no chão , imóvel. Isso me irrita tanto que eu empurro ele e ele cai deitado e puxa meu braço, caio encima dele.
- Vai embora- digo lentamente chorando.
Ele pega meu cabelo e põe atrás da orelha. Estamos deitados no chão frio dessa madeira velha. Como dois jovens que já se amaram profundamente, mas os pecados do homem impedem ele de ser feliz. Nós impedimos um ao outro de sermos felizes.
Tudo parecia ter sumido, o medo e a impotência não eram mais nada enquanto aqueles olhos azuis me consumiam.
Ouço um barulho alto de lataria amassando,Escuto gritos do lado de fora da casa e me assusto. Será que é ele??? Levanto o mais rápido que posso e corro pra fora. Grito do susto que levo, um lobo morto está caído encima do carro de Aaron, tem sangue para todos os lados. Tem uma flecha cravada no animal.
Escuto minha mãe dizer pra eu me afastar, mas a voz dela é abafada, a floresta está silenciosa, os murmúrios são zumbidos. Vejo aquele animal me hipnotizar, caminho até ele ignorando todos os perigos. Sinto meu corpo ter vida própria. Venha até mim.
Por incrível que pareça, o animal tinha um cheiro bom. Ele cheirava a alfazema. Vejo a flecha reluzir, meus olhos percorrem o corpo da flecha e vejo um clip dourado prendendo um papel, os pego e vejo as mesmas inicias do relógio de bolso que encontrei no rio.
C.L.
Sinto meu corpo estremecer , com uma letra firme e grossa vejo um recado no papel:
Só eu posso decidir quem vai embora
Não seja idiota, você está sozinha.
Ele veio por outra mulher.
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Venha Até Mim (Concluído)
Misterio / SuspensoLIVRO 1 O que o passado pode esconder? Essa é uma pergunta que rodeia os mais obscuros pensamentos da jovem Madeleine. Uma garota que junto da sua família vai passar o final de semana em uma casa na floresta, da pequena cidade de Bosque Livre. Des...