Venha Até Mim (Concluído)

Aprisionados

O tempo estava frio. À beira da lareira, meus olhos fitavam a lenha queimando lentamente, como uma vida que tem um começo e um fim. Eu estava apavorada com o que estava por vir , mas ainda sim meu coração estava cheio de coragem, como nunca tinha sentido antes.

- Devíamos ter insistido mais... talvez ela estivesse viva.

Dou um sobressalto quando Alex surge ao meu lado.

Com tudo que tinha acontecido eu esqueci completamente do irmão de Rose, ele devia ser o que mais estava sofrendo nessa história.

- Alex... eu sinto tanto, quando percebi o que ele...- minha voz falha - eu tentei ajudar.- as lágrimas finalmente vieram, eu ainda não tinha chorado depois de tudo que tinha acontecido, eu queria dar força a todos, mas com. Alex ali. Me senti responsável .

Ele pôs a mão no meu ombro e me olhou.

- Eu sei que fez o que poderia. Não se culpe.

Senti um clarão em meus pensamentos. Alex sabia muito antes de mim, tudo que estava acontecendo .

- Alex, como você sabia disso tudo? Você o viu? Ele apareceu pra você ?- olho com súplica pra ele.

Seus olhos azuis brilham com o reflexo do fogo

- Eu o vi em meus sonhos, ele ficava repetindo seu nome, que queria você , que queria nos matar. Eu achei que era só um pesadelo ,mas comecei a ter ilusões em plena luz do dia. Eu sei que por aqui, eles- ele olhou pra trás, procurando alguém- nossa família está guardando um segredo, que pode ter causado tudo isso.

Fico apreensiva, lembro dos sonhos e ilusões que tive. Alex também estava tendo e o pior, tinha segredos envolvidos.

- O que será que pode ter ocasionado isso? - pergunto

Ele nega com a cabeça tristonho

- Eu não faço ideia, mas o Christopher joga o que ele quer jogar. Vamos saber se ele quiser saber.

Meu coração gela. Christopher. Esse era seu nome?

- Esse é o nome dele? Como você sabe disso? Você parece ... ser íntimo dele. Ele matou a sua irmã !- falo apreensiva

Ele abaixa o olhar

- Ele me disse seu nome, eu sei que parece loucura, mas tudo tem um propósito.

Ele se levanta e sai da sala

Fico incrédula, ele parecia... gostar dele. Um assassino, que tirou a vida da Rose, que agora pode matar qualquer um de nós, inclusive ele.

Suspiro e vejo a lareira antes barulhenta, agora silenciosa como a floresta em volta de mim. Me pergunto se ele está por perto.

- Crianças, os avós de vocês estão dormindo, eu dei um calmante a eles. Eu também tomei, se vocês quiserem tem no armário, precisamos dormir pra decidir como sair dessa situação mais cedo. Mas prefiro que alguém fique acordado, de alerta.- minha mãe fala ao dirigir-se a nós.

Aaron levanta e segura o braço dela, ajudando-a a se manter de pé. Sinto algo dentro de mim fervilhar, a desconfiança tomava conta de mim. Eu via tanta ternura no toque dele.

- Ahn... obrigada.- ela agradece sobrepondo a sua mão na dele.
Alguns tempos atrás algo assim seria normal pra mim, afetividade era uma coisa normal entre nós. Mas agora tudo parecia malicioso.

- Vocês dois transaram? - minha cabeça lateja, a pergunta foi totalmente involuntária, eu queria perguntar, mas não queria ao mesmo tempo.

Vejo os olhos de mamãe dilatarem, a surpresa toma conta do seu rosto que agora estava vermelho.

- Que isso, Madeleine?! De onde tirou isso?- sua voz falhava como se quisesse chorar. A culpa recaia sobre ela.

- Madeleine... - Aaron começou a falar como se fosse confessar tudo, mas minha mãe o impediu.

- Não ! Não aconteceu nada entre a gente- ela se afasta abruptamente dele e sai do cômodo.

O clima extremamente pesado cai no ambiente.

Aaron olha pra mim esperando meu próximo passo.

- Como vocês puderam fazer isso comigo? - sinto meu corpo queimar por dentro, a raiva me consumia.

- Eu sinto muito ! Eu não tenho culpa! Eu amo ela, eu não consegui me livrar de sentir isso! Quando... quando você foi internad...- eu o interrompo

-Quanto tempo?! Você nunca me amou? Só se aproximou de mim por causa dela?!

Max aparece na sala, entra com a expressão de quem não estava entendendo nada

- O que tá acontecendo ? Por que vocês estão gritando?- ele pergunta e olha pra mim,devia parecer estar devastada porque ele vem para o meu lado e pergunta se eu estou bem.

- O que foi? Você está bem?- ele põe a mão na minha bochecha.

Aaron bufa e repreende.

- Isso não tem nada a ver com você ! Então não se mete!

Max olha pra mim ignorando o comentário imbecil de Aaron. Ele estava se controlando por mim.

- Tudo que tem a ver com a Maddy, tem a ver comigo .- ele disse ainda me olhando.

- Max... eles dois estavam transando, acredita nisso?!- minha voz começa a choramingar.

Ele abaixa os olhos e Aaron fala rapidamente.

- Ele sabia. Eles nos viu a alguns meses atrás, foi por isso que terminei com você. Foi uma condição dele para ele não contar nada a você.

A traição me dá um soco na barriga, sento atordoada. Talvez todos sabiam disso e me esconderam. A minha própria mãe me traiu, o meu namorado me traiu, o meu amigo me traiu...

- Não acredito nisso... - Digo incrédula.
Max tenta se aproximar e eu o repudio.

- Não ! Não toca em mim! Eu nunca fiquei tão decepcionada na minha vida, vocês acham que eu sou o que? Uma idiota?! AGORA ME FALA CARALHO! - viro para Aaron- VOCE ESTÃO FAZENDO A QUANTO TEMPO?!

- Eu te amava Madeleine, te amava muito, mas quando você foi internada, nos afastamos muito , você mesma me afastava lembra? Eu passei muito tempo com a Lúcia, acompanhando sua recuperação, nós ficamos...próximos. Ela se sentia muito culpada, eu também ... até que o Max nos viu e mandou eu terminar com você e com a Lúcia. Eu não queria te abandonar naquela clínica, ainda tinha um carinho enorme por você, mas sei que sofreria mais se descobrisse tudo. Desde então eu não te vi, não vi a Lúcia, mas ainda a amo.- ele andava de um lado para o outro tentando explicar o inexplicável.

Doía tanto ouvir ele dizer que a amava, agora todas as lembranças que eu tinha com ele estão distorcidas pela raiva.

Antes que eu passe falar alguma coisa escuto o grito da minha avó e um barulho estrondoso abafado pelo interior da casa

Não há tempo para pensar, corremos para defendê-los, mas com medo do que está por vir.