Calor indesejado

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Abri os olhos devagar, aos poucos minha visão foi identificando o lugar onde eu estava.

Eu estava deitada sobre um colchão, a minha visão inicial era um telhado escuro e velho. Ao tentar enxergar ao meu redor, percebo que estou numa cabana pequena, estava muito escuro e aos poucos comecei a sentir minha perna latejar.
Meus olhos percorreram minhas pernas até chegar numa atadura envolta da minha panturrilha. E provavelmente eu estava sob efeito de algum remédio, eu sentia dor, mas era leve, bem diferente do que senti antes de cair no chão.

Ao tentar me mexer mais ,escuto o som de correntes e noto que uma das minhas pernas está presa em um grilhão. Eu estava presa.
Sinto uma tontura repentina e deito a cabeça no colchão, eu estava muito lenta, o telhado de vez em quando girava e eu gemia baixinho de dor.
Tentava concentrar meus pensamentos de como vim parar ali, do por quê me tornei sua prisioneira.

Mas nada me fazia lembrar.
Comecei a suar frio, sentia meu corpo queimar. Minha cabeça girar, devo ter começado a balbuciar involuntariamente. Meus olhos começaram a ficar pesados e tudo ficou embaçado.

Parecia ser o meu fim.

Como se eu não tivesse mais controle sobre meu corpo ou minha própria vida.
Não tinha mais forças, não parecia haver luz em nenhum desses caminhos que eu havia escolhido. Havia escuridão e lá estava eu, morrendo no lugar mais escuro que poderia existir.

Eu não pude evitar de dizer eu te amo a todos que eu amava.
Eu tentava falar na esperança de tocar o coração deles, mas nem sequer sabia se ainda estavam vivos.

Poderia ser ironia do destino, mas eu vi uma luz.

Ela começou pequena, mas se expandiu, era fraca, mais tão fraca que mal pude ver. Mas eu vi e não pude conter um riso tristonho.

Uma silhueta negra entrou na frente da luz.

- Droga. Você está ardendo em febre.

Eu não conseguia vê-lo, mas sua voz era inconfundível, estridente e voraz.
Então eu estava com febre, eu devia estar com uns 40C* pra estar tão fraca.
Não consigo falar. Mas antes disso, sinto a água extremamente gelada cair sobre meu corpo. Meu coração dispara e eu grito.

- Ahhh!

Eu desperto num pulo, sinto minha pele se contrair pelo choque e respiro ofegante. Ele havia jogado água gelada em todo o meu corpo de uma vez, eu poderia ter morrido.

- Você tá louco?! Iss...isso... pod..eria ter mememe... matado! - digo tremendo o queixo de frio.

Estreito os olhos para vê-lo melhor, ele ainda estava com a máscara de lobo e a pose firme. Ele jogou o balde de água para o lado e tirou a jaqueta, revelando o tronco de um homem comum. Um homem comum. Poderia ser qualquer um.

- Eu duvido, era mais fácil morrer de febre. Vem cá. - ele se aproxima e põe a jaqueta dele envolta do meu corpo encolhido.

Eu recuo com sua aproximação, não queria chegar perto dele, muito menos que me tocasse. Ele ignora minha hesitação e me enrola na jaqueta a força.

- Você quer morrer de hipotermia? Não seja mais idiota do que já está sendo.

Eu sorri com sarcasmo, foi ele que me perseguiu, que atirou uma flecha em mim e ele está preocupado comigo?

- Por que se importa? Não foi você mesmo que me botou nessa situação?

Ele se afasta , pega uma cadeira velha e senta nela em frente ao colchão que eu estava. Fica de frente pra mim. Ele era grande, até seus movimentos mais simples eram rudes e curtos. Sua fala era curta e grossa. Como um pisar forte.

Venha Até Mim (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora