Livre?

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Ao passar o grilhão de volta no meu tornozelo eu senti a dura realidade de ser prisioneira.

Tínhamos voltado em silêncio. E ele permaneceu assim. Com aquele ar superior, rude. Perto dele eu só sentia raiva, confusão, nojo. O único medo que ele me fazia ter era de ter controle sobre mim, mas eu tentava desesperadamente impedir isso.

Antes de se levantar e sair, ele passou um dedos subindo pela minha perna. Notei uma certa frequência naquele tipo de toque, como se fosse algum tipo de código. Como se tivesse significado.

- Você já fez isso várias vezes... o que significa? - pergunto intrigada

Ele levanta e se aproxima de mim. A sua máscara está bem próxima do meu rosto e eu a encaro. Ele passa as mãos pela jaqueta dele, que eu estava usando, e a tira do meu corpo.

- É uma forma de conexão. - ele põe a jaqueta no corpo dele.- Acho que não vai mais precisar disso.- disse ele se referindo a jaqueta.

Na verdade ainda estava frio e com certeza a noite estaria muito mais. Mas eu não quis discutir, só queria que ele fosse embora. Ele se dirigiu à porta, mas parou por um instante.

- O que foi? - pergunto

Ele apenas me ignorou e saiu da cabana.

Ele tinha tantas atitudes incoerentes e contraditórias. Como foi capaz de fazer tantas maldades desde tão jovem? Isso não entrava na minha cabeça.

De repente lembro da minha família. Será que estão bem?
Mas logo em seguida sinto uma raiva estranha subir pelo meu peito. Eu espanto aquela sensação e me mexo na cama.

Escuto a corrente se desprender do meu pé e eu olho assustada. Eu estava livre do grilhão. Como ele não se certificou disso?

Eu não penso duas vezes e levanto com dificuldade. Ia ser difícil correr com a perna machucada, mas talvez eu nunca tivesse uma chance como aquela. Eu espero alguns minutos para que Christopher se afaste mais, não queria correr o risco de esbarrar nele.

Ao caminhar em direção a porta algo me chama a atenção.
Havia uma foto nova lá, pois eu não lembrava de ter visto ela.

Era uma foto minha sorrindo com meu cachorro.
Lembro que meu pai tirou essa foto, eu devia tá com 16 anos.

Eu tiro ela do mural e vejo que um recado no verso da foto.

" O sorriso dela é a coisa mais linda que meus olhos já viram."

Eu estremeço ao reconhecer a letra. Christopher havia escrito aquilo. Se tinha naquela foto, deveria ter em outras também. Eu pego uma foto minha com Aaron e leio o recado no verso.

" Aproveite enquanto pode."

Eu sinto meu peito se inflar de raiva e eu tiro todas as fotos do mural com desespero. Pego a maior quantidade que minha roupa conseguia guardar e eu saio da cabana. Eu não podia deixar ele continuar desfrutando daquelas fotos.

Vejo que não faço ideia da direção que eu deveria correr. Eu escolho um caminho e corro o mais rápido que consigo.

A adrenalina retorna aos meus pulmões e eu impulsiono. Aquela esperança de sair viva, de salvar todo mundo retorna e eu me sinto viva de novo. O som da floresta me anima, as flores me encantam e eu corro sem sentir dor.

Seja esperta, você sabe o que tem que fazer

A voz de Christopher, na minha cabeça, me faz parar de correr abruptamente. Eu viro para os lados em busca de algum sinal dele, mas não vejo nada.
Percebo que ele sabe que eu fugi e não parece querer me impedir. Isso bagunça minha mente, mas eu preciso encontrar minha casa o mais rápido possível, por isso volto a correr.

Depois de alguns minutos eu encontro a estrada principal. Eu dou um sorriso de alívio e respiro fundo. Corro pelo corpo da estrada assim como naquela noite em que sai de casa em busca de um telefone. O vento agora mais quente cobria meu rosto cansado. Eu diminui o passo quando avistei de longe a casa que estávamos.
Eu dou um leve sorriso e caminho até lá.

Ao caminhar, penso em Christopher. Ele não viria atrás de mim, ele não prendeu aquele grilhão no meu tornozelo. Ele quis que eu fugisse. Agora o motivo, pra mim é uma completa incógnita.

Me aproximo e com um choque eu vejo o corpo de Rose caído ao lado da casa, no mesmo local que estava tendo a minha festa surpresa. Meu estômago embrulha e lágrimas se formam nos meus olhos. Ela tinha ficado aqui fora, sem vida. Ela foi reduzida a apenas um corpo inerte.

- MADELEINE?

Escuto a voz forte de Aaron e viro para procurá-lo. Ele estava na porta da frente, com um olhar assustado. Mas logo abriu um sorriso enorme.

- Você está viva! Vamos, entre logo! Meu deus, você está viva!- ele dizia com empolgação, parecia não acreditar que estava me vendo.

Eu me aproximo e ele me abraça com força. Essa aproximação fez meu corpo arrepiar, meu cérebro dizia que eu não devia abraçá-lo.

- Você tá viva! Eu...eu achei que tivesse te perdido. - ele disse perto do meu ouvido ainda me abraçando.

Eu ignoro as suas palavras e me afasto.

- Sim, estou viva.- eu me direciono para dentro da casa e ele fecha a porta. - Ah, por favor, evita se aproximar muito.- digo para ele.

Aaron me olha confuso e preocupado, ele parecia querer dizer mais algo, porém a minha mãe aparece e me agarra num abraço.

-Filha!! Você tá aqui! Jesus, achei que você tinha morrido! Aí que alívio, meu Deus.

Dessa vez a minha cabeça gira. Eu a abracei de volta, mas eu me sentia extremamente desconfortável.

- Eu estou bem, mãe. Agora, se afasta ,por favor. Eu não quero que ninguém toque em mim.

Ela me solta e me olha com preocupação.

- O que ele fez com você ? Ele te violentou? Por que não quer que eu toque em você ? O que aconteceu lá fora?! - ela se apavora e eu recuo para longe.

As perguntas dela me deixam atordoada. Eu não sabia que reação era aquela que estava tendo. Mas era quase instintivo ficar relutante com a aproximação deles.

- Maddie?! Meu deus, você tá viva! Puta que pariu! - Max me envolve num abraço emocionado. Na verdade, todos pareciam emocionados, eu pude sentir ele chorando no meu ombro.

Toda aquela emoção tocou meu coração. Eu estava tão feliz de ver eles vivos, de estar de volta, de não estar mais presa. Eu me deixei levar pelas lágrimas de Max e suspirei. Era uma confusão de sensações, sentimentos.

- O que aconteceu com você?! - ele se afasta e enxuga as lágrimas.

Eu dou um passo para trás em busca de espaço entre eles.

- Ele conseguiu me impedir de chegar a colina, me feriu.- eu apontei para a perna enfaixada- Depois me prendeu num grilhão em alguma cabana na floresta...- eu hesito em falar o que ele fez comigo.

- O que ele fez com você?- minha mãe pergunta, quase implorando.

- Eu estou bem, já passou. O que eu posso dizer é que o que estamos enfrentando é muito perigoso e é pessoal. Ele não vai desistir, assim como nós também não.- digo firmemente.

Venha Até Mim (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora