O som ofegante da minha voz era o único barulho que aquela floresta estava ouvindo. O pisar forte, mas silencioso da minha corrida não denunciava minha localização. Era o meu desespero que fazia esse serviço. Era uma adrenalina que não conseguia descrever em palavras, um pulsar dentro do corpo que te deixar sem ar, sem chão.
Corri pela estrada de terra, eu não olhei para trás um segundo sequer. O tempo estava frio, podia sentir minhas bochechas queimaram pelo tempo gelado e pelo esforço físico. Não fazia ideia se Christopher tinha me notado, se tivesse, estava demorando a aparecer. Mas eu tentei concentrar meus esforços em correr o mais longe possível.
Devo ter alçado alguns quilômetros de chão até avistar uma barreira, que por conta da noite escura, só conseguia enxergar um paredão negro. Ao me aproximar percebo que são árvores. Intencionalmente colocadas para barrar a passagem. Estavam sobrepostas, altas demais para eu conseguir escalar. Suspiro e olho para a floresta.
Tão silenciosa, impiedosa. Era o lugar que eu deveria evitar, na floresta tem muitos obstáculos que ele usaria ao seu favor, mas seria um atalho até a colina. Eu só precisava ser silenciosa e ágil. Olho para meu relógio. Logo iria amanhecer, mas o céu continuava nebuloso e escuro, a lua seria meu guia.
Ao entrar na floresta, percebo que seria difícil me manter silenciosa. A cada passo, uma folha seca gritava ou um pássaro entregava minha presença. Meus dedos tremiam, tanto de frio como de medo. Minha respiração era irregular, estava em desespero. Meus olhos corriam pelas árvores me certificando que eram apenas árvores. Sempre alerta.
Ao caminhar mais um pouco, noto algo diferente. Vejo uma árvore esbelta, com vários cipós, bem no meio da minha passagem, em um de seus galhos está pendurado um balanço. As cordas puídas e a madeira velha do balanço notava-se que estava ali a muito tempo. Mas eu nunca tinha o visto.
De repente as palavras de Alex soam na minha mente." Vá pela estrada, quando entrar na floresta, ache o balanço e sente nele. Ele vai te dizer o que você quer saber"
Ele sabia que a estrada estava bloqueada e que eu entraria na floresta, agora o balanço estava ali na minha frente. Sinto minha espinha arrepiar, um medo do que estava por vir me invade. Eu me aproximo devagar, passo os dedos pela corda e sinto uma pontada nos dedos. Como leve choque. Como um filme arranhado, umas imagens distorcidas apareceram em minha mente.
— Mais rápido !!- gritou a voz de uma criança.
Solto rápido a mão da corda e recuo. Era como se tivesse passando um filme pela minha cabeça. Eu tenho medo, mas não consigo evitar de querer ver mais. Então eu sento no balanço e mergulho numa realidade desconhecida.
***
Eu estou na mesma floresta, mas agora está de dia. Deve ser primavera, as flores estão abertas, o sol raiando entre as copas das árvores.Observo a árvore do balanço, mais jovem, mais viva. Tudo parece muito vivo e colorido. Caminho até ela, ainda não acredito na minha imersão. Penso que estou sonhando, mas ao tocá-la, sinto a casca áspera, a vivacidade dela. Tudo era muito real.
Me assusto ao ouvir vozes de crianças, eu observo três jovens correrem em direção ao balanço.
O mais rápido entre eles é um menino loiro, devia ter uns 12 anos, ele tinha olhos claros, um sorriso bonito e radiante. Parecia feliz. Quando chegou no balanço, logo começou a brincar, botando toda a sua força para poder se embalar.
Logo atrás, um menino bem menor, tinha cabelos claros também, ele ria descontroladamente, mas era diferente, parecia ter algum tipo de retardo. Ao pensar nisso lembro da história que minha mãe contou, sobre o menino atropelado ser especial.
Concluo que estava vendo uma lembrança do passado desse menino.
Ele chega até o menino no balanço e reclama.
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Venha Até Mim (Concluído)
Misterio / SuspensoLIVRO 1 O que o passado pode esconder? Essa é uma pergunta que rodeia os mais obscuros pensamentos da jovem Madeleine. Uma garota que junto da sua família vai passar o final de semana em uma casa na floresta, da pequena cidade de Bosque Livre. Des...