Estranhos ou lobos?

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Meus olhos adentraram a floresta, tudo parecia diferente a partir daquele momento, eu sabia que tinha algo errado. Em todos os anos que fui àquele lugar eu nunca tinha sentido medo de estar na floresta, mas um medo ensurdecedor consumia meus pensamentos só de estar ali.

-- Sinto que há alguém na floresta, na verdade acho eu o vi. Na estrada, no meio das alfazemas.

Havia esquecido que Alex estava do meu lado, pisquei meus olhos tentando recuperar o raciocínio e tentar entender as palavras de Alex. Percebi que havíamos visto a mesma coisa nos jardins, havia algo entre as árvores, mas pensei que fosse efeito do meu remédio. Às vezes meu remedio me ilusionava sem precedentes, era difícil diferenciar ilusão de realidade.


-- Então você viu também? Achei que era coisa da minha cabeça.- me afastei para a margem do lago e me sentei em uma pedra grande.

Minha cabeça não conseguia processar tanto informação, se havia alguém por que se esconder na floresta? Será que estava lá todos os anos que íamos pra la? Suas intenções... boas ou ruins? Honestamente, nada dizia que era algo bom.

Sentada naquela pedra podia ver todo o lago escorrendo por um pequeno espaco para o rio abaixo, a cachoeira escorria com grande potência e vigor como eu sempre quis ser, mas nunca irei ser. Alex se aproximava e com cautela sentou do meu lado.

-- Madeleine, não devemos ficar aqui, temos que convencer nossa familia a ir embora daqui.- eu podia sentir seu olhar de súplica pesando sobre mim, mas não me atrevia a olhá-lo.

Eu sabia que podia ser perigoso me manter calada enquanto um estranho andava pela floresta, mas eu estava esperando esse final de semana a tanto tempo, era minha última oportunidade para esquecer tudo e recomeçar uma vida nova, sei que em um final de semana não dá para fazer isso, mas eu sinto que algo vai mudar se eu ficar.

-- Alex... Não vamos falar sobre isso com ninguém, ok? Vamos ficar bem, se fosse perigoso já estaríamos mortos ou em um porão sendo torturados por um doido, mas estamos aqui nos divertindo , certo? Então vamos apenas aproveitar. - tentei manter um sorriso no rosto, mas Alex revirou os olhos e voltou para dentro do lago.

-- Você é como eles, só pensa na diversão e não pensa nas consequências que ela proporciona, eu espero do fundo do coração que essa consequência não resulte em algo maior do que quebrar uma unha.- ele mergulhou e sumiu entre as águas.

Eu temia que ele estivesse certo, a minha vida toda eu busquei algum tipo de diversão para preencher o vazio que existe em mim, mas nada deu certo então porque daquela vez daria?

Levantei e fiquei em pé sobre a pedra com a intenção de mergulhar, mas meus olhos atingiram uma visão de um ângulo diferente, fiquei paralisada quando vi um lobo acima da cachoeira me observando atentamente, minha boca abria com a intenção de gritar porém os sons não saiam. Seu pelo era de tons cinzas para o preto, seus olhos azuis estavam tão concentrados que podia sentir meus pensamentos serem invadidos.

-- Maddy!

Finalmente minha respiração voltou e meus ombros relaxaram quando o lobo saiu correndo com a voz de Max ecoando entre as águas. Foi como estar frente a frente com o perigo e me sentir imponente... uma covarde.

-- Maddy! Para de ser tão linda, desce aí e venha me ver saltando para o infinito do seu corpo, ou a cachoeira , mas prefiro a primeira opção.

Aquilo foi tão intenso, meu coração estava palpitando dentro do meu peito. Meus olhos escontraram os de Max , que sorria para mim, seu cabelo estava para tras como se tivesse passado gel. Rose.

-- E esse cabelo de boi lambido, Max? Não lembro de haver bois por aqui, e não sei se um boi lamberia esse seu cabelo sujo.- sorri e cruzei os braços.

Ele sorriu com desdem e nadou em minha direção, seus músculos ficavam a mostra enquanto nadava até mim. Olhei para o lago e vi Rose conversando Alex, ela parecia estar brigando com ele.

-- O que estava olhando, Maddy? Antes de eu te chamar parecia tão assustada.- ele subiu na pedra e escorregava causando um arranhão no tórax não tão definido assim.

-- Pedra idiota! - ele sentou e bufou, fazendo seu cabelo comprido e molhado se mexer, agora estava bagunçado ao estilo Max.

Sentei ao seu lado, mas aqueles olhos azuis do lobo não saiam da minha mente, lembrei que lobos andam em grupo, raramente são vistos sozinhos e lembro que vovó dizia que aqui não havia lobos, se havia só apareciam a noite para caçar, por isso era proibido entrar na floresta a noite.

-- Eu vi um lobo. - falei calmamente sem olhar para Max.

Ouvi ele sorri e se engasgar com o próprio riso, como se não tivesse acreditado.

-- Lobo? Não tem lobos aqui, é muito quente pra cachorros de pêlo grosso.- ele se deitou na pedra e botou seus braços debaixo da cabeça.

As vezes Max era tão idiota, na verdade ele sempre era idiota, se ele não acreditava que havia lobos imagine uma pessoa na floresta.

-- Lobos não são cachorros e existem lobos pelas redondezas ,então não me trate como uma doida que vê coisas.- me irritei e ameacei voltar para a água, mas ele puxou meu braço.

-- Você não é louca, Madeleine. - sua voz já não tinha mais um tom de ironia, ele estava sério e olhava para mim com pena.

Max quebrou a regra mais importante da nossa amizade, seu olhar foi o mesmo que ele deu quando eu estava no hospital, no dia em que finalmente todos descobriram que eu tinha "tendência" para a loucura. Ele olhou para mim e disse que ia ficar tudo bem, Max podia ser um idiota, mas nunca mentiu muito bem. Aquilo era pena, e estava acontecendo naquele momento outra vez.

-- Não acredito que você vai me fazer passar por isso outra vez, Max! Não me olhe assim! Estou bem por que preciso estar, mas sei muito bem o que eu vi.- gritei para ele tentando me livrar de sua mão no meu braço.

Ele pegou meu outro braço ignorando meus gritos para me soltar, sabia que eu estava dando motivo para ele ter certeza que eu não estava bem, mas eu não podia deixar apenas um olhar me fazer reviver tantas lembranças.

-- Pare, Madeleine. Olhe para mim. - sua voz era firme e aos mesmo tempo confortante.

Parei de me debater, meus olhos estavam focados em um ponto qualquer, eu tinha vergonha de olhar para as pessoas porque sabia que elas tinham medo de ficar perto de mim, medo que eu surtasse como tinha acabado de fazer.

-- Olhe para mim, meu amor.

Max soltou meus braços e pegou meu rosto com as duas mãos, elas estavam geladas , senti ele forçar meus olhos encontrarem os dele. Aos poucos meu rosto foi cedendo e finalmente aqueles olhos de tons azuis variados afundou meu rosto de lágrimas. Estávamos chorando, mutúamente, era como se eu tivesse transferido minha dor para ele.

-- Max, eu...- ele me interrompeu com um beijo.

Sua boca me envolvia a cada segundo, era quente e sublime estar ali, não apenas pelo beijo , mas o que ele representava era a importância que eu tinha para alguém e me senti tão especial como nunca havia me sentido. Podia dizer que era um vestígio, talvez uma faísca do que chamamos de felicidade.









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