Capítulo I

12K 499 13
                                    

Um cavalheiro jamais hesita em salvar uma dama.

Baile para escolha da noiva, castelo Wolverest. Agosto de 1813

_Deus do céu, miinha querida, nunca a vi tão adorável como nesta noite.
Charlotte Greene fitou o visconde Witherby com olhar impassível. Embora devesse sorrir por cortesia, os lábios não lhe obedeceram.
- Muita bondade sua, milorde - murmurou.
-Bondade nada tem a ver com isso. - As sombrancelhas brancas e grossas se mexeram sobre o olhar cúpido que se fixava no busto de Charlotte. - Digo que a senhorita é tentadora - ele retrucou com voz rouca e baixa para não ser ouvido poe Hyacinth Greene, a mãe da jovem.
Ela pressionou os lábios e fez uma anuênciadiscreta para não encorajar o visconde idoso e calvo.
- A senhorita me concederia a honra da próxima dança? - ele perguntou sem levantar os olhos da visão que admirava.
De jeito nenhum!,  ela quis gritar, mas a educação respeitavel que recebera impediu-a de repelir o visconde, enquanto procurava encontrar uma resposta adequada.
Diante da hesitação, ele ergueu as sombrancelhas que tinham tamanho suficiwbte para cobrir a careca.
- Milorde eu pretendia descansar agora. - Ela notou o visconde se retesar. - Ainda assim eu lhe agradeço muito o convite.
Hyacinth proximou-se mais um pouco, suspirando, frustrada

Como ainda não recebera nenhum convite para dançar, Charlotte não deveria recusar o pedido, mas não conseguiu concordar, pois o visconde era insuportável.
- Por favor, desculpe minha filha -a mãe interveio. - Ela é muito envergonhada.
Charlotte estremeceu com a desculpa murmurada pela mãe que, mesmo bem intencionada, sempre a fazia sentir-se uma menina de sete anos. No entanto, sua timidez com os homens pouco tinha a ver com o fato. Não dançara naquela noite porque ninguém a convidara. Exceto um bêbado, outro que não enxergava direito e um cavalheiro velho o bastante para ser seu avô. Ou as três coisas, como o visconde de Witherby.
Apesar disso, não havia tempo de mergulhar na autopiedade. Era quase meia noite e se estivesse certa, lorde Tristan Devine, objeto de seus sonhos, não demoraria a chegar.
Por sorte ou por um milagre como diriam alguns, fora selecionada para participar do baile que o duque de Wolverest oferecia para a escolha da noiva do irmão mais novo, um homem por quem se apaixonaraa desde que ele a salvara junto com a mãe, quando a carruagem dos Greene tombara. A partir daí, nunca mais o esquecera.
Mordeu o lábio e pensou nas outras candidatas esperançosas e nas próprias chances. Madelyn Haywood, sua amiga, também concorria, mas Charlotte suspeitava de que a jovem se casaria em breve com o duque, irmão de lorde Tristan. Além dessa, havia as gêmeas Fairbourne e Harriet Beauchamp, sua competidora mais direta, pois as gêmeas só tinham olhos para o duque preferido por Madelyn.
Uma valsa seria tocada em seguida e as jovens escolhidas se alinhariam na extremidade do recinto para esperar a decisão.
Seu coração disparou. A hora aprazada se aproximava.
Witherby, resolvido a deixá-la sossegada, felizmente ofereceu o braço a Hyacinth que aproveitou paraa agarrar-se no lorde, como se estivesse com outro ataque de reumatismo.
- Boa sorte, minha adorada - a mãe. Disse em tom moderado para apenas a filha escutar. - Se ele tiver algum juízo naquela linda cabeça, tomará a decisão certa.
Charlotte anuiu quando o casal se afastou para sentar-se em um sofá encostado na parede, e a sra. Greene lançou um sorriso encorajador por sobre o ombro.
Estremeceu e admitiu, , com um suspiro, que esperava ser a escolhida por lorde Tristan.
Na noite anterior, Tristan a chamara a um canto para garantir-lhe a superioridade em relação às outras, para afirmar que era a única autêntica do grupo e que ele adoraria passar o resto da vida a seu lado.
Se as palavras tivessem sido sinceras, por que se corroer em dúvidas? Talvez porque o discurso agradável lhe parecera um pouco ensaiado.
Sua reflexão foi interrompida por um homem que se aproximava. Estreitou os olhos para focalizar melhor. Tratava-se de Tristan. Alto, cabelos negros e andar arrogante.
Teve vontade de deliscar a si mesma. Estaria ali, na residência dos ancestrais dele, esperando por uma proposta? Era romântico demais... mesmo se tratando de uma maneira escandalosa de encontrar uma noiva.
- Boa noite, srta. Greene - ele disse com um sorriso e estendeu a mão.
Charlotte aceitou-a sem se importar para onde seria levada. O cavalheiro conduziu-a para o meio do salão de baile e ela teve a impressão de flutuar sobre o piso de parquê brilhante.
O ritmo de Tristan era impecável e os passos tiveram início com as primeira notas. Eles dançaram, rodando sem conversar, o que não a impediu de dar alguns risinhos, feliz de estar nos braços de um homem tão atraente.
Nisso sentiu um calor nas costas e experimentou um tremor. Virou a abeça e viu o conde de Rothbury, amigo de Tristan e conhecido pelos costumes depravados, passar deslizando pelo salão com sua parceira. Ela notou de relance o olhar fixo do belo tratante, mas em segundos seu entusiasmo esfriou.
Não estava acostumada a contar com atenções de homens sedutores como lorde Rothbury e muito menos com um olhar que parecia adverti-la, o que a deixava nervosa.
Forçou-se a esquecer o fato, refletindo que na certa fora imaginação sua. Era possível que o olhar persistente não fosse dirigido a ela e sim ter sido apenas a resposta a algum comentário da parceira.
A valsa logo terminou e Tristan levou-a de volta á sua mãe. Arfante, Charlotte fez uma cortesia e ensaiou um sorriso, absorta em Rothbury e no olhar fugaz.
Tristan fez uma reverência, parou antes de endireitar-se e deu uma piscadela. Com um sorriso matreiro, afastou-se e desapareceu em meio à aglomeração.
Ele piscou!
Ela pensou que explodiria de felicidade. Olhou a mãe de esguelha, querendo avaliar a reação ao comportamento de Tristan, mas Hyacinth procurava algo na bolsa, sentada no sofá de almofadas grandes.
As candidatas encontravam-se reunidas no melhor ponto do salão. Estava na hora de juntar-se às suas concorrentes. Em poucos minutos milorde anunciaria a eleita, minutos esses que pareciam uma tortura, se não fosse a piscadela. Charlotte estava convencida de que seria a vencedora.

Um Conde Sedutor (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora