Um cavaleiro toma cuidado para não aborrecer uma dama.Hyacinth costumava cantar pelas manhãs.
Não se tratava de canções encontradas em partituras ou que se ouvisse na igreja. Eram melodias curtas que ela inventava enquanto amdava pela casa para começar o dia. Na verdade, ela raramente reclamava as letras, apenas cantarolava as frases musicais.
De costas na cama, com o corpo quente e pesado do gato sobre o estômago, Charlotte não pôde deixar de sorrir.
Hyacinth gostava de manter a rotina. Ela fazia as refeições nos mesmos horários, bordava à noite e sempre no salão e mantinha as criadas presas a horários severos. E todas as manhãs, trazia para a filha uma xícara de chocolate.
Charlotte inspirou e teve a impressão se sentir o aroma delicioso.
Ela se espreguiçou e perturbou o gato.
E abriu os olhos de repente.
- Eu não tenho gato! - gritou, dando um pulo na cama.
Sonolento, Rothbury a olhou tão mal-humorado que se ela não estivesse tão nervosa, teria dado risada.
- O que você ainda está gazendo aqui?
- Não dormindo, com certeza.
- Você tem de ir embora - ela começou a gritar e depois abaixou o tom de voz. - Minha mãe entrará aqui em um minuto.
- Já está na hora de comer? Seu estômago está roncando alto. Quer que eu lhe traga alguma coisa?
Ela bateu na cabeça do marido com o travesseiro.
- Rothbury, você tem ideia de onde se emcontra ou de quem eu sou?
Ele passou a mão nos cabelos e a olhou com dúvida.
- Susie? Joan? Margaret? Lola?
- Pare com isso - Charlotte falou, rindo. - Saia depressa daqui. - Ela o mandou para fora da cama.
Nesse instante, a maçaneta fez barulho. Era Hyacinth que se preparava para entrar.
- Volte, volte, volte- Charlotte sussurrou e levantou as cobertas para ele se esconder depressa.
- Não entendo - a voz profunda de Rothbury soou abafada sob a colcha rosa. - Sou seu marido e sua mãe acredita que sou como o seu tio Herbert.
- Ainda assim não quero que ela descubra dessa maneira.
- Tem medo que ela desmaie?
- Minha mãe não desmaia.
Hyacinth entrou de costas, empurrando a porta. Em uma das mãos trazia o chocolate da filha e, na outra, uma travessa com torradas.
- Bom dia, minha querida! - Ela atravessou o quarto com um sorriso largo.
Passou pela cama para pegar a bandeja de madeira que estava em uma poltrona próxima da penteadeira.
- Eu trouxe o seu chocolate. - Hyacinth carregou a bandeja e olhou ao redor antes de voltar para a neira da cama.
Em dias normais Charlotte costumava auxiliar a mãe na tarefa. Mas em dias normais também não costumava ter um homem qie soprava ar quente em sua coxa sob as cobertas.
- Pode me dar a bandeja. - Apressou-se a estender as mãos. Não poderia deixar qie a mãe pusesse tudo na cabeça de Rothbury.
Em geral, Hyacinth entregava o chocolate e saia. Mas ela ficou parada, olhando para a filha, com as mãos na cintura.
Charlotte mordeu a torrada com expressão inocente, embora suas mordidas nunca tivessem conotação de culpa.
A mãe deu um sorriso leve.
A filha mastigou.
- Bem - Hyacinth decidiu falar depois de alguns instantes: - Vou ver se seu pai precisa de mim.
Charlotte deu outra mordida.
Hyacinth virou-se e saiu do quarto, ainda com as mãos na cintura.
Quando a porta se fechou, Charlotte deu um suspiro de alívio.
Que não teve longa duração, pois a porta foi de novo aberta.
Como não era seu hábito, Hyacinth fechou a porta depois de entrar e o mais estranho era ela estar então com os braços cruzados.
- O que houve, mamãe? - Charlotte perguntou, com um pedaço de torrada na boca. Ela esperava distrair a mãe provocando um sermão sobre a inadequação de falar com a boca cheia.
Não adiantou.
- Os Martin - Hyacinth declarou, severa.
Charlotte piscou.
- Os Martin?
- Sim, eles mesmos.
- Mamãe, a senhora está passando bem? Por que repetir o nome de nossos vizinhos?
Hyacinth inspirou fundo.
- Porque, minha querida, os Martin vieram aqui esta manhã.
- Tão cedo?
- Sim. Eles viram um ladrão no jardim deles a noite passada.
Charlotte sentiu pontadas na fronte.
- E sabe o que há de engraçado em tudo isso?
Charlotte sacudiu a cabeça.
- O ladrão roubou apenas... tulipas. Não diferentes das que você tem na sua escrivaninha, minha querida.
- Está me acusando de ter roubado as flores do jardim dos Martin?
- Não. Os Martin conseguiram ver quem roubou as flores antes do ladrão sair correndo. Eles disseram que não podiam ter certeza, mas pareceu-lhes um homem. O conde de Rothbury, para ser mais precisa.
- Que estranho- Charlotte disse com voz esganiçada.
- Sabe o que é mais estranho?
Charlotte tornou a sacudir a cabeça.
- Essa protuberância debaixo de suas cobertas.
Afinal Hyacinth acabou desmaiando. O desfalecimento não foi por Rothbury estar no quarto da filha nem por ele ser o marido dela. Ela perdeu os sentidos por entender que Rothbury não era igual ao querido Herbert.
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Um Conde Sedutor (Concluído)
RomanceInglaterra, 1813 Procura-se uma noiva... Adam Faramond, conde de Rothbury, precisa encontrar uma esposa o quanto antes, ou sua avó o deserdará. O problema é que Adam, um libertino incorrigível, só consegue pensar em se assentar com uma certa jovem...