Capítulo XVI - parte 1

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Cavalgar, esgrimir ou atirar-se de um rochedo íngreme e escarpado, são maneiras saudáveis para um cavalheiro lidar com a frustração explosiva.

Dois dias depois.


- Não sou eu quem precisa falar-lhe, minha querida. - lady Rosalind disse, tentando pacificar com um sorriso a expressão confusa de Charlotte. - Meu irmão necessita de uma informação, mas como ele não podia visitá-la sem despertar suspeitas, convocou para mandar-lhe um recado, pedindo seu comparecimento em nossa casa.
- Entendo - Charlotte murmurou e endireitou-se quando Tristan a fitou.
- Voltarei ao meu trabalho e fingirei não escutar nenhuma palavra que será dita. - Rosalind segurou o bordado e ergueu o queixo.
- Obrigado, irmã - Tristan falou sem muito entusiasmo. - Não é necessário agradecer, é para isso que servem as irmãs.
Tristan estreitou os olhos.
- Para dominar e aborrecer...
Rosalind repreendeu-o com um estalo de língua.
- Temos uma convidada e adorável por sinal. Ouvi dizer que esteve recentemente em Aubry Hall, srta. Greene. A estadia foi agradável?
- Muito. - Charlotte notou que Tristan, impaciente com a conversa da irmã, arranhava os braços da poltrona de couro na qual estava sentado. - Voltamos ontem.
- Verdade? E como estão as estradas?
Tristan pigarreou e apontou com a cabeça o relógio sobre o consolo da lareira.
Rosalind não deu atenção a ele e continuou:
- Srta. Greene, espero que não se importe com meu comentário, mas noto que está ficando mais bonita a cada temporada.
- Eu? Isso é...
- Posso falar agora? - Tristan interrompeu a conversa.
Rosalind estreitou os olhos para o irmão mais novo e espetou a agulha no tecido como se fizesse na pele de Tristan.
- Você está ficando mais obstinado e rude com o passar do tempo.
- Eu não gostaria de desapontá-la.
Rosalind voltou a bordar e suspirou com irritação.
Tristan sentou-se na beira ds poltrona.
- Srta. Greene, imagino que esteja se perguntando sobre qual assunto desejo falar-lhe.
Charlotte anuiu e fitou a saída para o hall. Estava ansiosa para descobrir o motivo da convocação e ir embora. Naquela tarde ela e a mãe fariam compras na companhia de Rothbury.
- Vejo que está inquieta, srta. Greene - Tristan afirmou. - Espero não estar atrapalhando nenhum compromisso.
- De jeito nenhum - ela assegurou, sem pretender ser rude. - É que... Roth... quero dizer, lorde Rothbury, irá visitar-me hoje e eu...
- Lorde Rothbury irá à sua casa?
- Sim.
- Interessante. Bem, então direi logo o que pretendo. Queria perguntar-lhe se vai ao baile dos Langley esta noite.
O que ele tinha a ver com isso?
- Vou, sim.
- Muito bom, muito bom. - Ele tornou a pigarrear e lançou um olhar suplicante para a irmã que fingiu não o ver. - Então permita-me requisitar uma dança. Agora.
- Agora?
- Não, o pedido é para o baile.
Charlotte arqueou uma sombrancelha
- Não vejo objeções.
- Ótimo. - ele respondeu. - Ficarei na expectativa. - Tornou a olhar de relance o relógio de porcelana do consolo da lareira.
Seria aquela uma sugestão para ela se retirar?
- Bem... isso é tudo? - A situação era muito curiosa.
- Sim, é. - Ele quase gritou, parecendo feliz.
Charlotte levantou-se, seguida por Rosalind.
Tristan continuou sentado e a irmã arregalou os olhos, ameaçadora.
- Ah, sim, sim. -Ele se levantou com um pulo. - Posso acompanhá-la? Quero dizer, até lá fora.
- Eu lhe asseguro que não será preciso. - Ela fez um gesto negativo com a cabeça.
- Mas eu insisto. - Tristan fez um sinal para as mulheres o precederem na saída da sala.
O mordomo abriu a porta que dava para a rua cheia de gente. Mulheres caminhavam aos pares, segurando as sombrinhas, carruagens reluzentes chocalhavam pela travessa... e lorde Rothbury encontrava-se na beira da calçada dos Devine.
Charlotte nada disse e Tristan beijou-lhe os nós dos dedos da mão enluvada.
- Tenha um bom dia, Charlotte - ele se despediu.
- Igualmente, milorde - ela respondeu e virou a cabeça para cumprimentar Rosalind que já sumira.
Entorpecida, desceu os degraus da frente dos Devine como se desejasse matar alguém.

Um Conde Sedutor (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora