Naquele momento a multidão adiantou-se movida pela expectativa e impediu sua visão. Frustrado, murmurou uma leve imprecação, mas refletiu que o fato não tinha importância, pois conhecia o resultado. A srta. Beauchamp seria a vencedora e as outras começariam a chorar. Deu de ombros. Lagrimas não o comoviam.
Estava na hora de ir embora. Pegou uma taça de vinho da bandeja de um criado que passava e bebeu o conteúdo de uma só vez. Tentou chegar à porta, mas teve que ir devagar por causa do grande número de pessoas.
Um minuto mais tarde ouviram-se suspiros de alegria e também sobressaltos de indignação. O mais esperado evento da temporada terminava. Tristan escolhera a noiva. A orquestra começou a tocar uma valsa alegre e o novo casal, publicamente compromissado, foi o primeiro a ocupar a pista de dança.
Após o anúncio, os noivos foram seguidos pelos convidados e Rothbury. Pôde atravessar o piso de parquê rumo ao saguão. Não resistiu e espiou as jovens rejeitadas. Para sua surpresa, não berravam como bebês. Tinham ido dançar com parceiros que alegremente as conduziam ao mercado matrimonial.
Todas menos uma.
Charlotte fora deixada sozinha, envergonhada e torcendo as mãos enluvadas.
Na certa alguém a tiraria para dançar. Afinal, as jovens tinham sido selecionadas por um duque e eram muito qualificadas... Mas por que lhe importava se a srta. Greene ficava sozinha enquanto as outras dançavam?
Provavelmente algum cavalheiro, grupo em que Rothbury não era incluido, dsnçaria com ela, amenizando a dor da rejeição.
Deu mais dois passos e teve a impressão de que os pés estavam acorrentados.
- Mas que inferno! _ murmurou, parou e virou-se... quase batendo em uma jovem.
Ou melhor, ela quase colidiu com ele. Apressada para sair do salão, Charlotte recuara com rapidez surpreendente.
Rothbury prendeu a respiração quando sentiu nas coxas o roçar do traseiro sob as saias.
- Oh! - Ela se virou e por pouco não bateu a testa no queixo masculino ao olhar para cima. - Lorde Rothbury! Eu não sabia que estava aqui.
- Aposto nisso, pois a senhorita não tem olhos na parte posterior da cabeça. - Ele sorriu com malícia, esperando a reação típica de jovens virtuosas: dar um risinho e fugir.
Charlotte apenas piscou.
Sem conhecer o grau de pouca visão de Charlotte, era possível que ela tivesse visto apenas como uma mancha. Além disso, ela parecia absorta em uma ladainha.
Não vou chorar, não vou chorar, não vou chorar.
E foi quando o inevitável aconteceu. Duas lágrimas, gordas e gêmeas, deslocaram-se da ponta dos cílios por causa do piscar insistente, deslizaram pelas faces e caíram no clete verde-escuro dele.
Rothbury fitou as pequenas manchas e sentiu um aperto no estômago.
O que havia de errado com ele?
Fitou-a. Charlotte inspirava fundo e arfava, arregalando os olhos talvez para evitar o aparecimento de mais lágrimas.
A expressão desanimada deixou-o sem ar, o que era um absurdo. Não fora ele quem lhe destroçara o coração. Além disso, não se preocuparia, mesmo se fosse o causador da infelicidade. Devasso, tinha um estilo de vida decadente, recheado com bons vinhos, ocupações questionáveis e mulhers bonitas que dispensava quando se tornavam possessivas ou cansativas. Afinal, orgulhava-se de ser um homem de apetites carnais variáveis.
Mas aquilo... era diferente. Apesar de Charlotte ser conhecida por sua timidez, Rothbury sempre observara o sorriso fácil, mesmo quando ficava a um canto, observando as amigas dançarem.
Todavia, naquele momento, ela não conseguiria sorrir mesmo que fosse paga para isso. E de todas as candidatas a noiva ali presentes, a srta. Greene era a única que gostava de Tristan que nem desconfiava disso.
Ele continuou em silêncio e Charlotte ficava cada vez mais vermelha. Será que desmaiaria?
- Srta. Greene, posso perguntar-lhe para onde se dirigia com tanta pressa?
Ela tossiu com delicadeza.
- Eu precisava de um pouco de ar fresco.
- Pretendia sair?
A resposta foi um aceno positivo e imperceptível de cabeça.
- Só porque Tristan não a escolheu?
Charlotte não disse, e Rothbury ergueu-lhe o queixo. Uma lágrima havia parado no canto da boca e ele teve vontade de usar o polegar para afastar a umidade. O que o denunciaria e provocaria uma onda de boatos e especulações. Mas continuou a fitar os insondáveis olhos azuis e sentiu-se perdebdo vantagem, afundando.
O lábio inferior da jovem começou a tremer e ela deu um choramingo de cortar o coração.
- Por favor, acalme-se - ele sussurrou e teve a impressão de ser um lobo confortando o cordeiro que pretendia devorar. Precisava pensar no que diria, anyes de ela começar a soluçar sem controle. - Seu parceiro de dança torceu o tornozelo?
- Não entendi.
- Não pude deixar de notar que não estava comprometida para a última valsa da noite.
- Não tenho parceiro - Charlotte falou em voz baixa.
- Ninguém me pediu para dançar.
- Ah, então me consederia essa honra? - Ele deu um passo para trás e ergueu o braço, encurvado.
Alguém deveria marcar este dia como histórico. Rothbury agia com finura, sem nada esperar pelo desperdício de seu tempo.
Ela suspirou em voz alta e aceitou o braço com um levantar de ombros.
- Não é bem o entusiasmo pelo qual eu esperava - ele comentou e evitou rir enquanto a levava em direção aos pares que giravam.
- Sinto muito - ela se desculpou e deu outro suspiro quando ele começou os rodopios. - Hoje não foi um de meus melhores dias.
- Não há por que se desculpar. - Rothbury sentiu a leveza de sua dama como se estivesse dançando com o ar. Apertou-a pela cintura com receio de atirá-la contra a parede.
- É que... - Charlotte continuou, desatenta à preocupação de seu parceiro. - Eu gostava de Tristan há tanto tempo... desde que eu era... bem, há muito tempo. - Tossiu. - Uma vez quando a nossa carruagem virou no mercado, ele salvou minha mãe e a mim de sermos feridas, cuidou de nosso cocheiro e acalmou nosso cavalo.
- Muito heróico.
- Essa é exatamente minha opinião.
Ser escolhida para este baile me fez pensar que se tratasse do destino. - Charlotte suspirou. - No entanto, hoje ele... piscou.
- Piscou?
- Sim.
- Então é isso. Todos sabem o que significa uma piscadela.
- O que isso significa? - Ela pestanejou
- Não tenho a menor ideia, mas sua certeza me fez imaginar que eu deveria concordar.
Sem demonstrar o encanto que sentia, ele observpu o brilho de humor que logo desapareceu, cedendo lugar a uma aceitação sombria.
- Eu me empenhei em ser o que ele queria, embora, no presente momento, suponho que não importe.
- E como supôs o que Tristan queria? Por acaso fez uma lista? - Rothbury deu uma risada.
- Sim, fiz. Conheço suas predileções e o que não o deixa satisfeito...
Rídiculo. Não havia comentário a fazer, além dela de ela parecer uma colegial apaixonada. Emboracesse tipo de adoração em geral não durasse muito, a srta. Greene fora persistente em sua estima por Tristan durante anos.
- E eu... - Ela engoliu em seco, concentrando-se em não chorar.
Rothbury virou-a com maior velocidade.
- ...e eu pensei que ele gostasse de mim, por ter insinuado várias vezes...
- Só possso imaginar que o pilantra estivesse brincando com a senhorita - ele disse de maneira cortante.
Amizade a parte, o comportamento de Tristan na ultima quinzena exalava imaturidade e até uma certa falta de diplomacia. Embora se considerasse um homem sem coração, nunca testemunhara a dor e a angústia de uma mulher rejeitada.
Charlotte olhou-o pela primeira vez desde que dançavam, com o olhar azul impregnado de pesar.
- Não sou estúpida e certamente teria notado tanta falsidade.
- Nãobpoderia notar nada. A senhorita passou o tempo inteiro batendo nos móveis e nas paredes. Coloque seus óculos, srta. Greene.
Ela ergueu o queixo, altiva.
- Posso ver tudo com clareza.
- Não é verdade.
- Sim, eu posso.
- Está bem. - Rothbury fez uma curva proporcional que o levou para o terraço onde uma longa fileira de poltronas fora deixada junto à parede. Algumas estavam ocupadas, outras não. - Diga-me, srta. Greene, sua mãe ainda esta em uma dessas poltronas?
Ela mordeu o lábio rosado inferior, espiou por cima do ombro dele e logo sorriu, satisfeita.
- Sim, milorde, está.
- Começando a contagem do canto, qual o assento ocupado por ela?
- O terceiro - ela respondeu sem hesitar.
Ele ergueu uma sombrancelha.
- Verdade? Tem certeza?
- Claro. - Mas a dúvida brilhava em seu olhar.
- Diante de uma resposta tão positiva, srta. Greene, sinto-me no dever de informá-la que na cadeira onde supôs estar sua mãe encontram-se duas bengalas e algums xales femininos para o caso de alguém se aventurar a um passeio.
- Oh, não! - ela murmurou e deu uma risada.
Surpreso, ele não conteve uma sensação de e orgulho por fazê-la rir.
- Ao contrário do que deve acreditar, fazer-se de quase cega para atrair pretendentes não a beneficiará.
- Eu não estava tentando atrair ninguém, apenas lorde Tristan. E antes que milorde pense que sou uma tola, eu o ouvi dizer que não gostava de mulheres aue usavam óculos. Portanto eu... - Estreitou os olhos, desconfiada. - Por que a súbita mudança?
- Perdão, mas não creio ter entendido. - Sem estar certo se ouvira corretamente, inclinou a cabeça e o perfume suave de limão atiçou seus sentidos.
- O senhor veio com a finalidade de me ajudar.
Rothbury percebeu a ênfase no "senhor", embora pudesse ter dito: "besta desprezível".
- Eu queria apenas dançar - ele respondeu, dando de ombros. - Não se sinta lisonjeada, pensando mais do que isso.
- Não, nós colidimos enquanto milorde estava saindo.
- Não - ele rebateu, retesando o queixo. - Eu procurava uma parceira.
- Na entrada vazia?
Ele sentiu como se houvesse sido apanhado em uma mentir.
- Srta. Greene, é seu costume interrogar os parceiros de dança?
- O que o faz pensar dessa maneira?
Por Deus! Ela era a provocação personificada. Um homem não podia convidar uma mulher para dançar sem ser obrigado a responder a masi de vinte perguntas?
- Sabe o que eu acho, milorde?
- Não duvido de que a senhorita me dirá.
- Acho que milorde deseja uma chance para se redimir e talvez se transformar em um cavalheiro.
- É mesmo? - Ele não fez questão de disfarçar o tom de sarcasmo.
- Acertei?
- De maneira nenhuma. - Ele observou o corpete debruado de renda antes de fitá-la com sinceridade, para não haver dúvida a respeito de suas palavras.
Charlotte não acreditava que um homem como lorde Rothbury se interessasse por ela. Mesmo sendo um pouco ingênua e crédula, sabia que a análise chocante de seus encantos juvenis, ou a fslta deles, tinha muito poico a ver com interesse genuíno e sim com uma tentativa de despistá-la, mas não se deixaria desencorajar.
A reação às suas suposições a deixaram curiosa e talvez estivesse correta.
- Creio que o comportamento esplêndidodesta noite deve-se à presença de lady Rosalind Devine no salão.
- E eu creio que a senhorita esta enganada...
- Discordo.
- ...e é muito intrometida.
- Bem, eu lhe desejo muita sorte, milorde - Charlotte disse com gentileza. - Vai precisar dela.
Charlotte sentiu a tensão dos ombros dele, mas não se deteve na tentativa de ajudá-lo.
- Para ser franca - continuou - , como milorde poderiaesperar um desfecho diferente? O condado de Rothbury não tem sido sinônimo de escândalos e pecado por centenas de anos? - Conhecidos por fraudes e vicíos, os Rothbury não eram confiáveis. - Talvezesse seja o seu problema. Sei que é desapontador aceitar o fato, mas é plausível que milorde nunca seja capaz de erguer-se acima do caminho de ervas daninhad e libertinagem que os homens de sua família implantaram.
Charlotte arrependeu-se do que dissera ao ver um músculo contrair-se na face máscula.
Eles se aproximarm de uma alcova fechada com cortinas altas de seda creme entre colunas de alabastro e, sem dar-lhe tempo para reclamar, Rothbury a segurou pela cintura e, em um movimento rápido ergueu-a e deixou-a dentro do casulo de seda que os escondia da vista de todos.
- Eu falei demais. - Ela sentiu nos ouvidoso palpitar do coração e tentou chegar ao que parecia a estreita abertura do tecido.
Ele anuiu, ameaçador, e impediu-a de prosseguir. Os olhos cálidos e cor de mel endureceram e lembraram cristais de âmbar.
- Um salão de baile não é o lugar ideal para usar nossas línguas como arma, não acha?
Ela esfregou os braços quando um arrepio a percorreu. Ele era um homem orgulhoso. Madelyn Haywood, sua melhor amiga, sempre dizia que a aparência dele era de um leão fulvo, e Charlotte calculou que houvesse ferido seu orgulho, o que não fora uma atitude inteligente nem simpática. Afinal ele a tirara para dançar e ela o insultava.
Até aquele momento cometera enganos que a envergonhavam.
Mas a sua verborragia inconveniente a levara a um constrangimento que não sabia como contornar e um simples pedido de desculpa nada resolveria.
Rothbury era um devasso famoso e, se fosse atingido, poderia fazer de sua vida um inferno. Como por exemplo cometendo um estupro no meio do salão, só para se distrair.
Era conhecido por usar as mulheres à sua conveniência. Fazia-as crer que estava à procura de um coração sincero e depois as deixava, em busca da nova vítima. Sempre ouvira dizer que elas tudo aceitavam por serem iludidas e levadas a pensar que o desejo nos olhos dele era amor.
Olhou para cima e tentou parecer indiferente diabte daquela sedução masculina. Uma madeixa de cabelo loiro-escuros escapava da tira de courocom que ele sempre amarrava os cabelos para trás e caia na testa.
Um pensamento absurdo lhe ocorreu. Talvez ele enfeitiçasse as mulheres para obter o que desejava.
De repente sentiu-se como um camundongo sob as garras de um leão. E todos sabiam o que os felinos faziam com suas presas. Arrastavam-nas para um canto do cenário, antes de devorá-las.
- O que está pretendendo, milorde? - Charlotte engoliu seco.
- Uma coisa muito simples. Não precisa temer, pois não pretendo engolir ninguém.
- E... estou b... bem. - Gaguejar era odioso. - Mulheres como eu não são suas presas favoritas, portanto suponho que eu esteja segura... sozinha com milorde... - fez um gesto que abrangia a seda que os rodeava - ... aqui, escondida atrás da cortina. Sem ninguém.
Enquanto ela se esforçava para ser racional, Rothbury cruzou os braços na altura do peito e fitou-a com olhar gélido.
- Nunca se sabe, srta. Greene - ele contestou, sombrio.
- Bem, agora preciso ir.
- Certo, mas antes que se vá, quero saber o que a faz acreditar que lady Rosalind esteja... fora de meu alcance, digamos assim. Estou ansioso para escutar os seus motivos.
No mesmo instante, Charlotte se descontraiu. Ele não a tirava do salão de baile com más intenções. Como pudera pensar em uma coisa dessas? Na certa pretendia lhe falar em particular por saber que ela era conhecida de lady Rosalind, isso sem mencionar o fato de ser provavelmente a única jovem virtuosa que poderia falar com Rothbury se desmaiar.
Suspirou. Pelo jeito, ele não gostava de escutar as verdadese. Supôs que a cortesia demandava que ela o acalmasse.
- Acontece que... acredito que a única maneira de milorde ter uma chance de conquistá-la seria com alguma ajuda.
- sua ajuda?
- E por que não?
Uma expressão discreta de teimosia endureceu os traços de Rothbury.
- Ridículo. - Ele não afastava de Charlotte o olhar hipnótico. - Não preciso de ajuda e muito menos da sua.
- Ótimo. - Homem insuportável! - Eu não pretendia oferecê-la.
Do lado de fora da alcova, a valsa chegava ao fim.
- Preciso ir.
A despeito da pressa, Charlotte hesitou, refletindo como se sentiria uma mulher muito requisitada. Ser admirada, desejada e invejada. Ser perseguida pelos homens, por esse homem. Poderia seu comportamento ser comparável ao de lay Rosalind? Seria capaz de resistir às atenções dele?
Sacudiu a cabeça para terminar com sua tendência a devanear. Deu um sorriso cortês, desculpou-se por ter de sair e deu a volta por trás de Rothbury.
Com um movimento brusco, ele a segurou e deslizou par fora do esconderijo, alcançando os que dançavam como se não houvessem saído do salão de baile. Os que os observavam poderiam supor que o casal fora impedido de prosseguir por uma das decorações exageradas.
Ela sentiu um calor intenso irradiar-se do local das costas onde ele a segurava e da outra mão que segurava a sua. Ele se movera tão depressa que a respiração de Charlotte ficou presa na garganta.
A música terminou com um floreio. Ele a soltou gentilmente e as saias esvoaçantes voltaram ao lugar.
- Eu não pretendia espionar - ela explicou, sentindo-se no dever de dizer algo. - E também não pretendia insultá-lo.
- Eu lhe asseguro de que o fato não teve importância.
- Suponho que milorde não pretende levar-me de volta onde está minha mãe - Charlotte falou com um leve tremor dos lábios.
- Não mesmo, e espero que entenda o motivo. Não me encontro com disposição para ser agredido a socos só por termos dançado.
- Oh, não. Está certo. Mamãe ja fez isso uma vez, não foi?
Antes do incidente passado, Rothbury pensara que bolsas eram feitas com o propósito de completar o traje feminino e não para serem usadas como arma. A mãe da srta. Greene certamente as usava para os dois casos.
- Nunca esquecerei aquilo.
- Sinto muito. - Não havia como não se sentir constrangida. - Ela é excessivamente protetora e milorde é... - Corou ao entender o que por pouco não dissera diante dele.
Rothbury ficou tenso, mas sorriu diante da hesitação de Charlotte.
- Um mau catáter?
- Sim - Ela parecia aliviada.
- Então... Rothbury ergueu um dos lados da boca em um sorriso - ...devemos presumir que o mau carácter a deixa a vontade.
- Não sei. Sempre que o vejo, não posso deixar de pensar em todas as coisas depravadas que milorde tem feito e minha pele parece pegar fogo. - Ela ficou sufocada e vermelha. - Não acjo que seja certo.
- Não creio que haja uma maneira correta.
Charlotte teve vontade quebobsolo se abrisse para se esconder.
- Não se preocupe, srta. Greene. Tenho sido chamado de coisas bem piores.
E ele merecia tudo o que diziam a seu respeito e cada apelido desonroso. Contudo ela era uma jovem decorosa, e jovens decorosas não diziam termos pesados, independentemente do quanto as pessoas os merecessem.
- Além disso - ele acrescentou -, não se trata de insultar o arcebispo ou o rei. Sei muito bem o que sou.
- Obrigada por ter-me convidado para dançar - ela afirmou após uma hesitação e fez uma mesura com a cabeça.
Ele se inclinou em um cumprimento e afastou-se. Depois de cinco passos, olhou para trás. Com um estranho senso de satisfação, observou-a tirar os óculos do corpete e ajeitá-los sobre o nariz. Evitou sorrir, divertido como sempre ao pensar no interesse que ela despertava.
Na verdade, havia gerações o condado de Rothbury era sinônimo de libertinagem, jogatina, bebidas e mulheres em excesso. Os homens de sua família jamais assumiriam a responsabilidade de salvar jovens de óculos que ficavam sentadas o baile todo da indignidade de ser a única sem um parceiro.
Ao deixar o salão, ignorou os olhares curiosos de alguns convidados qie imaginavam por que ele, o rei dos patifes, se incomodaria em dar atenção à rainha da timidez e impopularidade de Londres. Na certa pensariam que se tratava de sua mais nova conquista.
Não poderia culpá-los, porque na verdade era o que fazia. Seduzia e dominava. Encantava e manipulava. Era um usuário de mulheres.
E eles zombariam, Rothbury pensou com amargura, se soubessem que estava secretamente enamorado daquela menina tola que usava óculos.
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Um Conde Sedutor (Concluído)
RomanceInglaterra, 1813 Procura-se uma noiva... Adam Faramond, conde de Rothbury, precisa encontrar uma esposa o quanto antes, ou sua avó o deserdará. O problema é que Adam, um libertino incorrigível, só consegue pensar em se assentar com uma certa jovem...