Capítulo XXI - Parte 2 Final

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Charlotte acordou e admirou os raios de luar que entravam através das janelas altas do quarto. A seu lado e com os braços sob o travesseiro, Rothbury dormia de bruços.
Com fome, ela pensou em acordá-lo e perguntar-lhe a localização da cozinha, mas decidiu fazer a pesquisa por conta própria.  Beijou-lhe as costas e ele murmurou palavras incoerentes.
Ela saiu da cama, caminhou sem ruído até a porta intermediária e entrou no quarto contíguo. Apesar do ambiente escuro, ela conseguiu encontrar suas sacolas. Procurou dentro delas e logo achou uma camisola e um penhoar. Vestiu-os e foi para o saguão. Seu estômago roncava alto e ela receou acordar alguém com o barulho.
Faminta, desceu a escada, ansiosa oara encontrar a cozinha apesar da escuridão e, no último degrau, sentiu um forte cheiro de rosas.
Franziu o nariz e foi por um corredor em direção aos fundos da mansão.  Certamente havia um vaso de rosas por perto, ela pensou. E, pelo cheiro, as flores já estavam murchas e precisavam ser trocadas.
E quanto mais andava, mais forte ficava o cheiro.
Adiante,  viu uma mancha branca no chão. Ao chegar mais perto, descobriu tratar-se de uma folha de papel escrita. Ela se abaixou para pegá-la.

Rothbury,

Não posso continuar com você. Outro homem é objeto de minha afeição e pretendo ir ao encontro dele. Por favor, não me procure.

Charlotte.

- O que está acontecendo? Não fui eu quem escreveu isso.
Então ela sentiu uma forte dor na cabeça e tudo escureceu.

Rothbury acordou com uma pancada surda.
Assustado, sentou-se na cama e viu o espaço vazio a seu lado.
- Charlotte.
Entendeu de imediato que algo estaba errado. Atirou as cobertas para o çado e pulou da cama.
Vestiu-se rapidamente, apressou-se pelo corredor e desceu os degrais de três em três. Não sabia para onde Charlotte tinha ido nem o que significava o barulho que ouvira, mas o pavor apoderou-se de seu peito.
No último degrau, sentiu um aroma forte de rosas. Conhecia aquele cheiro.
Agarrou um castiçal de cobre de uma mesa do saguão e continuou procurando abafar o ruído dos passos.
Viu uma folha de papel na primeira curva e abaixou-se para pegá-la sem tirar os olhos do corredor escuro à sua frente.
Leu o que estava escrito e sentiu o coração parar. No mesmo instante, afastou o pensamento absurdo.
Ao escutar a batida de uma porta, correu na direção do som e viu dias pessoas, uma pixando a outra pelos cabelos. O grito abafado soou em sua alma.
Charlotte.
Teve certeza de quem cometia aquela crueldade com sua esposa.

A não ser o encontro no corredor do baile de máscaras dos Hawthorne, Charlotte não se lembrava de nenhuma ocasião em que lady Gilton se envolvesse em tal violência. Porém o fato de ser arrastada pelos cabelos através de uma alameda escura e com uma faca de abrir cartas encostada ao pescoço a fez considerar a possibilidade de não ter sido esperta ao avaliar a dama.
- Sua rameira de quinta categoria - lady Gilton resmungou. - Acha que eu desistiria tão facilmente?
Ela parou de repente, ofegante pelo esforço de puxar Charlotte que resistia.
Charlotte tropeçou e o abridor de cartas feriu-lhe a pele do pescoço. Ela inalou com ruído por causa da dor.
- Vá para o inferno! Feriu-se de propósito, não foi? Ele ficará desapontado. Ele a quer perfeita e imaculada.
-Quem?
- Witherby, seu novo amante - lady Gilton afirmou com um detestável sorriso doce. - Vou levá-la até ele. Sem dúvida, lorde Witherby ficará desapontado ao saber que a senhorita entregou-se ao meu Rothbury antes de ele a possuir.
Charlotte foi invadida por um ódio poderoso. Ela se contorceu, libertou-se e, com o pé, atingiu lady Gilton no estômago.
A mulher caiu para trás e bateu em um muro. Rosnou, ameaçadora, segurando a faca afiada acima da cabeça. Mas não chegou a atirar a lâmina em direção a Charlotte. Atrás dela, uma pistola disparou.
Charlotte virou-se.
- Rothbury - Lady Gilton murmurou, paralisada.
Ele sacudiu a cabeça.
- O que está fazendo, Cordélia?
- Eu... eu a estou ajudando. - Lady Gilton parecia um animal selvagem encurralado. - Vou levá-la embora. A srta. Greene não quer ficar com você.
-E presumo que milady quer.
- Claro que sim.
-Se está pretendendo granjear minha simpatia, aviso-a de que fracassou.
Cordélia espantou-se.
- Minha querida. -Os olhos de Rothbury tinham um brilho vicioso. - Não me agrada que minha esposa seja maltratada.
-Sua esposa?
- Exatamente.
Cordélia fitou Charlotte com expressão de sofrimento. -Eu o amo - a dama disse de repente. - Tanto que seria capaz de matá-la por sua causa.  - Ela oçhou as mãos como se nunca as houvesse visto. - O que há de errado comigo?
Enquanto ela falava, Rothbury aproximava-se furtivamente e quando a agarrou pelo braço, ela nem mesmo lutou.
-Vamos voltar para casa - Ele afirmou. - Mandarei buscar seu marido.
- Oh, não. Não faça isso. - Ela procurou se desvencilhar. - Irei embora. - A voz soou vazia.
Rothbury acabou chamando lorde Gilton com discrição e discutiu com ela a instabilidade mentaç de lady Gilton. Lorde Gilton, que tinha muitos casos extra-conjugais e sabia que a esposa fazia o mesmo, espantou-se ao encontrá-la na residência londrina de Rothbury.
O casal partiu uma hora mais tarde, apesar dos resmungos de Cordélia. Assim que eles foram embora, Charlotte correu para Rothbury e abraçou-o apertado. Ele a segurou com carinho e beijou-lhe os cabelos.
Ela olhou para cima.
-Você não acreditou que eu escrevi aquela carta, não é? Você sabia que não era eu?
Ele anuiu sem entusiasmo.
-Bem, eu esperava que não fosse.
-Eu o amo, Rothbury e nunca o deixarei.
Eçe sorriu com oa olhos brilhantes de amor.
- Você não está mentindo?
- É evidente que não.  - Charlotte lembrou-se de algo. - Mas eu já  menti.
- Suponho que esteja no mesmo nível. Eu também menti.
- Bem, não foi bem assim. Você me enganou. Bem, eu...talvez eu também o tenha enganado.
Rothbury ergueu uma sobrancelha.
- Naquela noite em qie você foi à minha casa e acabou na minha cama, acordei com suas palavrs suaves, mas fingi estar adormecida.
- Quer dizer que me enganou fingindo dormir? Charlotte, esse é um assunto que não vale a pena ser discutido.
-Pode ser. Nesse caso é possível que outro pequeno segredo não o surpreenda. Eu entendo francês perfeitamente.

Mais tarde aquele dia, Charlotte estendeu-se como uma gata preguiçosa no leito do marido.
Eles haviam feito amor pela terceira vez naquele dia, e ela sentia as pernas e os braços gloriosamente pesados.
Seria possível morrer de amor?, imagimou, sorrindo.
A notícia do casamento secreto deles se espalhara por toda Londres e havia uma avalanche de convites na salva de prata do saguão, sem dúvida dos maiores boateiros da capital.
Rothbury fora até o grande hall atender a uma solicitação de seu advogado.
A porta do quarto foi aberta. Charlotte,  nua, sentou-se agarrando o lençol contra o peito, alarmada com o espanto na fisionomia do marido.
- O que houve?
Rothbury mostrou uma carta.
-De quem é?
- Do padre Armstrong. Após uma investigação, concluiu-se que a ponte que cruzamos ainda estaba em solo inglês. A aldeia escocesa de Dirleton, fica a cerca de três quilômetros de distância.
-O que significa...
- Que eu sou um espoliador de inocentes e que você, minha adorada, não é minha esposa. Nós não estamos casados.
Os dois se encararam em silêncio por um momento.
E de repente começaram a gargalhar até mais não poder.
Rothbury deitou-se na cama ainda rindo, mas logo as risadas se transformaram em beijos, suspiros de prazer, confissões de amor e planos para obter uma licença secreta mais tarde, assim que saíssem do quarto...

Um Conde Sedutor (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora