Capítulo XVII

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Um cavalheiro sempre controla seu temperamento.


Ocorreu a Charlotte,  enquanto dançava uma quadrilha com o parceiro, que adoraria torcer o pescoço de Rothbury.
Havia pouco mais de duas semanas, ela chegara a suspeitar que o conde tivesse uma afeição secreta por ela. Mesmo que não se tratasse de amor, era de se supor que fosse mais do que amizade.
Independentemente da natureza das emoções de Rothbury, ele os ocultava, assim como fazia com tudo o qie se relacionasse à sua própria vida. Decidida, Charlotte resolveu recusar-se a facilitar o ataque. Se ele a desejava, teria de esforçar-se para alcançá-la e fazer jus às suas pretensões.
No entanto, estava disposta a fazer o impossível para descobrir os verdadeiros sentimentos de Rothbury.
Não seria muito fácil e ela poderia perder um pouco de juízo no processo, mas estava preparada.
As dúvidas restantes se evaporaram quando o viu agarrado na balaustrada da galeria, perscrutando a aglomeração, provavelmente à sua procura.
Sentiu o olhar de Rothbury aquecê-la de dentro para fora. Notando que seus passos se tornavam mais leves, deu um sorriso largo para o parceiro e riu à vontade dos chistes sem graça.
A melodia chegou ao fim e era hora d evoltar ao lado de sua mãe.  Em vez disso, Charlotte cruzou o salão de baile com a cabeça erguida e ficou satisfeita em saber que os olhos de Rothbury a seguiam.
Naquela noite ela revelava um comportamebto diferente. Em vez de constranger-se ao entrar no salão,  mostrava-se muito mais à vontade.
Cjegara a pensar que a timidez e a quietude lhe permitiam observar detalhes do comportamento alheio, pequenas coisas que poderiam passar despercebidas a outros. Uma mudança no tom de voz quando alguém se sentia aborrecido, o arfar de uma jovem ao ser convidada para dançar por um belo cavalheiro e o próprio desapontamento quando perdia a esperança de ser notada. Coisas que nem fariam os demais erguerem uma sobrancelha.
No entanto, naquela noite descobria o quanto se deixava passar quando a cabeça se conservava abaixada. De cabeça erguida era vista por todos em vez de passar o tempo observando o próximo.
Sua postura recém-adquirida atraíra o sr. Holt. Viúvo de trinta e poucos anos, fora seu último parceiro de dança. Tinha cabelos castanho-avermelhados, um sorriso agradável e era um dos amigos de Rothbury.
Ela se encontrava perto da mesa de comidas e bebidas, depois do sr. Holt beijar-lhe a mão e desejar uma boa noite, quando Tristan apareceu a seu lado.
- É um prazer revê-la - ele falou.
- Milorde - Charlotte respondeu com um aceno de cabeça.
- Permita-me perguntar se reservou uma valsa para mim esta noite?
Ela enrubesceu, esquecida do estranho encontro daquela tarde.
- Sinto muito. Esqueci-me do pedido e meu cartão de danças está completo.
Ele pareceu... aliviado.
- Então aceita uma taça de ponche?
Ótima ideia. Na verdade, o ponche dos Langley era uma mistura aguada e quente feita com vinho de qualidade duvidosa, mas seria maravilhoso Tristan servi-la, contanto que Rothbury estivesse observando.
- Sem dúvida. Depois ds última dança, estou com muita sede. - Em uma ilha deserta com nada para beber além do ponche dos Langley, ela preferia beber água do mar e morrer.
Ele sorriu e os vincos ao redor de sua boca foram uma moldura perfeita para os lábios esculpidos.
- Maravilha. Voltarei em seguida.
- Eu o aguardarei. - Charlotte esmerou-se no sorriso.

Sua esposa acabava de aceitar uma taça de ponche de um homem morto.
Rothbury afastou-se da balaustrada e desceu a escadaria, de olhar fixo em Charlotte e Tristan.
A multidão pareceu afastar-se enquanto ele cruzava o salão.  Ele parou ao chegar perto de Charlotte,  admirado por sua beleza. Ela isava um vestido azul-claro com mangas curtas e bufantes e corpete de decote profundo mal disfarçado pela renda, o que a deixava mais provocante.
Uma faixa estreita de renda enfeitava o pescoço delicado e os cabelos loiros haviam sido presos para cima com adornos de pérola. Charlotte estava elegante e refinada, ma studo o que ele desejava era desnudá-la e lamber-lhe o corpo de alto a baixo.
Só então se lembrou de Tristan e encarou-o.
- Rothbury - Tristan o saudou.
Carrancudo, ele não respondeu e fitou Charlotte.
- Preciso conversar com você - ele resmungou.
- Isso terá de esperar. - Ela fitou Tristan. - Será que não reparou na bondade de lorde Tristan que me trouxe uma taça de ponche?
Rothbury tirou a taça da mão de Charlotte e jogou o conteúdo dentro de um vaso de samambaia.
- Vai me agradecer mais tarde.
- Sua rudeza é inacreditável - ela murmurou.
- Pouco me importo com isso - Rothbury respondeu no mesmo tom.
Com o canto do olho, ele observou com satisfação Tristan empalidecer e começar a suar.
- Acabo de lembrar-me... srta. Greene, que pedi... pedi a srta. Langley para dançar... eu acho. Até mais. - Tristan saiu, apressado, sem olhar para trás.
Ela estreitou os olhos.
- Não entendo o que aconteceu que merecesse tanta grosseria.
- Precisamos conversar, Charlotte.  Agora.
Ela pensou em protestar, mas cerrou os lábios diante do olhar feroz de Rothbury.
- No terraço. Irei na frente.
- Está bem, mas como o encontrarei?
- Estarei esperando.
- Sim, mas...
Ele virou-se e rumou em direção às portas do terraço com passos largos e decididos. Charlotte admirou-se por ele não atropelar os convidados que estavam no caminho.
Ela esperou um pouco e impacientou-se. Não tardaria a começar uma música country que na certa perderia. Se o parceiro viesse à sua procura e a encontrasse no terraço a sós com Rothbury,  sua reputação estaria arruinada. Santo Deus, e se sua mãe descobrisse e insistisse para eles se casarem?
Como de hábito, ela passou para o outro lado margeando as paredes. Ninguém pareceu notar quando cruzou as portas francesas e enfrentou a noite escura e fria.
Um casal estava junto à balaustrada, olhando o jardim, sussurrando e rindo. Envergonhada, passou por eles e desceu os degraus até a escuridão da parte inferior. Não imaginava onde Rothbury se encontrava, nem mesmo se ele fora para mais longe.
Tentou adaptar-se à escuridão, porém mal conseguia ver a mão diante do rosto. Quando resolveu voltar, sentiu que a seguravam pela cintura. Voltou-se e deu um choramingo ao sentir os lábios de Rothbury pressionando os seus.
A boca de Rothbury era quente, voraz e inebriante. Sem luvas, ele a acariciou nas costas, segurou-lhe os quadris e apertou-a de encontro a ele.
Charlotte gemeu diante do cerco glorioso que ele erguia ao redor de seus sentidos. Ela também desejava tocá-lo, mas era preciso concentração extrema para fazer pequenos movimentos como, por exemplo, erguer os braços. Ela deslizou as mãos pelos braços fortes, subiu até a nuca e entrelaçou os dedos nos cabelos espessos e pressionou o corpo no de Rothbury.
Ele a virou e encostou-a na parede de pedra do terraço. Tocou-a na boca com um dedo e ela facilmente entreabriu os lábios. Rothbury mergulhou a língua no interior ainda desconhecido, procurando a de Charlotte que sentia os próprios ossos amolecerem.
Ele moldou-lhe um dos quadris com uma das mãos,  subiu pelo tórax e se deteve no busto. Ela gemeu dentro da boca de Rothbury quando ele roçou o polegar no mamilo coberto pela roupa. Ansiosa para receber mais carícias,  ficou nas pontas dos pés,  erguendo os quadris e estremeceu de prazer ao sentir a excitação dele pressionada em seu ventre.
Devagar, como se temesse perder o controle, Rothbury se deteve no pescoço com inúmeros beijos que fizeram Charlotte arrepiar-se. Os movimentos dele se tornaram mais lentos aos poucos até cessarem.
Ela endireitou os ombros.
- O que está fazendo? - ela perguntou, arfando.
- Charlotte,  eu não a possuirei aqui fora de encontro à parede.
Por que não? , ela gostaria de gritar.
Era preciso recobrar o juízo. Rothbury estava certo. Afinal, eles se encontravam em um jardim e qualquer pessoa poderia passar por ali. Charlotte apoiou as mãos no peito dele e empurrou-o. Rothbury não se moveu.
- Hoje eu a vi saindo da residência de Tristan e Rosalind...
Por que esteve lá?
Rothbury acariciou-lhe o pescoço e os ombros. Era delicioso, mas ela precisava concentrar-se.
- Ele queria pedir permissão para dançar comigo.
Mesmo sem ver-lhe o rosto, Charlotte intuiu que ele franzia o cenho.
- E me parece que ele não foi tão bem sucedido.
- É sobre isso que milorde desejava conversar comigo?
- Não.  É sobre algo muito mais importante.
A música soou através das portas fracesas. A dança recomeçara. Se ela não voltasse ao salão,  sua mãe ou o próximo parceiro logo sairiam à sua procura.
-Isso terá de ser deixado para depois. Pela primeira vez na história de minha vida, meu cartão de dança está lotado. Pode acreditar em uma coisa dessas?
- Meu assunto não pode esperar.
- Quer mesmo saber? Cinco homens já pediram permissão para visitar-me amanhã.
Rothbury olhou para os pés,  subitamente desanimado. Não seria fácil revelar a Charlotte o que acontecera. A felicidade que ela demonstrava pela atenção de outros homens, em especial de Tristan, significava que ela não ficaria nem um pouco encantada com a novidade. Achou conveniente deixá-la aproveitar a festa e desfrutar de atenções bem merecidas. Ela estava deslumbrante naquela noite e não era apenas na vestimenta.
Ela se as ovimentava de maneira diversa da usual. Em vez de passos hesitantes e olhos baixos, andava com ares de confiança em si mesma, como se finalmente houvesse assumido a própria beleza em vez de esforçar-se para dominar a mesma.
E pelo visto, ele não fora o único homem a notar a mudança.
- Quantas? ele perguntou, mal-humorado.
- Quantas o quê?
- Músicas ainda prometidas?
Ela pensou por um momento.
- Quatro.
Rothbury passou a mão no queixo.
- Cristo, isso poderá levar a noite inteira.
Charlotte deu um passo e posicionou-se sob um raio de luz proveniente do salão.  Como fizera tantas vezes, ela o fitou com seriedade, como se o analisasse e quisesse ler seus pensamentos.
- Talvez eu possa inventar uma dor de cabeça.
- Não.  - Rothbury resignou-se com a solução tomada. - Esperarei o quanto for necessário.  Aproveite.
Aquela seria a última vez que ele deixaria qualquer outro homem tocá-la.

Um Conde Sedutor (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora