Capítulo V

3.9K 341 9
                                    

As roupas do cavalheiro eram excelentes no corte e caimento, mas o tecido era modesto.

Sem perder o sorriso inocente, Charlotte tentou desesperadamente aparentar frieza e um controle que não sentia, pronta para fugir.
Não havia meio termo para ela. Ou sua timidez a impedia de falar ou cometia um ato tão estranho e repentino que a fazia temer ser levada ao manicômio.
- Rothbury?
Ela fez o possível para não olhar o peito desnudo e sentiu o rosto em fogo de tanta vergonha. Havia pensado que Rothbury soubesse de sua vinda. De acordo com o mapa, ela deveria ter escalado a parede que dava acesso ao escritório. Nelly devia ter invertido a posição dos recintos.
Mesmo assim, não pretendia recuar. Yempos atrás, se obtivesse visto embrulhado em um lençol, teria saido pela saída mais próxima.
Seu comportamento fora guiado pela excitação e pelo desespero. E naquela noite era uma mulher desesperada. Os olhos ambarinos de Rothbury brilhavam sob a luz do luar. Mais uma vez ela agradeceu às sombras que escondiam seu rubor. Fosse proposital ou não, aquelenolhar sempre dava a impressão de provocar e seduzir, o que a fazia tagarelar bobagens. Isso sem mencionar a aparência irresistível que a fazia sentir os ossos amolecidos como manteiga ao sol.
No momento, contudo, sua bela fisionomia denunciava traços de suspeita.
- Diga logo o que pretende, Charlotte. - Ele deu mais um passo adiante.
Ela recuou e tropeçou na barra rasgada, o que puxou o vestido por trás.
- Vim aqui para pedir sua ajuda. - A proximidade de Rothbury deixava sua pele em fogo e ela teve a ideia insensata de que seus olhos estavam a ponto de ficarem enevoados. Não havia vomo negar o efeito predatório sobre ela. - O que esta pretendendo, Rothbury? Será preciso ficar tão perto?
- Qual o problema, Charlotte? - ele caçoou. - De repente sua decisão de vir ate aqui esta noite deixou-a com segundas intenções?
- De ma-maneira nenhuma. Somos amigos e não temos intenções românticas um a respeito do outro.
Deus era testemunha de que ela se interpusera em seu caminho várias vezes... e se retirara com resultados bem humilhantes. Ela o conhecera quando fora apresentada à sociedade. E nos últimos três meses como sua amiga, ele não levantara um dedo que fizesse supor uma possível sedução. Ela conhecia sua maneira de agir. Quando ele desejava alguma coisa, ou alguém, atacava como uma víbora, sem a menor hesitação.
- Além do mais - ela acrescentou -, depois que você se recusou a responder as minhas cartas por teimosia, não tive outra escolha a não ser vir até aqui para conversarmos. Você sabe muito bem que uma dama desacompanhada não pode visitar um homem, seja de dia ou de noite.
- Nesse caso posso afirmar que não se preocupa com sua reputação.
- Por isso mesmo pensei em encontrá-lo à noite. Era o caminho mais seguro para não ser descoberta.
Não era novidade o fato dos Greene morarem perto. A presença de Charlotte em sua casa naquela noite certamente não requerera um modo de operação detalhado digno de um capitão naval. Ela nem mesmo tivera de alugar uma carruagem.
- E o que acontecerá se seus pais acordarem e descobrirem sua ausência?
- Ter pais idosos tem suas vantagens. Eles dormem bastante e têm o sono pesado.
- Não pensou em sua segurança? - Com a mão livre, ele soltou um cacho dos cabelos loiros que havia se enrolado na fita do chapéu.
Charlotte bateu-lhe na mão.
- Não sou uma tola! - Ela apontou a janela com um gesto de cabeça. - Eu vim com Ne... com George.
- E ele é...
- Um de nossos lacaios mais corpulentos.
Ele resolveu olhar para fora da janela, o qie foi uma bênção. Era muito arriscado para uma dama contar com a atenção total de Rothbury. Isso sem mencionar o fato de ela perceber, de repente, que ele nada usava sob o lençol e que se aproximava aos poucos. Tentou pensar em outras coisas para não imaginar o que o lençol cobria. Jardinagem, por exemplo. Sim, ela adorava mexer no jardim. Cultivar peônias, lírios do vale, crisântemos. ..
- Charlotte - ele tornou a fitá-la -, lá em baico só vi uma criada rechonchuda vestida com roupa de homem.
Ela piscou e por um momento ficou sem fala.
- Você tem olhos de águia- ela admitiu, atônita.
- Já me disseram.
- Apesar do que pode estar pensando, Nelly oferece bastante segurança.
Ele aproximou-se mais um pouco. Ela notou o calor, o cheiro de limpeza e um leve aroma de conhaque. Com os nervos à flor da pele, deslizou para trás, mas seu calcanhar bateu na parede.
- E... ela pode lutar com qualquer homem, talvez até melhor - Charlotte falou, depressa, e anuiu como uma boba quando ele ergueu uma sombrancelha como se duvidasse. - É verdade. Uma vez um ladrão invadiu nossa casa pela porta da cozinha. Nelly esperou nas sombras até ele entrar e bateu na cabeça do bandido com uma perna de boi. E orgulho-me de dizer que ela o deixou desacordado. - Oh, Deus, se ao menos pudesse não tagarelar!
- Mas a sua Nelly está lá em baixo. - Ele abaixou o olhar e analisou a silhueta esguia. - E quanto a maldade que pode acontecer aqui... comigo?
Ela gostaria de imitá-lo, mostrar que, ao contrário das outras mulheres, sabia como se manter fria e não afetada por sua proximidade. Além do mais, entendia que Rothbury brincava com ela, o que a deixava amuada como uma criança. Mas foi esse aborrecimento que lhe deu forças. Pensando em agir com indiferença, também abaixou o olhar, mas se deteve no punho largo e bronzeado que segurava o lençol na cintura esculpida. Sentiu-se enrubescer e tratou de mirar novamente o belo rosto angular.
- O que pensa fazer para proteger-se... em caso de urgência? - ele perguntou sorrindo, como se tivesse lido os pensamentos de Charlotte.
- Bem, se houvesse necessidade de proteger-me de seus avanços libidinosos, eu usaria a sombrinha - ela explicou, levantando os ombros, orgulhosa pelo tom de frieza que escondia a ansiedade. - Além disso, sinto-me completamente segura a seu lado. Afinal, somos como irmãos.
- Não tenho nenhuma irmã. - Ele inclimou-se para a frente, apoiando a mão livre na parede atrás dela.
- Bem, caso tivesse uma. - Ela anuiu e, com a mão livre, empurrou o peito de Rothbury que não se mexeu.
- Vamos esquecer tudo isso, está bem? Eu gostaria de provar meu ponto de vista e para isso teremos de fingir por um momento que eu a acho atraente e que sua virtude encontra-se ameaçada.
- Improvável- ela caçoou.
Ele olhou a mão de Charlotte que se apoiava na sua pele cálida e desnuda, e depois mirou seu rosto demonstrando uma emoção que ela não reconheceu.
- Eu a desejo. - Ele engoliu em seco. - e toda vez que estás os perto, sua fragrância e sua voz penetram em minha alma.
- Não diga - ela murmurou com uma risada. - Você tem muita lábia e dá. Impressão de que acredita em si mesmo.
- Pois acredito.
Ela suspirou e supôs que a única coisa pior do que ser importunada por um homem atraente, lindo, devasso e manipulador, era lê-lo como amigo.
- Pare com isso, Rothbury. Não tem graça.
Corada, olhou para a mão que tocava no peito largo. Retirou-a depressa e fingiu examinar atentamente a ponta do indicador que machucara em um espinho durante a escalada. Esperava qie a pequenina gota de sangue chamasse a atenção dele e o distraísse.
O que apenas piorou a situação. Rothbury cobriu-lhe a mão com a sua com um movimento que indicava uma carícia. Ela engoliu em seco.
- Solte minha mão, seu depravado.
- Ela é minha. - Ele levou as mãos até os lábios entreabertos.
Bom Deus! Ele pretendia por o dedo na boca? Charlotte sentiu a respiração afundar até os joelhos, como se isso fosse possível. Era preciso dar um basta naquela situação. Pensou em empurrá-lo, mas seus músculos não a obedeceram.
- Então, o que pensa fazer? - ele se inclinou.
Charlotte viu-lhe a ponta da língua e sentiu o coração bater em descompasso. Rothbury era magnífico sob a luz do luar, mas ela não suportaria mais provocações. Levantou a sombrinha e apontou para o peito musculoso.
- Vá para trás.
Ele ergueu uma sombrancelha, olhando o dedo, a sombrinha e vice-versa.
- Eu o estou avisando.
Ele afastou a mão da parede, tirou a sombrinha da mão de Charlotte e jogou o objeto para trás com um olhar que indagava o que ela faria sem a arma.
- Pare com isso. - Ela torceu os lábios. - Entendo seu ponto de vista. No entanto, tenho um bom motivo para estar aqui e certamente não estou procurando por sua marca de devassidão.
O olhar de Rothbury esfriou. Cortinas fechadas, cena terminada. Graças aos céus ela era esperta e enérgica o suficiente para não ser apanhada na armadilha. Não havia siceridade em suas palavras. Para ele, o papel de vilão fazia parte de uma atuação que ele manipulava de acordo com sua vontade. Fitou-a por um minuto, afastou-se e desapareceu no quarto escuro.
Charlotte sentiu frio, estremeceu e arrepiou-se.
- Então o que estava procurando? - A voz perdeu a intensidade quando ele se afastou.
Uma porta foi aberta na outra extremidade e em seguida, pelos sons de tecido na pele nua, Charlotte supôs que ele se vestia.
- Se houvesse lodo minhas cartas, saberia a resposta. - Ela deu uma tossidela, ansiosa para falar. - Para início de conversa, vim perguntar-lhe por que não me disse que Harriet desistiu do casamento e que Tristan está livre.
Ela assustou-se quando uma porta, cuja existência passara despercebida até o momento, foi aberta atrás dela e depois fechada.
Rothbury,  vestido com uma camisa branca solta e calças castanhas, rodeou-a com o andar de uma pantera. Ele parecia irritado e tenso.
Uma sensibilidade súbita e forte a fez tremer de apreensão. Era inegável que se encontrava em território inimigo. E se fosse outra mulher, uma que ele considerasse atraente, para ser mais precisa, não haveria dúvida de que sua virtude estaria em perigo.
Ele acendeu as velas de um castiçal que estava sobre uma das mesas de cabeceira e um brilho dourado iluminou o recinto. Era verdade. Não havia poltronas naquele aposento ou ela supunha que não houvesse. Charlotte não conseguia desviar a vista da enorme cama de mogno encimada por um dossel apoiado em quatro pilares. A colcha cor de chocolate estava amontoada aos pés da cama e um lençol cor de mel se encontrava com a metade jogada no chão.
Ela resistiu à vontade de abanar-se. Por Deus, ele deixara o lençol ali quando se afastara. Portanto fora despido até o quarto de vestir. Isso significava que havia cruzado o cômodo totalmente nu. Com ela ali. E durante, no mínimo, cinco segundos!
Ele cruzou os braços sobre o peito largo e fitou-a com seriedade, parecendo irritado. Talvez preferisse jogá-la pela janela, o que seria justificado levando-se em consideração o comportamento extravagante que ela tivera naquela noite.
- Então seu Tristan está livre. O que tem isso a ver com tudo?
- O que tem isso a ver... Como pode fazer-me tal pergunta?
- Não acabei de perguntar?
- Você está de mau humor.
- Por favor, o que tem a ver a desistência de Harriet Beauchamp com o fato de você estar em meu quarto... - Rothbury observou o relógio sobre o consolo da lareira - ... à meia-noite e meia, usando um vestido em que falta o terceiro botão?
Charlotte olhou para baixo e realmente faltava o botão no traje verde-escuro.
- Oh... Você tem uma visão espantosa. O oposto de mi...
- Por ventura achou a separação deles chocante? - Ele mudou a perna de lugar. - Quando Tristan pediu Harriet em casamento, ela pensou que se casaria com o herdeiro presumível de um ducado ou que provavelmente dsria à luz a um no futuro. Pense bem. Com o casamento do duque, ela se viu comprometida com um homem que tinha apenas um título de cortesia.
- Entendo, mas eu não esperava isso, o que me traz ao motivo por eu ter vindo até aqui.
- Graças a Deus.
- Vou ignorar seu sarcasmo.
- Muito esperta, prossiga.
- Muito bem - ela falou com cautela. - Tenho a impressão de que houve o esquecimento de uma ocasião muito especial. O baile a fantasia dos Hawthorne na próxima semana.
Rothbury não havia esquecido, mas procurava evitar Charlotte com a aproximação do baile. Sabia que Tristan estava livre e que compareceria à festa. Não tinha nenhuma vontade de vê-la enrubescer e gaguejar na presença do amigo. Deveria saber que isso aconteceria. Ela contara que havia se enamorado de Tristan no dia que o rapaz salvara ela e a mãe da carruagem tombada, e, como se fosse obra do destino, ela fora selecionada para participar do baile da escolha da noiva. Naquela altura, depois dos colunistas de boatos anunciarem a desistência da noiva, ela deveria estar extasiada, achando que teria sua segunda chance.
- Esta manhã recebi uma carta de minha prima - ela continuou, decidida a convencê-lo -, onde afirma que você enviou a ela um pedido de desculpas por não poder comparecer. É preciso ir ao baile de qualquer maneira. Tristan vao estar lá.
- Que ótimo - ele murmurou. - Divirta-se.
Ela começou a torcer as mãos.
- Você tem de ir - insistiu. - Como seu amigo, tem de me apoiar. Não suportarei permanecer no mesmo recinto com ele depois de tudo o qie houve entre nós.
- Não olhe para ele. - Ele encolheu os ombros. - Tenho certeza de que haverá muitos convidados e não será difícil evitá-lo.
- Mas eu necessito de você para implementar meu plano.
Rothbury ficou sem fala por um momento diante da declaração que Charlotte necessitava dele.
Plano?
- Ao que está se referindo?
- Bem, como certamente não deve ter esquecido, você me deve um favor.
- Ah Cristo! - ele resmungou, passando uma das mãos nos cabelos desgrenhados.
- Espere - ela tentou apaziguá-lo. Você nem sabe o que vou dizer.
- Nem precisa falar, eu ja sei.
- Impossível.
- Charlotte,  eu não sou um casamenteiro.
- Não quero que force um casamento entre Teistan e eu. No entanto, você, mais do que qualquer outra pessoa, conjece seu amigo. Talvez até melhor que a família dele.
- Pode ser que não. Escute. Você é a amoga íntima da esposa do duque. Por que não pede a eles para ajudar a acorrentar Tristan?
Ela olhou para o chão.
- Eles ainda estão no País de Gales e, além disso, são contra esse matrimônio.
- Isso não lhe serve de alerta? A própria família de Tristan acha que ele a fará infeliz.
- Eles não entendem. - Ela sacudiu a cabeça. - Você também não entende. Ele prometeu...
- Homens prometem uma porção de coisas quando desejam uma mulher.
- Já conversamos sobre isso antes. Eu não inspiro tais sentimentos.
Pelo olhar sincero, ansioso e cheio de esperança de Charlotte, Rothbury teve certeza de que ela acreditava na própria afirmação.
- E quero modificar isso com sua ajuda - ela afirmou e encarou-o, hesitante.
Ele cerrou os dentes para não dizer uma imprecação.
Ela deu um passo à frente e ele recuou, encontrando a parede.
- Charlotte, não posso ajudá-la. - Virou a cabeça para não ver a esperança que brilhava no olhar azul, fazendo-o desejar... coisas que não deveria querer. - Tenho meus próprios problemas - explicou com voz mal audível.
- Preciso apenas de seus conselhos... para fazer com que Tristan se sinta atraído por mim e que me deseje com loucura. Quero que ele me olhe de novo e entenda que deveria ter me escolhido da primeira vez. Faço questão de que ele fique com ciúmes, Rothbury. Será que é tão difícil ajudar-me?
Ele fechou os olhos. Que mal haveria nisso? Alguns encontros orquestrados e alguns conselhos. Um par de dias e ela ficaria satosfeita. Ou então,  frustrada. Depois da desistência de Harriet, Tristan finalmente admitira que a proposta havia sido apressada. Ele não precisava mais se casar para prosseguir a linhagem da família,  pois seu irmão mais velho se encarregaria alegremente da obrigação. Tristan agora estava livre para entregar-se a farras, orgias e desperdiçar dinheiro como costumavam fazer os segundos filhos. No passado, ele talvez houvesse demonstrado interesse por Charlotte,  mas naquela altura não pensava mais em casamento. Todavia, seria impossível Rothbury garantir alguma coisa, pois não estava dentro dos pensamentos de Tristan.
- Ela disser ciúmes?
Ele voltou a fitá-la.
- Estarei enganado ou a ouvi dizer que pretende deixar Tristan com ciúmes?
- Foi isso meamo que escutou.
- Como... vingança?
- Sim! - Ela impacientou- se e arregalou os olhos cor de safira.
- Então não quer... não deseja conquistar Tristan agora que ele está livre?
- Não - ela respondeu com voz fraca e não convincente como ele gostaria que fosse.
- Charlotte, não seja tão ingênua. Eu deveria deitá- la em meu colo e...
- Pare com isso. - Ela revirou os olhos. - Talvez uma pequena amostra de humilhação seria suficiente.
- E o que acha de um pouco de mendicância?  - Ele deu risada diante do suspiro de frustração de Charlotte.  - Esta bem, ficarei sério.  Por favor, prossiga.
É evidente que não pretendo que isso se prolongue. Tenho outras coisas para fazer e preciso trabalhar depressa. O tempo é essencial. Esta é minha última temporada. Preciso atrair um pretendente antes que minha mãe invente outros planos. Seria pedir-lhe muito para examinar em detalhes minha lista de maridos apropriados enquanto estivermos lá?
Marido apropriado.
Rothbury teve a impressão de ter sido ferido a o peito. Tratou de afastar a ideia e pensar na tarefa que lhe caberia. Ele a interpretara mal. Ótimo! Essa versão o agradava mais. Pelo menos, teria uma desculpa para flertar com ela e alegrar-se. Não podia saber se aquilo daria certo, mas ainda assim parecia engraçado.
Engraçado e torturante?
Suspirou, resignado?
- Olá? - Charlotte acenou com a mão diante do rosto de Rothbury para chamar sua atenção. - Ainda não respondeu a minha pergunta.
- Eu a ajudarei, mas não posso prometer os resultados pretendidos.
Ela deu um pulo no lugar e juntou as mãos,  o que o fez sorrir e duvidar da própria determinação.  Ele seria tão pouco enérgico? Provavelmente. Mas admitiu que isso tinha algo a ver com a oportunidade de passar mais tempo com uma jovem que sempre o fazia reprimir um sorriso, mesmo quando o frustrava.
- Obrigada, muito obrigada! - Ela alegrou-se e surpreendeu-o ao correr para ele e abraçá-lo.
Rothbury ficou imóvel e conservou os braços largados durante o cerco gentil. Encantara exóticas cantoras de ópera que, saudosas, voltavam à sua cama. Aquecera cortesãs insensíveis ao confessar amor imorredouro e seduzira um cem-número de beldades melindrosas e tão volúveis quanto ele. Mas o abraço de Charlotte o perturbava, deixando-o desequilibrado.
Não queria que ela se afastasse, mas também não ousava segurá-la. Sem dúvida, se a enlaçasse, tudo o que sentia e pensava acabaria exposto no calor de seu abraço e não haveria retorno. Seria descoberto, revelado e humilhado.
Após alguns momentos, ela se afastou, foi até a janela e voltou depressa.
- Pode usar a escada para ir embora - Rothbury brincou.
- Eu quase esqueci.
- Do quê?
- Da minha fantasia. Com tantos convidados,  como será capaz de me reconhecer?
- Não pense em ir a pé para casa - ele mudou de assunto. Na verdade, não o interessava saber o que ela vestiria nem a quem representaria. Isso serviria para inflamar sua imaginação,  alimentar seus sonhos e causar uma agonia desmedida. - Minha carruagem a levará para casa, acompanhada de sua criada gorda.
- Não quer mesmo saber?
- Tenho certeza de que serei capaz de encontrá-la. Não se preocupe.
- Ah, também ia me esquecendo de contar uma coisa. - Ela olhou-o com ar entendido. - Sei que ficará feliz em saber que lady Rosalind também estará na festa.
- Lady Rosalind?
- Sim, isso não o deixa feliz? - ela perguntou e deu um grande sorriso.
Mas a quem pretendia enganar? Estava muito cansado para fingir interesse em Rosalind. Ergueu uma sombrancelha e esperou parecer sincero.
- Mal posso me conter, minha querida.

Um Conde Sedutor (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora