Capítulo VIII

3.3K 323 11
                                    

Um cavalheiro sempre concede atenção total a uma dama.

Decidi permitir que o conde de Rothbury me seduzisse.
- Permitir?
- Por acaso esqueceu-se de que para ser seduzida tem de ser, no mínimo, um tanto resistente à sedução? E nós sabemos que você se entregaria a ele de boa vontade.
Ao comentário seguiu-se uma sinfonia de risadinhas.
Charlotte que, sem nenhum esforço da imaginação, teve de ser participante da conversa que a rodeava, considerou um triunfo pessoal ter conseguido não revirar os olhos, embora nem as gêmeas Fairbourne, nem Laura Ellis haveriam de notar o fato, caso ela o tivesse feito. Estavam muito ocupadas em olhar para Rothbury.
Depois de ter caído vergonhosamente no colo de um homem de oitenta e três anos, ela tivera de enfrentar ombro a ombro um aglomerado de pessoas, o que retardara seu avanço pelo salão até ser obrigada a deter-se perto do trio de tagarelas. As jovens continuaram o colóquio,  sem se importar em serem ouvidas. Charlotte tentou se afastar das moças, avançando centímetro por centímetro, sem conseguir.
- Então trate de resolver logo - Belinda Fairbourne advertiu. - Antes qie ei vá falar com ele. - Endireitou a emplumada máscara de cisne com uma fungada de orgulho.
- Quer fazer uma aposta? - Laura Ellis perguntou. As joias se espalhavam pelo corpete azul-escuro que imitava o modelo das penas de um pavão e brilhavam sob a luz dos candelabros.
- Pode ser. - Bernadette Fairbourne, vestida como uma pomba branca, ergueu o nariz arrebitado para desafiar o pavão. - Preciso dizer que a vantagem será minha. Milorde parece muito distraído esta noite e posso imaginar o motivo.
- De fato - Charlotte murmurou finalmente, depois de encontrar coragem para falar. Impedida de se locomover, pois uma pessoa bloqueava sua passagem, achou que poderia interferir. - Lady Ros...
As palavras morreram em sua garganta quando o Cisne, o Pavão e a Pomba viraram a cabeça em sua direção. Era como se houvessem notado sua presença apenas naquele instante.
E pelas fisionomias sérias, não foi difícil suspeitar de que as três não haviam gostado de sua participação. Elas estreitaram os olhos, mas Charlotte ficou impassível, embora as receasse.
- Eu quis dizer que se ele parece distraído, é bem provável que esteja observando...
- Sabemos quem ele está observando, Marreca - a Pomba respondeu. - E certamente jamais será você.
Aquela era uma verdade inegável, Charlotte refletiu. Deus era testemunha de quantas vezes estivera no caminho de Rothbury e ele nunca tentara nenhuma sedução, flerte ou sequer um olhar de amolecer os ossos. Ele caçoava dizendo que era pelo fato de serem amigos, mas ela era esperta o suficiente para não o levar a sério.
Charlotte deu uma tossidela.
- Não era o que eu pretendia sugerir...
O Cisne engasgou, pressionando as pontas dos dedos nos lábios e ficando muito vermelha.
- Ele está olhando para cá - ela conseguiu falar, excitada.
Charlotte respirou e resistiu à vontade de seguir o olhar dos três pássaros.
Nisso a multidão rareou e um grande número de homens foi para o terraço, provavelmente para fumar e Charlotte desejou que Witherby estivesse entre eles. Afinal conseguira cjegar até ali e odiaria tropeçar no visconde naquela altura.
Rapidamente tentou aproveitar a oportunidade e passar pela abertura, mas um pavão, mais baixo que o outro enfeitado com joias, teve a mesma ideia, embora em sentodo contrário. Charlotte parou bruscamente para não bater em Lizzie Hawthorne.
- Meu Deus! Ele é um sonho ambulante - Lizzie declarou, com os olhos arregalados para dar ênfase à afirmativa.
- Não sei a respeito de quem você está falando. - Charlotte ergueu o queixo.
- Sabe sim, não queira me enganar.
Charlotte deu de ombros com expressão inocente. Lizzie fez um aceno de cabeça em direção ao conde e com isso agitou as penas azuis espetadas em seus cabelos vermelhos.
- Não acha que ele é simplesmente divino? Poderíamos ir até lá com o pretexto de falar com lorde Tristan.
- Essa é uma grsnde ideia - Charlotte concordou.
- Veja, lorde Rothbury está se afastando. - Lizzie sufocou um grito e levou a mão ao pescoço. - Ele está indo atrás de lady Gilton! Onde já se viu uma coisa dessas?
Charlotte sentiu uma contração no estômago, sem entender o motivo. Sabia muito bem quem era lorde Rothbury. Um verdadeiro tratante. E disse a si mesma que estava longe de sentir ciúmes.
- Ah, por pouco esqueci de lhe contar. Kitty disse que a sogra contou para minha mãe que o criado deles falou para a cozinheira na semana passada que a sra. Breedlove, a última amante de lorde Rothbury, ameaçou atirar-se na frente de uma carruagem em movimento, a menos que o conde reconsiderasse a separação, mas pelo visto ele se recusou a atender à chantagem. Pode imaginar uma coisa dessas?
Charlotte precisou de toda a sua energia para não gemer alto. Gostava de Lizzie. As duas eram da mesma idade e altura, e tinham mães que insistiam em escolher as fantasias mais ridículas para eventos como esses. Mas as semelhanças não iam além disso.
Charlotte era tímida e gostava de observar as pessoas. Lizzie era espalhafatosa, falava depressa, em geral sobre boatos e especulações, e tinha o péssimo hábito de arrastar Charlotte em situações que seria preferível evitar.
Lizzie pôs o braço no de Charlotte e as duas passaram por um grupo de debutantes que davam risinhos e lançavam olhares cobiçosos para Rothbury.
- Não se pode negar que ele é maravilhoso! Você não ficou feliz por sua mãe tê-la permitido vir em vez de passear por grutas e caminhos antigos à procura de fantasmas? - Lizzie  balançou a cabeça em uma menção de descrédito, o que pareceu cômico considerando-se a fantasia que ela usava. - Na certa sua mãe não contava com a presença do conde, pois minha mãe e eu nem pudemos acreditar quando o vimos. Talvez lorde Tristan tenha insistido com ele para vir. Lorde Rothbury e a avó sempre são convidados, mas jamais comparecem. Não posso imaginar o que houve esse ano. Por acaso tem alguma sugestão?
- Na verdade, sim - Charlotte murmurou, sorrindo para lady Rosalind qur retornou o gesto amável quando as viu. - Todos sabem o motivo da presença do conde. É ela.
- Sim, isso pode ser verdade, sabe. Mas pelo que eu sei... e eu sei de tudo, como bem sabe...
- Lizzie, você bem pode bater o recorde em usar o verbo saber em um grande número de vezes na mesma sentença.
-... ela não demontra o menor interesse por lorde Rothbury.
- Lady Rosalind está simplesmente concordando com os desejos de seu irmão,  o duque. - Charlotte fez um gesto de pouco-caso.
-É verdade! Como eu poderia ter esquecido que você é muito amiga da duquesa? Aliás, como estão os recém-casados?
- Muito bem e já nem são mais recém- casados. Eles viajaram de novo para o País  de Gales, antes de ir para a Irlanda.
- Agora que ela se casou, você não deve encontrá-la com frequencia. Sente falta de sua companhia inseparável?
Charlotte, sorriu, pesarosa.
- Bastante, mas fico satisfeita por ter certeza de sua felicidade. Ela tem escrito, mas como não se demoram em um mesmo lugar, ainda não pude responder em tempo hábil. Nós nos encontraremos quando ela voltar. - Charlotte supôs o que Madelyn diria se soubesse de sua amizade com Rothbury.
Na verdade, imaginava as palavras de censura da amiga. Afirmaria que se tratava de uma loucura e aconselharia a manter-se bem afastada de Rothbury. E, com certeza, Madelyn estaria com a razão.
Elas deram a volta em uma coluna de mármore e a gola alta e rija da fantasia de Lizzie bateu acidentalmente na mão de um homem que derrubou a taça de ponche.
- Ora essa! - o homem protestou.
Charlotte arregalou os olhos e piscou para a prima, mas Lizzie continuou a andar sem se importar com a confusão deixada às suas costas.
Charlotte ficou receosa, mas logo apareceu um criado com uma toalha. Ela deu um sorriso de desculpas para o convidado e apressou-se em alcançar a outra.
- Agora esqueci o que eu pretendia dizer. - Lizzie bateu o dedo no queixo e virou a cabeça, quase derrubando uma bandeja cheia de taças de vinho.
O serviçal que carregava a bandeja conseguiu segurar com muita perícia a travessa tremulante e evitou o derramamento da bebida sobre outro convidado.
- Lizzie, o que acha de nos sentarmos? Sua fantasia...
- É horrível, eu sei. E essas penas pavorosas fazem meu nariz coçar.
-Pelo menos sua mãe não a fez fantasiar-se de pastora - Charlotte sussurrou com voz baixa. - Não creio que haja uma pessoa nesse salão em que não tenha batido na cabeça com essa porcaria de cajado. - Olhou o bordão com raiva e depois espiou a gola enorme da prima. As duas juntas poderiam acabar com o baile, o que não seria uma má ideia.
- É verdade - Lizzie respondeu no mesmo tom. - Mas você parece adorável.
- Eu prefiro três adjetivos bem mais apropriados. Absurda. Ridícula. Ofensiva.
- Você se destaca com essa roupa. - Lizzie esboçou um sorriso.
O que não podia deixar de ser verdade, Charlotte refletiu, olhando os casais que rodopiavam na pista de dança. A maior parte das jovens damas usava meia-máscara enfeitada com joias, vestidos brancos e diáfanos que ondulavam na altura dos tornozelos, atraindo olhares apreciativos de muitos cavalheiros.
A vestimenta de Charlotte tinha uma anágua rígida por baixo, o que a fazia sentir-se um papel estufado e sua estatura pequena dava a impressão de que o traje a usava e não o contrário.
Mas nem tudo fora perdido naquela noite. Milagrosamente Charlotte conseguira evitar o terrível visconde Witherby.
- Charlotte - Lizzie murmurou em advertência.  - Não... se... vire. De fato, acho que você deveria sair correndo.
Charlotte fechou os olhos.
- Witherby?
Lizzie anuiu com expressão preocupada.
- Vá embora - a prima disse sem mover os lábios.
Charlotte deu um passo a diante, mas a outra a segurou pelos ombros e empurrou-a em outra direção.
- Esconda-se na biblioteca. Nós estamos redecorando o ambiente e não permitimos a entrada de ninguém ali.
Charlotte acreditou em Lizzie e abriu caminho entre a aglomeração,  carregando o indefectível cajado. A arma na certa adquirira uma reputação de ser nociva,  pois todos que percebiam sua aproximação saíam da frente. Dessa maneira o trajeto tornou-se bem mais rápido do que normalmente seria atravessar um recinto lotado.
Logo chegou ao corredor que levava ao santuário da biblioteca deserta. Apressou-se em notar que o hall ficava mais quieto e escuro à medida que ela avançava.
Lizzie dissera que a biblioteca estava em reforma e fora do alcance dos convidados. Por isso não havia pessoas andando por ali.
Uma mulher usando um vestido branco e esvoaçante surgiu de um cruzamebto bem defronte de Charlotte e não houve como evitar uma colisão com lady Gilton.
A dama permaneceu ereta, apoiando-se na parede com um gesto elegante. Charlotte não teve a mesma sorte. Tropeçou no pé delicado de lady Gilton e voou, junto com o cajado, para a frente, caindo no chão de joelhos e com as mãos espalmadas.
- Ora vejam. - Lady Gilton deu uma risadinha. - A senhorita estava com muita pressa não é?
Charlotte sentou-se sobre os quadris e respirou fundo enquanto procurava dominar a dor nos joelhos feridos.
- Perdão, não a vi milady.
- Engraçado - Lady Gilton disse com um sarcasmo que Charlotte não viu, mas escutou -, não acha? Pela primeira vez em sua vida eu a vejo usando seus óculos em um salão de baile.
Oh, Deus, os óculos! 
Eles deveriam ter caído de seu nariz na queda. Charlotte nem se importou de ver a beldade de língua afiada voltar ao salão sem ao menos pedir licença.
Nervosa, apalpou o chão e suspirou, aliviada, ao encontrá-los. Voltou as lentes ao lugar, agradecendo a Providência por não terem se quebrado.
Levantou-se devagar, pegou o cajado e continuou a andar no corredor escuro, embora mais devagar e mancando. Mexeu na maçaneta da primeira porta com que se deparou e encontrou-a trancada. Não deu importância às batidas frenéticas de seu coração e tentou a porta seguinte que se abriu facilmente por causa das bobradiças bem azeitadas e sem o menor ruído.
Entrou no recinto e ficou surpresa ao encontrá-lo iluminado pelos castiçais de bronze da parede oposta. Fechou a porta e fez uma avaliação do conteúdo da sala.
Havia uma profusão de cadeiras empilhadas, sofás, mesas, armários altos e mais outras peças de mobiliário cobertas de poeira ou com lençóis brancos. Panos estavam pendurados nas estantes das paredes, possivelmente para evitar a poeira dos livros e pinturas.
Ela franziu o cenho. Por que a mãe de Lizzie deixaria as velas acesas em um recinto daqueles? Bobagem, isso não era da sua conta.
Deu mais alguns passos e por pouco não tropeçou em uma almofada ornada com borlas. Impaciente, tirou-a do caminho com o cajado.
Nesse instante, escutou um ruído leve como se alguém estivesse se ajeitando em uma posição. Sentiu um calafrio e o ar tornou-se pesado. Permaneceu imóvel,  mas acalmou-se pensando que pudesse ser um gato. Contudo, o barulho se repetiu algumas vezes, tornando-se mais agitado e persistente, como se algo ou alguém estivesse lutando para se libertar.
Um resmungo de homem veio dos fundos do recinto.
Embora seus instintos as aconselhassem a afastar-se dali o mais depressa possível,  uma voz interior lhe dizia para ficar, fosse por curiosidade ou por estupidez.
Pé ante pé deu a volta em um armário alto e largo que impedia a visão de todo o comprimento da sala e do que ali se encontrava. Quedou-se boquiaberta e quase esqueceu de respirar.
Ali, sob o brilho de dois candelabros de parede, lorde Rothbury estava sentado em uma cadeira de pernas finas, de olhos vendados com a própria gravata, as mãos amarradas para trás do encosto.
Ela não conseguiu engolir como se houvesse engasgado com areia.
Bom Deus! Por que ele estaria amarrado?
A camisa aberta deixava entrever o peito largo de pele bronzeada, os mamilos chatos e os esparços pelos que roçavam o plano abdômen musculoso. Hipnotizada, não conseguiu afastar o olhar cobiçoso do tórax liso e despido que subia e encolhia com os movimentos da respiração.
A voz da consciência avisou-a para desviar o olhar, pois Rothbury era sinônimo de pecado. Mas ele era também uma visão e tanto para seus olhos esfomeados.
Rothbury sacudiu a cabeça para tirar os cabelos desalinhados que caíam sobre a testa. O gesto não foi bem-sucedido, pois as mechas sedosas voltaram ao lugar anteriormente ocupado. Frustrado, ele deu um grunhido.
Pasma, Charlotte não conseguia entender o motivo de ele estar amarrado em um excitante estado de nudez, na biblioteca dos anfitriões, atualmente sem uso. Só lhe ocorreu imaginar que isso tinha a ver com os propósitos amorosos. Porém ele se afastara logo após lady Gilton sair, e Charlotte acabara de dar um encontrão com a dama. Em tão pouco tempo eles não poderiam ter feito o que pretendiam. Ou poderiam?
O certo era ela mesma ser uma idiota por torbar-se amiga de um devasso, esperar dele uma conduta adequada e o cumprimento de suas promessas.
Era preciso deixar aquele quarto com urgência. Se alguém entrasse e deparasse com aquela cena, sua reputação estaria arruinada. Virou-se para sair... sem considerar a posição vergonhosa, mas intrigante, em que ele se encontrava.
- Qualquer que seja seu jogo, não conte comigo. - A voz refinada de Rothbury ecoou pelo recinto. - Tenho outros negócios para resolver e você não tem o direito de ficar com raiva. Solte-me Cordélia.
Charlotte sufocou um grito, tampando a boca com uma das mãos.  Por que lady Gilton o teria deixado ali?
- Você não tem a menor vergonha - ela sussurrou, com o rosto e o pescoço que pareciam pegar fogo.
Era impossível supor alguém se entregando a folguedos amorosos, enquanto dezenas de pessoas estavam no hall e no salão de baile. Mesmo sem nada conhecer a respeito do relacionamento entre homens e mulheres, ela podia imaginar o que se passava entre amantes atrás de portas fechadas. Na verdade, o conde de Rothbury era um homem bastante devasso.
Ela inclinou a cabeça e fitou-o, pensativa. Ele parevia um tanto... indefeso.
Amarrotado e vulnerável. Como uma fera bela e contida, seus grilhões deixavam a ilusão de que fosse acessível, inofensivo,  quando de fato devia ser ainda mais perigoso devido à fúria borbulhante.
E se ele houvesse sido vítima de uma armadilha? Quem o encontraria? Talvez devesse desamarrá-lo.
Não. Sacudiu a cabeça. Não faria isso. Fora a mente cúpida e transviada que o levara à presente situação e ela não se importava com o que acontecesse ao patife. Tornou a abanar a cabeça e recriminou-se por confiar nele e conceder-lhe amizade. Era ate possível que ele nem fosse seu amigo.
Seus pais estavam certos ao proibí-la de chegar perto de Rothbury. Ele era um depravado. Imoral. Irredimível.
Ele que ficasse com o favor que lhe devia. Ela não desejava mais nada. Virou-se para sair na ponta dos pés.
Deu a volta em um pedestal de mesa, olhou a porta e hesitou. Assim que ultrapassasse aquela porta, tudo retornaria a ser como antes. Voltaria a ser a tímida e doce Charlotte incapaz de ter a pretensão depravada de beijar um homem que estivesse na sua frente.
No dia seguinte, continuaria solteira, sem nenhuma perspectiva a não ser Witherby. No final do ano provavelmente estaria casada com um velho homem e infeliz para sempre. Oh, Deus, teria de beijá-lo, não é?
Aproximou-se da porta e segurou a maçaneta de bronze. Jamais em sua vida esqueceria a imagem excitante de Rothbury naquela posição escandalosa.
Apenas mais uma espiada. Afinal é diferente do que houve nos aposentos dele. Ele nem mesmo sabe que você está aqui. Pode olhar o quanto quiser.
Ela deu meia-volta e um passo silencioso para trás.
Durante bastante tempo, experimentara a sensação de não tomar parte na vida... e estava cansada disso.
- Não mais - sussurrou.
Pegou uma cadeira das proximidades e escorou a porta sob a maçaneta para evitar a entrada de lady Gilton ou de qualquer outra pessoa.
Nessa noite, ou pelo menos naquele momento, estava disposta a fazer o que desejava, independentemente das consequências.
Queria mudar suas expectativas e desejava saber como seria beijar um tatife.
- Quem está aí? - Rothbury gemeu e tentou soltar-se, enfeixando e distendendo os músculos de seus gloriosos braços bronzeados.
Ela não respondeu. Inspirou fundo e, decidida, caminhou até o conde. No pequeno trajeto, empurrou com o pé mais uma almofada de borlas e largou o cajado de pastora.
Como ele estava amarrado e com os olhos vendados, ela poderia sair correndo bem antes de ele supor de quem se tratava. Era provável que pensasse em sua amante ausente.
Quando ele voltasse ao salão de baile,Charlotte manteria um sorriso secreto. Rothbury jamais saberia que sua amiga, sempre envergonhada, ousara experimentar o fruto proibido.
Além do mais, que dano poderia causar um pequeno beijo?

Um Conde Sedutor (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora