Capítulo 7

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Os dias nebulosos foram horríveis. Eu passei muito mal, ora sentindo cólica, ora sentindo dor de cabeça. Visitei a empresa umas duas vezes. Elliot e eu não tocamos no assunto sobre ele ter feito o que fez, e se dependesse de mim, não iríamos mesmo falar. Quando minha amiga que adora vermelho foi embora e me deixou em paz, eu me senti nas nuvens. Cheguei na empresa com uma alegria só.

-Olha só quem voltou dos mortos.-Rafael disse sorrindo ao me ver encher a caneca de café.-De volta ao pique?

-Nunca sai dele.-Respondi e vi Elliot aparecer no refeitório. Ele olhou para mim por uns segundos e pela cara que fez, já esperava um comentário engraçadinho.

-Está fazendo o que parada? Perdeu muitos dias de trabalho! Ande, vamos, vamos!

Revirei os olhos. Nada como o velho Elliot ranzinza. Por que eu achei que ele iria mudar...

Como sempre, fui designada a analisar planilhas e currículos. Nem minha famosa saudação a empresa eu estava fazendo. O que estava acontecendo? Enquanto verificava o gráfico de lucros dos dias que fiquei fora, notei Elliot olhar para mim. Ele nem estava disfarçando! Rafael parecia entredito com o que fazia, então eu encarei Elliot de volta. Não desviamos o olhar nem por um segundo, até Rafael falar algo e quebrar nossa conexão.

-Pessoal, temos quarenta candidatos para o processo seletivo.

-Entre eles tem alguma Clara? Que mora no condomínio Zodíaco?

Ele digitou no notebook e me olhou.

-Tem. Como sabe disso?

-Ela é aparentemente minha vizinha.

Rafael olhou para mim e assentiu. Então voltou a sua atenção para o seu notebook e depois saiu da sala com um copo na mão. Elliot ainda me encarava. Suspirei exasperada e fingi não estar mega desconfortável com aquilo. Mas eu não sei e nem nasci para fingir. Olhei para ele irritada.

-Quer tirar uma foto?

-Não, prefiro olhar no momento do ato.

-Eu não gosto de ninguém me encarando.

-Problema é seu.

-Pare!-Falei batendo a mão na mesa.

-Me obrigue.-Ele falou. Peguei o controle do ar condicionado e joguei nele.-O que é isso? Ficou maluca?-Agora ele me encarava como geralmente me encarava. Com raiva.

-Tô fazendo você agir normalmente.

-Você é muito infantil, garota.

-E você é esquisito.

-Agora eu sou esquisito?

-Claro! Ficou aí me encarando do tipo "prefiro olhar no ato".-Imitei a voz dele.

-Eu só estava...esquece.-Ele disse se levantando.

-Tava o que? Elliot!

Mas ele já tinha saído.

***

Rafael e eu na semana seguinte observamos os novos jovens passarem pelo processo seletivo. Quem me preocupava passar no processo seletivo, passou. Clara Monteiro. Ela tinha tudo para ser uma ótima funcionária, eu esperava que ela não me decepcionasse.

Em uma das minhas idas ao refeitório para pegar mais café, acabei ouvindo de novo, e sem querer, uma discussão entre Elliot e Rafael.

-Eu espero que não tenha que lhe falar um "bem que eu lhe avisei" se ela disser não.

-Ela não vai, tenho certeza.

-Então vai lá, garanhão.

-Eu vou mesmo. Não entendo qual o seu problema em insistir que ela tem compromisso com alguém. Até parece que vocês são grandes e antigos amigos.

Herdeira LegítimaOnde histórias criam vida. Descubra agora