Capítulo 10

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Depois que Elliot desligou, eu voltei para perto de mamãe, apenas para lhe avisar que eu estava indo para o meu quarto.

Eu passara praticamente toda a minha vida naquela mansão. Os muros em volta pareciam maiores, a cor das paredes mais brilhantes, o número de quadros parecia ter aumentado, pois vi quadros que eu não me lembrava. A grande escadaria dava acesso ao segundo andar, onde se localizavam os quartos para hóspedes, as salas de pintura, as salas de música e algumas salas que eu nem me lembrava mais. A outra escadaria levava aos quartos da família e algumas salas que possuíamos para alguns hobbies, como a biblioteca onde eu vivia enfurnada, a sala de Rosé onde ela sempre levava os amigos e estudava, a sala de costura da mamãe, e o escritório do papai. Senti uma pontada no peito ao lembrar dele, mas varri o sentimento de saudade para longe e corri para o meu antigo quarto. E acredita? Estava do mesmo jeito que eu deixei quando fui embora da mansão para estudar. Fui até o closet e vi algumas roupas e sapatos. Tudo o que eu odiava usar. Mamãe às vezes era muito inconveniente.

Do closet fui para o banheiro. Sim, todos os quartos eram suítes, esperava o que? Mas ainda sim tinha banheiros comerciais. Bem, meu antigo banheiro parecia normal. De lá fui para a biblioteca. Papai lia comigo ali tantas vezes. Às vezes, até quando eu não merecia a companhia dele. Pai...

Sentei na poltrona que sempre sentava para ler. Algo me ocorreu e eu levantei correndo procurando a pequena abertura no chão que sempre guardava a câmera que ganhara de papai quando fiz doze anos. Achei-a onde sempre esteve. Perto da janela. Tirei a caixa e a abri. Lá encontrei as fotos, a câmera e o bilhete de papai. Não tinha palavras, apenas desenhos de sinais para ter cuidado com a câmera. Ele era demais. Vi as fotos uma por uma segurando as lágrimas de saudade. Guardei a caixa no mesmo lugar e saí da biblioteca. Estava retornando para o meu quarto quando ouvi um barulho. Virei a cabeça e ouvi o mesmo barulho, só que mais alto. Parecia que alguém estava tentando fechar alguma coisa. Caminhei pelo corredor a procura de algo que não sabia o que era. No final no corredor tinha uma porta, que era do escritório do papai...e uma entrada à minha esquerda. Em todos os anos que passei aqui, eu nunca havia visto essa entrada. Tinha escadas com pequenas espécies de lanternas nas paredes. Subi devagar as escadas e olhei ao redor. Outro corredor. Estranhei e fiz menção de avançar quando ouvi aquele barulho de novo. Um homem tentava fechar uma porta. Me agachei sem saber quem era e quando vi que ele caminhava na direção da escada mexendo no celular, corri silenciosamente até a primeira porta destrancada do andar de baixo e entrei sem saber onde estava. Ouvi a voz do cara.

-Sim...não, fique tranquila...isso, nem desconfiam. Certo, certo. Eu irei. Certo, certo...

Uma porta abriu e fechou e eu olhei onde estava. Quarto da Rosé. Tratei de sair dali e entrar em meu quarto absorvendo o que acabara de acontecer. Sempre teve um quarto andar? Quem era aquele homem? Quem não desconfiava do que? Minha mãe sabia quem ele era? Mordi os lábios em dúvida e fui até a janela observar o jardim. Mamãe e Rosé ainda estavam ali tomando o chá e provavelmente falando sobre como Rosé era espetacular. Revirei os olhos e olhei para outro lugar. Um rapaz regava a grama e olhava na minha direção. Franzi a testa e ele sorriu. Que diabos? Ele fez sinal me chamando. Assumi uma expressão confusa e revirei os olhos. Ele nem me conhece! Sai da janela e depois do quarto. Me encaminhei para a cozinha em busca do armário. As cozinheiras sorriram para mim e me perguntaram o que eu queria.

-Vocês tem aquele pão de mel?

-Sim, sim! A senhorita quer que eu leve para o seu quarto?

-Não! Eu quero um pacote disso e uma caneca grande de café com um pouco de açúcar.

-Certo. Só um momento.

Segundos depois ela apareceu com uma bandeja com que eu pedi. Peguei o pacote e a caneca, agradeci e me encaminhei para perto da onde o rapaz estava. Sentei-me na grama e o observei. Ele parecia ser alto, tinha um corpo aparentemente magro, cabelos louros escuros e brilhantes olhos verdes. A pele clara estava rosada e suada por causa do sol e do exercício de regar a grama. Ele estava com o típico uniforme dos funcionários da mansão. Calças, blusa de botões com emblema da empresa. Ele sorriu para mim e arqueou a sobrancelha.

Herdeira LegítimaOnde histórias criam vida. Descubra agora