Capítulo 8

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Sai do táxi e vi o grande logotipo do bar brilhando em luzes neon: microfones nas mãos de mulheres vestidas de cowboy. Rafael me esperava na entrada, onde aliás, muitas pessoas entravam. Sorri para ele e deixei que ele me guiasse com a mão na base das minhas costas até uma mesa. Aquilo não parecia um bar em si. Parecia um restaurante. Tinha mesas, um open bar com dois caras e uma mulher, um pequeno palco com microfones nos devidos suportes, banheiros em cantos diferentes e uma pequena pista de dança em frente ao palco. Rafael escolhera uma mesa que nos deixava de frente para a pista e o palco. Nos sentamos e esperamos.

-Pedi dois vinhos, se você não se importa.-Ele disse. Então me olhou de esguelha.-Está linda.

Não sei que "linda" queria dizer. Eu vestia calça jeans skinni, uma regata preta com um decote comportado, botas de cano curto da mesma cor, e mínima maquiagem. Delineador, rímel e batom. Graças a Deus eu fui abençoada com a pele sem marcas provocadas por espinhas. Minha bolsa era simples, sabe aquelas com umas tirinhas? Então...

Rafael também estava bem bonito. Estava vestindo jeans também, uma blusa vinho de botões e tênis campa da mesma cor.

-Obrigada. Mas você também tá bonitão!

-Obrigado, Petúnia.-Ele disse ficando vermelho. Ah, fala sério!-Foi difícil chegar aqui?

-Nada. O motorista já conhecia o bar. Até pegou atalho.

-Nossa que sorte!

-Pois é. Como você chegou a conhecer esse bar?

-Eu estou morando aqui perto...então, como gosto de caminhar antes de ir trabalhar...-Ele deixou o resto no ar.

-Entendi.

Nossas bebidas chegaram e então as luzes de brancas e amarelas ficaram vermelhas. O palco se iluminou e quatro mulheres com roupas de dançarinas de can can subiram.

-Começou mais cedo! Ah, melhor ainda!-Rafael disse bebericando seu vinho.

Minha pele formigou por um momento, os pelos se arrepiando. Olhei em volta confusa com a impressão de que alguém me encarava sem eu perceber. Esfreguei o pescoço um pouco incomodada e olhei para o palco. Os microfones foram retirados. Elas iriam dançar.

Beberiquei meu vinho e prestei atenção nelas. Uma música começou a tocar. Eu reconheceria aquela música em qualquer lugar. Era a música do clássico can can. Elas tinham um passo bonito, coordenação motora excelente e um senso de ritmo quase fora do comum. Começaram a bater palmas nos pontos altos da música. Me animei. Elas eram muito boas.

-São ótimas né?

-Sim, sim!-Eu disse animada.

Elas finalizaram abrindo um perfeito espacate no chão. Aplaudi fervorosamente. Então uma garçonete apareceu com um copo com um líquido marrom e um papel na mão.

-Senhorita? Mandaram lhe entregar isso.

Rafael olhou intrigado para o papel que a garçonete me entregara. Li o que estava escrito. "Aceita conversar comigo em troca dessa bebida que lhe paguei?"

-Ah, mas que absurdo!-Rafael disse ao ler.-Ele não está vendo que você está acompanhada? Quem é?-Ele perguntou a garçonete.

-Ele pediu para não contar. E então senhorita? Devo deixar a bebida?

-Não. Só um instante. Me empresta uma caneta?-Eu pedi. Escrevi uma resposta bem estilo agressiva e entreguei a garçonete. Ela pegou a bebida e levou para a tal pessoa. O filho da mãe estava bem escondido.

-O que você disse?

-"Espero que conheça bons dentistas, pois vai ficar sem dentes se me oferecer bebida de novo."

Herdeira LegítimaOnde histórias criam vida. Descubra agora