Capítulo 28

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Olhei para a cama perfeitamente arrumada, para os quadros na parede, para os brinquedos em cima de uma estante, para os retratos em seu criado mudo. Era tudo tão Elliot. Eu nunca poderia imaginar que Elliot gostava de colecionar mini carros antigos. Lá estavam o Impala de 67, um Mustang de 66, um Corcel de 72...e vários outros. As fotos foram o que mais me chamou atenção. Elliot tinha os cabelos de um tom mais claro quando mais jovem. Meu Deus, nem parece Elliot! Só o olhar que é o mesmo desde sempre, o olhar que eu conheci e me apeguei. Um olhar que poderia dizer tudo e ao mesmo tempo nada. Ah, Elliot... Nunca pensei que um dia poderia ter um sentimento por ele. Segurei um retrato de Elliot nas mãos, ele estava ao lado de um homem nada parecido com ele, a não ser pelos olhos. Elliot parecia estar em sua adolescência, vestia um uniforme escolar. Eles sorriam felizes. Não pude evitar sorrir também.

-O que está fazendo aqui?

Olho para trás e lá está ele. Os olhos arregalados e as sobrancelhas erguidas.

-Entrei no quarto errado, desculpe.

-Você está bem? Você saiu de repente, fiquei preocupado.

-Eu...deixa pra lá.

Forcei a passagem e dessa vez quando abri outra porta, vi que era a do meu quarto.

***

Se eu achava que o almoço tinha sido horrível, o jantar foi pior ainda. E para completar, mamãe me disse antes de sentarmos à mesa, para não sair correndo. É claro que sentamos nos mesmos lugares e pra variar, Elliot ficou tentando puxar assunto. Eu já tinha sacado o jogo da mãe dele​. Ela nos colocou assim para conseguir nos analisar melhor. Elliot de frente para Rosé e eu ao lado dele. Assim, ela poderia nos observar. Aposto que acha que eu e Elliot tivemos algo. Bem, ela está certa, se ela estiver pensando isso, mas não é como eu soubesse ou que continuamos.

Ao final da janta, todos se reuniram na sala de estar para conversar. Eu dei meu jeito de subir assim que Rosé saiu de lá para ir dormir. Em meu quarto, eu tomei outro banho, coloquei meu pijama mais quente e deitei. Estava com os pensamentos voando quando alguém bateu em minha porta. Eu esperava que fosse Martha ou Ana Paula, mas na verdade era Elliot. Se ele esperou eu dizer "entre"? Não. Ele saiu entrando e fechou a porta. Seus olhos expressavam expectativa.

-O que você acha que tá fazendo?-Pergunto irritadíssima.

-Eu...tomei coragem para lhe pedir uma última coisa antes que me comprometa amanhã, oficialmente.

-E o que é?-Dependendo do que for, ele pode tirar o cavalinho da chuva.

-Eu preciso te sentir em meus braços pela última vez.

Arregalei os olhos e suspirei.

-Você...aí meu Deus, Elliot! Você é noivo da minha irmã! Tem noção do que está me pedindo?! Tem um parafuso a menos por acaso? Olha só, eu não...-Parei de falar, pois ele veio até mim e me abraçou forte. Seu corpo tremia e logo eu senti suas lágrimas.-Elliot, me solte. Não faça isso. Nós não podemos. Pelo amor de...

Ele me interrompeu tomando meu rosto em suas mãos e selando nossos lábios. Eu resisti nos primeiros segundos, mas, ah cara, ele tinha uma pegada impecável. Agarrei seus cabelos sentindo toda a confusão de sentimentos que ambos estavam sentindo. Nos tocávamos​ loucamente tentando unir algo que estava separado. Não era sobre atração física, era sobre amor. Era aquela coisa louca de ser daquela pessoa e de ter ela pra você. Se talvez, só talvez, tivéssemos nos dado uma chance antes dele propor o casamento à Rosé, isso poderia parecer certo. Mas era errado. Era tão errado...

-Petúnia, eu...

-Shiii, não diz nada. Apenas...

Ele me abraçou e eu o abracei e por um momento foi só aquilo. Os lábios inchados, as respirações entrecortadas, os braços em volta. As lágrimas caindo feito água da cachoeira. Eu chorava pois ele nunca seria meu e nem eu seria dele. Assim que Elliot saísse pela porta do meu quarto, ele seria de Rosé. E não havia nada que eu poderia fazer.

Herdeira LegítimaOnde histórias criam vida. Descubra agora