Bip, bip, bip.
Ouvi aquele barulho que a máquina faz quando está verificando seu coração.
Bip, bip, bip.
Abri os olhos devagar e vi o branco. Tentei me mover e senti as agulhas nos meus braços e aqueles trecos conectados perto da minha clavícula. Eu não sentia dor, mas sim fraqueza. Sentei naquela espécie de cama com os olhos fechados, quando tornei a abri-los, vi o quarto. Era todo branco.
Um quarto de hospital.
Ao lado da cama, sentado todo torto, estava Elliot. Eu provavelmente não fazia ideia do que ele estava fazendo ali, e por acaso, no momento que pensei isso ele se mexeu olhando diretamente para mim. Os olhos estavam cansados, ele estava com olheiras e vestia JEANS. Juro que não acreditei, mas enfim.
-Deitei-se, Petúnia. Está sentindo alguma coisa? Está com dor? Frio? Fome? Sono? Quer que eu chame o médico?
-Ei, campeão, calma. Só estou me sentido fraca, fora isso estou bem. O que você tá fazendo aqui?
Ele limpou a garganta e sentou-se na beirada da minha cama.
-Lembra-se do que aconteceu?
-Mais ou menos. Quer me contar o que houve?
Ele respirou fundo e segurou uma das minhas mãos. Olhei por uns segundos e depois me concentrei no conforto que sentia ao ter o calor da mão dele aquecendo a minha.
-Você... nós, saímos do prédio, você estava distraída, e isso é fora do habitual. Ninguém percebeu até acontecer.-Ele limpou a garganta de novo.-Um cachorro, um pitbull mestiço, correu sem fucinheira, corrente ou coleira, veio na sua direção e abocanhou seu pulso. Atingiu uma veia e para tirá-lo foi um luta.-Ele olhou rapidamente, mas eu percebi. Uma das mãos, aquela que não segurava a minha, estava enfaixada.
-Não precisava.
-O que?! Saiu tanto sangue que eu achei que ele tinha furado uma artéria. Eu não pensei. Tratei de tirá-lo e alguém o segurou. José ligou para uma ambulância e você chegou aqui quase sem vida.
Olhei para os olhos desesperados de Elliot. Apertei bem de leve a sua mão.
-Tudo bem, obrigada. Mas não precisava ficar.
-Sua mãe e irmã moram longe. E não me custa cuidar de você.
Nos olhamos um nos olhos do outro e vi um tipo de conexão. Algo forte. Elliot e eu estávamos presos um nos olhos do outro. Teria durado, mas o médico resolveu entrar no quarto justamente naquele momento.
-Então, a senhorita acordou.-Ele olhou para as máquinas e escreveu em sua prancheta.-Muito bom, seus sinais estão bons, seu corpo está voltando a funcionar normalmente. Queria eu ter a sorte de ter um amigo como o seu, viu?
-Como assim?
O médico olhou para mim e depois para Elliot. Então franziu as grossas sobrancelhas.
-Não contou a ela, E?
-Obviamente não. O que você fez Elliot?-Perguntei olhando para ele.
-Você perdeu muito sangue. E não tinha o sangue preciso. Por acaso nós temos o mesmo sangue.
-Você se machucou e doou sangue? Meu Deus, garoto. Você é doido?
-Eu te salvei e nem um agradecimento eu recebo.
-Você poderia ter se prejudicado idiota. Por que correu esse risco por mim?-Perguntei alto.
-Por que eu me importo! E estava te devendo uma.-Ele falou mais alto.
-Parece que agora estamos quites, não é?-Perguntei ignorando o que ele dissera primeiro. A essa altura o médico já tinha saído sem percebermos.-Obrigada.
Elliot olhou para mim, se aproximou e beijou minha testa.
-Por que fez isso?-Perguntei constrangida.
-Eu não sei.-Ele respondeu mais constrangido que eu.
-Vai pra casa, tome um banho e descanse. Acho que o pior já passou.
Elliot sorriu de lado.
-Está me expulsando?
-É claro que estou! Você tá com essa cara de peixe morto, tô me sentindo até mal.
Ele riu.
-Certo. Eu vou, mas eu volto.
-Vou tá esperando.
-Certo.
Nos olhamos por uns segundos, então ele saiu.
O médico me deu alta mais tarde, mas me recomendou ficar de repouso até eu estar completamente recuperada. Daí iria fazer uma revisão com ele e então poderia voltar a minha rotina. Algumas pessoas do trabalho, incluindo sim o Rafael, mandaram flores e cartões pelo Elliot, pois este foi para meu apartamento cuidar para que o meu repouso fosse o melhor. Espalhei as flores pela casa, afinal eram quase todas artificiais, e os cartões foram colocados na estante lá na sala.
Era estranho ver Elliot no meu apartamento. Ele parecia ser tão grande num espaço tão pequeno. Meu braço estava enfaixado, e eu fui designada a trocar de gaze todos os dias até cicatrizar por completo.-Vou fazer canja. É leve e gostoso. Evite andar muito, Petúnia. Ordens do médico.
Eu tinha a sensação de que enlouqueceria com ele ali comigo.
-Olha só, não começa não, hein. Eu sei muito bem o que devo ou não fazer.
-Tanto sabe que está andando de lá pra cá como uma bêbada.
Meu Deus! É o meu apartamento!
Decidi mudar de assunto.
-Por que disse aquilo no hospital Elliot?
Ele olhou para mim e arregassou as mangas da blusa.
-Vai ter que ser mais específica.-Ele se encaminhou até a cozinha e eu fui atrás, sentando-me numa cadeira.
-Ah, pelo amor de Deus. Você sabe muito bem do que estou falando.
-Que eu me importo?
Ele me encarou ao dizer isso.
-É.
-Sim, eu me importo, o que tem de estranho nisso?
Olhei para as minhas mãos.
-Eu sei lá, você é tão, eu não sei.
-Pareço não ter um coração, não é?
Ele riu e lavou as mãos na pia. Suspirei. Eu e a minha boca grande.
-Não. Só parece algo que eu não imaginava que você faria.
-Ah, bem. Eu não sou tão ruim quanto pareço ser.-Ele disse meio desapontado.
Oh, Deus.
-Eu já te falei isso. Me desculpe.
Ele se virou para mim.
-Petúnia. Você é a última pessoa que deveria pedir desculpas para mim. Eu...esquece.
-Você o que, Elliot?
Ele se aproximou de mim e se apoiou na mesa entre nós.
-Petúnia, eu tenho uma noiva. Eu tenho uma família. E amigos também. E você foi a única que me disse mais verdades em pouco tempo do que todos eles todos esses anos.
Fiquei calada por uns segundos. E ainda bem que fiquei calada.
-Você não tem medo de mim, me desafia e nem ao menos pisca ao falar alto comigo.-Ele riu.-Você se importou comigo, Petúnia. E talvez eu esteja me importando muito com você também.
*Notas da autora*
Olha ele! Haha, parece que o Elliot tem sentimentos, hein? O que a Petúnia fará agora? Comentem e votem!
*Beijos de purpurina e até a próxima!*
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Herdeira Legítima
RandomEu preciso saber como uma empresa funciona, como posso fazê-la lucrar horrores e crescê-la ao máximo. Se eu não conseguir isso dentro de nove meses, eu perco meus direitos como herdeira, propriedades que ganhara de meu pai e qualquer vínculo com a e...