Capítulo 6

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Percebi que no final do relato da General Organa eu estava de olhos fechados, sem ter certeza de nada.

Ela era mãe do Kylo, que se chamava Ben antes de optar pelo lado sombrio da força. Kylo assassinou todos os Jedi quando decidiu seguir o legado do avô, o famoso Darth Vader. Ele matou até os pequenos Padawan, que eram apenas crianças!

Eu não sabia como me sentir sobre aquilo. Sobre o monte informações que foram jogadas sobre mim. Eu sabia, eu sentia que Kylo Ren tinha seus rompantes de fúria, mas saber que ele é realmente mal... Era como desacreditar da única certeza que eu tinha. Eu estava no escuro total.

Eu gostaria de dizer que Léia, o primeiro nome da General Organa, estava mentindo, mas eu via a tristeza absoluta estampada em seu rosto a cada palavra. Eu quase podia enxergar seu coração partido quando soube que o filho matou o pai. Ela não estava mentindo, e por isso eu não fazia ideia do que sentir com relação à tudo.

Eu sabia que algo dentro de mim, convulsionava por Kylo. Era mais forte que eu. Eu queria gritar, confrontá-lo, socá-lo, mas ao mesmo tempo eu queria uma explicação, e queria compreendê-lo e queria chorar. O nó insistente na minha garganta era a prova de como eu estava abalada. Tinha uma sensação ruim crescendo no meu estômago e eu não sabia explicar o que era, nem se isso deveria ser preocupante, ou era apenas mais um sintoma do choque.

– Eu acho que ela precisa de um tempo para digerir essas informações. – Léia falou para Poe, que apenas assentiu. Ela se retirou primeiro, mas Poe continuou ali, inquieto.

– Eu queria me desculpar por ter gritado com você, mais cedo. – Ele começou dizendo. Mas nada do que ele falou após isso, fez sentido para mim.

Num instante eu estava dentro de um quarto impessoal na companhia de Poe, e no outro eu estava em um lugar frio e molhado. Totalmente escuro e eu me encolhi no canto, sentindo o mais puro medo e instinto de sobrevivência. Abracei minhas pernas, desejando ficar invisível, sumir. Fechei os olhos com força, mas eu ainda estava no mesmo lugar quando abri os olhos. O escuro e o frio eram tudo o que existia a minha volta. Foi quando eu ouvi os passos, inicialmente distantes, e depois se aproximando. A escuridão, por fim, deu lugar a um único centro luminoso, à distância era possível ver o brilho de um sabre de luz verde empunhando por alguém envolto no breu total. E de alguma forma, eu sabia que aquilo era a morte.

– Maya... – Era a voz malvada, ecoando em volta de mim como um sussurro macabro.

– Não! Fique longe de mim! – Eu gritei pois sabia que estava encurralada.

– Maya!

Pisquei e era Poe quem me segurava pelos ombros, totalmente desesperado e estávamos de volta ao cômodo impessoal. Mas a sensação ruim continuava ali, com mais força, se fechando no meu peito, sufocando a minha caixa torácica e me impedindo de respirar. Tentei puxar o ar, mas tudo o que houve foi um chiado misturado com sussurro rasgando a minha garganta. Olhei para Poe em desespero.

– Tudo bem, tudo bem. Olhe nos meus olhos, Maya. – Poe pediu, mas eu não conseguia, o ar me faltava cada vez mais e isso aumentava o meu desespero. Senti o toque quente e gentil de ambas as mãos de Poe. Ele segurou o meu rosto e se aproximou tanto, que a única coisa que eu enxergava eram seus olhos de íris douradas, brilhantes. Me segurei nele, achando que eu poderia desmaiar a qualquer momento. – Respira comigo, assim. – Ele fez movimentos de inspirar e expirar. – Isso, sinta como o ar entra e sai dos meus pulmões. – Poe soltou meu rosto e cobriu com as suas mãos, as minhas que estavam sobre o seu peito. E eu senti. Senti a tranquilidade da sua respiração, e fui normalizando aos poucos, repetindo seus movimentos respiratórios.

Assim que eu consegui respirar sozinha novamente, uma sensação de alívio por não estar naquela situação da minha cabeça, e medo por Kylo e tudo o que eu vinha acumulando sobre ele, me tomaram. E quando percebi, já estava chorando copiosamente.

Mas foi Poe quem tomou a atitude inesperada. Ele colocou os braços em volta de mim de forma protetora, e me abraçou. E eu aceitei, pois eu nunca havia sentido aquele sentimento de proteção que era estar dentro do abraço de alguém. Eu nunca havia sido abraçada. E era bom. Era tranquilo. Era tudo o que eu precisava naquele momento.


Eu continuei sentada lá pelo restante do dia, mesmo quando Poe aparecia algumas vezes para checar se eu estava bem, e sempre me convidava para ir ao setor social interagir com outras pessoas, mas eu sempre recusava.

Até que a Léia apareceu, e em silêncio, me observou por um longo período.

– Você gosta do Ben. – Léia falou como uma pergunta que vira afirmação. Eu não sabia se estava sendo tão óbvia, mas aparentemente ela percebeu.

– Eu não sei o que é, mas eu sinto. – Afirmei, a minha voz baixa como alguém que assume um erro.

– Como ele é com você? – Léia perguntou com a mais genuína curiosidade. Não podia imaginar como o filho era com ela e por que tudo ocorreu como ocorreu.

– Ele me salvou uma vez. Kylo tem seus momentos de raiva, mas ele é tranquilo. – Murmurei. – Ou talvez eu tenha aprendido a lidar com ele. Eu gosto quando ele sorri. É tão raro, mas igualmente bonito.

– Sim, eu também gostava. – Léia comentou com um sorriso nostálgico. – Você acha que ele pode voltar a ser bom?

– Eu não sei, realmente. Mas isso não me impede de tentar trazê-lo de volta. – Eu disse com convicção. – A verdade é que o General Hux tentou dar um fim em mim por que ele disse que Kylo Ren desenvolveu sentimentos por mim. – Eu falei, e pela primeira vez eu vi um sorriso verdadeiro no rosto de Léia. – E isso o fez questionar sua escolha pelo lado sombrio.

– Eu ainda tenho esperanças. – Léia falou e tomou a minha mão com a sua. E eu pude sentir algo bom vindo dela.

– Eu também vou manter as minhas.

– Você não quer ir até a área social? Para conversar, se distrair um pouco... – Léia sugeriu e eu assenti.

– Pode ir. Eu vou daqui a pouco. – Eu finalmente cedi. Léia levantou e saiu após um aceno de cabeça.

Alguns minutos depois eu saí.

Eu andei por um corredor, seguindo a direção de onde vinham as vozes de pessoas. Algumas pessoas passavam por mim e me saudaram educadamente, já outras nem olhavam na minha cara.

Acabei chegando em uma sala ampla, com várias mesas e cadeiras, onde grupos de pessoas conversavam acaloradamente. Olhei em volta procurando pelos únicos dois rostos ali que eu conhecia. Mas eu apenas os vi através de um vidro transparente. Eles conversavam em outra sala com mais uma moça, que parecia ter mais ou menos a minha idade. Eu me aproximei do local e percebi a porta entreaberta. Eu estava prestes a bater quando ouvi o teor da conversa e decidi ficar onde estava.

– ... Você não pode controlar a garota. – Léia falava, calma.

– O que não podemos, é deixar que ela volte para a base da Primeira Ordem! – Poe Dameron estava exaltado. Eu torci para que a aquela conversa não fosse sobre mim, mas eu não perdi a explicação seguinte.

– Você não pode obrigar a Maya a ficar aqui, entendeu? Se ela quiser ir, essa decisão não está nas nossas mãos. – Léia replicou.

– Mas eles podem machucá-la! É isso o que eles fazem, é isso que o Kylo Ren faz! – Poe deu um tapa na mesa que fez todos os objetos sobre ela saltitarem, e eu também de susto. A porta se abriu é o olhar das três pessoas ali, se ergueram para mim.

Decidi me impor pois eu só tinha um desejo ali.

– Você não pode decidir por mim, Poe. E eu vou voltar para o Kylo. – Falei, de dentes cerrados.

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