Capítulo 47

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Bônus

Doutor Pedro

Desde que Clarice foi até meu consultório junto de Anthony e me pediu para operar ela, fiquei o resto dia pensando, pensando na minha esposa, pensando na vida que ela tinha, pensando na Clarice e pensando na vida que ela perderia se ela morresse.
Mas também pensei na vida dela se sua visão voltasse, ela viveria feliz com seu filho e com o namorado...
Não gosto de trabalhar com "possibilidades", sei que sou médico e eu deveria estar acostumado com "possibilidades", mas é impossível viver assim... Eu quero operar a Clarice, mas ao mesmo tempo não quero porque tenho medo de perder a vida dela como areia em minhas mãos.

Entrei em casa e logo fitei mamãe saindo da cozinha secando as mãos em um pano de prato. Dona Olga selou seus lábios em minha testa e me lançou um sorriso de lado.

- Tudo bem?

- Não...

- O que houve, filho?

- Lembra daquela garota que contei para a senhora?

- Acho que sim... É, é Clarice, Maria Alice, alguma coisa assim!

- Clarice, mãe!

Mamãe balança a cabeça assentindo.

- Você disse que ela não quer ser operada. E que quer se adaptar com a cegueira...

- Agora ela quer ser operada!

Minha mãe percebe o motivo pelo qual estou completamente perturbado e aperta os lábios, em seguida pega minha mão e começa a acariciar.

- Consuelo não sai da minha cabeça. A forma com que ela morreu nas minhas mãos, a forma com que eu perdi a vida dela... Mãe, eu não quero perder mais uma vida!

- Não tem como você saber, filho!

- E isso não me faz ter o direito de tentar... E se eu perder ela? Como a família vai se sentir? O filhinho dela?

Mamãe respira fundo.

- Eu tenho certeza que Consuelo ia querer que você operasse essa moça... Pensa no quanto ela é cheia de vida, filho. Pensa no quanto ela precisa dessa visão para cuidar do bebê dela. Coloque isso na cabeça e faça a cirurgia com fé...

- Mãe...

- Conversa com a Taís... Tenho certeza que ela vai conseguir colocar na sua cabeça que operar a moça é o certo!

❤❤

Dou três batidas na porta do quarto de Taís, minha filha com Consuelo. Quando minha esposa morreu, Taís tinha 5 anos e hoje com 18 anos, Taís é a cópia da mãe, dedicada, esforçada, quieta... Consuelo era como nossa filha, linda!
Quando ouvi ela dizer para entrar, entrei e fitei minha menina sentada na cama e vários livros espalhados por ela, franzi o cenho e Taís levantou seu olhar para mim e sorriu de lado.

- Pai, que horas você chegou!!

Ela diz levantando e me abraçando, selo meus lábios na cabeça a minha menina e sorrio quando nos afastamos.

- Há umas 3 horas... Fui tomar um banho para espairecer a mente!

Ela sorri.

- Tudo bem, papai?

- É isso o que vim falar com você. Mas acho que você está bem ocupada e sem tempo, querida - falo olhando de relance para os livros.

- Papai, para você eu sempre tenho tempo!

- Obrigada, filha!!

Nos sentamos no sofá, Taís fica de pernas de índio, sento ao lado dele minha filha e depois de respirar fundo, começo:

- Tem uma garota, ela acabou de ficar cega, e tem um filhinho, um namorado e uma família que a ama muito!

- Qual é o nome dela, pai?

- Clarice. Clarice Rodrigues! Ela, ela sofreu um grave acidente de carro e uma hemorragia acabou afetando a parte do cérebro que é responsável pela visão. E isso fez com que ela ficasse cega... - respiro. - Mas Clarice tem chances de ter a visão novamente, mas isso só pode acontecer, com 10% de chance, se ela fazer a cirurgia...

- ...que matou a mamãe!

- Sim... De 100%, Clarice tem apenas 10% de chance de ter sucesso na cirurgia.

- São os mesmos riscos?

Os olhos da minha filha estão cheios de água e a qualquer momento, elas podem abandonar seus olhos.

- Os mesmo, Taís... Mas o que mais me aflige é a morte! Clarice tem uma vida inteira pela frente, um filhinho para criar. Assim como a sua mãe tinha...

- O senhor tem medo de perder a vida dela também? - Algumas lágrimas abandonam os olhos dela no mesmo instante.

- Tenho...

- O que ela quer? A Clarice?

Sinto um bolo se formar em minha garganta a cada segundo.

- Ela quer fazer a cirurgia... Quer ter a chance de ver o filho crescer!

Tais respira fundo.

- O que o senhor acha que ela ia querer? Digo, a mamãe.

- Eu não sei... Mas sua mãe queria tanto que a cirurgia dela realizasse. Ela foi tão persistente quanto essa garota!

- A vovó disse o que?

- Que Consuelo com certeza me apoiaria quanto a isso...

Taís fica em silêncio.

- Desde que sua mãe morreu, eu nunca mais fiz essa cirurgia em nenhum paciente, Taís! Não fiz por medo, receio, angústia... Eu não queria que mais uma pessoa morresse por minha mãos!

- Papai, a morte da mamãe não foi sua culpa!

- Foi, meu amor... Infelizmente!

Ficamos em silêncio. A imagem de Consuelo me pedindo para ser operada vem em minha mente e logo em seguida a imagem de Clarice pedindo também vem.
O que eu devo fazer...?

- O senhor precisa fazer essa cirurgia nela, papai!

Taís diz pegando minha mão.

- Preciso?

- Precisa! E eu estarei no hospital passando tudo de bom para o senhor, porque eu sei que dessa vez essa cirurgia vai dar certo!

- Querida...

- Pai, não precisa ter medo! O senhor vai fazer essa cirurgia na Clarice e eu sei que vai dar tudo certo...

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Restam apenas:
05 capítulos
+
Epílogo
+
Agradecimentos
❤❤

O Amor Não Tem Preço - Completo - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora