Limpei tudo, Kim estava na sala, olhei ela de longe.
Não conseguiria viver sem ela. Ela é um pedaço de mim, sangue do meu sangue, gostaria muito de ter cuidado dela desde cedo, mas infelizmente não pude. Agora que eu tenho as duas, nada nem ninguém vai nos abalar.
-Filha? Vamos pra cama? -Perguntei apagando a luz da cozinha.
-Vamos, papai. -Ela falou e desceu o sofá. Fui apagando as luzes e desligando a TV. Peguei Kim no colo e fui pro quarto dela.
-Filha. -Falei enquanto pegava o pijama dela. -Posso te fazer uma pergunta? -Perguntei.
-Ah, papai, claro que pode. -Falou e assenti.
-Você sabe que não se pode falar com estranhos, né? -Perguntei e ela assentiu.
-Mamãe já falou sobre isso. Já falei que não vou mais entrar no carro de ninguém que me oferecer doces. -Falou ela.
-Você entrou no...
-Foi só uma vez, papai. -Ela falou e neguei com a cabeça.
-Kim, você não pode falar com nenhum estranho, se alguém estiver te fazendo mal, você fala pra mamãe ou pro papai. -Falei e ela assentiu. -Filha, olha, vou te mostrar um negócio que o papai colocou aqui. -Peguei ela no colo, depois de colocar seu pijama.
-O que é? -Perguntou animada.
-Mike, olha aqui. -Ele levantou e veio. -Isso aqui é um botão de emergência. -Falei e Kim assentiu. -Se alguém entrar aqui, se alguém tentar fazer mal pra você ou pra mamãe, ou alguma coisa que você acha que pode machucar alguém, você aperta esse botão e manda mensagem pra mim, pro vovô, pro tio Gusta e pra tia Mavi. -Falei e ela assentiu. -Mas só se vocês realmente precisarem e isso tem que ser um segredo. Nem a mamãe pode saber disso, tudo bem? -Kim assentiu.
Ajudei ela a escovar os dentes e brinquei mais um pouco com ela, pra esgotar suas energias.
-Eu te amo muito, filha. Nunca duvide disso. -Falei e beijei sua testa.
-Eu também te amo, papai. -Falou ela bocejando.
Coloquei ela no berço e fiquei dando tapinhas na sua bunda até ela pegar no sono. Depois sai de lá e só deixei a luz do abajur.
Fui no quarto da Isa e ela dormia que nem um bebezinho. Sai da casa do Rafa e tranquei a porta. Depois desci e fui pro Morro, ainda tinha que ir pro baile.
Cheguei e fui direto pro baile, tinha que fazer os anúncios, não ficaria.
-O dono quer passar uma caminhada, se liga na visão. -Um irmão falou enquanto paravam as músicas.
Subi no palco improvisado e peguei o microfone.
-Eae, salve quebrada. -Falei de início. -Vim aqui passar a visão, agora o Morro tem uma herdeira. -Falei e todos comemoraram. -Mas ela tá ameaçada por um morde fronha do caralho. -Falei e todos gritaram. -Eu tô contando com vocês, e a herdeira da quebrada de vocês, e não é só o dono do moto mandando, é também um pai pedindo. Minha filha tá ameaçada e isso me deixa puto da vida. Sei quem é o morde fronha que tá fazendo essa fita e eu vou caçar esse arrombado até o inferno se for preciso, mas ninguém vai encostar um dedo na minha filha. -Falei seriamente. -Espalhem pra todas as quebradas, quem mexer com minha filha vai estar assinando a certidão de óbito. É só isso mesmo, vamo comemora. -Falei levantando o copo de whisky.
As músicas voltaram e eu desci. Curti um pouco do baile mas logo fui pra casa, estava cansado e amanhã teria que acordar cedo pra trabalhar.
[...]
Acordei com o sol na minha cara. Me levante, tomei uma ducha e desci pra tomar o café da manhã. Depois me arrumei e fui pra boca. Tinha que terminar com o trabalho atrasado ainda hoje, nois tem que progredir nessa porra.
-Eae chefe. Nois descobriu um X9 entre os irmão da Norte. -Falou um vapor entrando na minha sala depois de pedir licença.
-Quem que é?
-Ele é verme, chefia.
-Verme? No meu Morro? -Perguntei irritado.
-Sim senhor. Mandado do Capitão do BOPE. -O olhei seriamente.
-Quem?
-O Capitão Albuquerque, chefia. -Ele falou... Capitão Albuquerque, como não lembrar dele? Ele tem 30 anos e é o capitão do BOPE. O BOPE é a Polícia especial, que o governo chama quando a Polícia convencional não da conta do recado, geralmente eles operam em morros. Batalhão de operações policiais especiais. Ele é tipo um capitão Nascimento do tropa de elite. Se eles entram na favela é pra matar.
-Tortura e depois corta os pedaços. Manda pro batalhão com uma cartinha mandando lembranças do CV. -Falei e ele saiu da minha sala.
Mais essa, primeiro Enzo e agora verme?
Meu pai apareceu na minha sala e tá a 5 minutos me encarando.
-Pai, o que foi? -Perguntei largando a caneta pra olhar pra ele.
-Falei com uns amigos, a última vez que o Enzo foi visto foi indo para uma estrada de terra, perto de São Paulo. Uma estrada de terra no meio do nada, a onde costumam desovar as pessoas. Existem residências abandonadas que são ótimos cativeiros. -Falou ele.
-Quero encontrar logo ele pra eu conseguir dormir direito. -Falei coçando os olhos.
-Ter filho é difícil. Ainda mais quando ele tá sendo ameaçado e tá longe de você. Pede logo a Isa em casamento e trás elas pra morar aqui. -Meu pai falou e se levantou. -O casamento do Rafael e mês que vem, da Mavi e do Gusta e no outro mês... Você está ficando pra trás, filho. -Ele saiu da sala e revirei os olhos.
Exatamente por todos estarem se casando agora que vou esperar mais um pouco, vai que da azar?
Terminei meu trabalho e fui pra casa do Rafa, não aguentava mais ficar longe das minhas pulguinhas.
Cheguei na casa do Rafa e dava pra ouvir a gritaria da Kim do corredor, ela gritava e chorava Alto. Andei mais rápido e abri a porta. Procurei elas e elas estavam no quarto, bem.
-O que aconteceu? -Perguntei assustando a Isa.
-Meu Deus, que susto. Você é maluco? -Ela perguntou enquanto tinha Kim nos braços.
-Por que ela tá chorando? -Perguntei.
-Fala pra ele o porquê. -Isabella falou pra Kim que coçou o olho e ainda chorava.
-Eu bati a cabeça, papai. -Ela falou tirando a mão da cabeça e mostrando um corte pequeno e fino.
-Como você fez isso, minha princesa? -Pergunte me ajoelhado na frente delas.
-Bati na ponta da pia. -Ela falou e Isabella me olhou.
-Ela tava correndo, mesmo depois que eu falei que não era pra ela correr que o chão do banheiro estava molhado. -Isa falou e olhei a Kimberly.
-Primeiro para de chorar, você é uma menina forte e não vai deixar só um machucadinho tirar suas lágrimas. -Falei secando seus olhos e ela soluçou.
-Mas tá doendo.
-Eu sei que tá doendo, mas não precisa se derreter de tanto chorar, filha. Você desobedeceu a sua mãe, ela não falou que você não podia correr no banheiro?
-Falou.
-Então. Você se machucou porque desobedeceu ela. -Falei e ela abaixou a cabeça.
-Desculpa mamãe.
-Tudo bem, filha. -Isa falou e beijou a cabeça da Kim.
-Pronto. Tudo resolvido. -Peguei Kim no colo. -Agora eu quero ver um sorrisão. -Falei e Kim colocou a mão na boca pra não mostrar o sorriso. -Vaamos logo. -Falei e fiz cocegas em sua barriga e ela sorriu. -Muito bem, assim que eu gosto. -Beijei sua bochecha.
-Vamos jantar, papai? Rafa fez macarrão. -Falou Kim e assenti.
Dei um selinho na Isa e descemos pra cozinha.
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Aconteceu 2: Filha do Morro
RomanceSegunda temporada. Isabella volta para o Rio de Janeiro com sua filha, a herdeira do dono do morro, mas acredite, não por vontade própria. Ela acaba reencontrando o pai da filha dela e ai já viu... Ambos ainda sentiam coisas, Isabella não conseguia...