•Oitenta e Seis•

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Eu fiquei com a Kim até ela dormir, o que demorou um pouco, ela tava muito triste.
Me levantei, peguei minhas coisas e beijei a testa da Kim.

-Ja vai? -João me assustou quando abria a porta da frente.

-Ja, tenho que resolver alguns assuntos com o roubo de hoje. -Falei e ele assentiu.

-Parabéns pelo roubo. E obrigada por cuidar da minha filha. -Falou e dei um sorrisinho.

-Sua filha não precisa de ninguém pra cuidar dela não. -Falei e rimos.

-Mas ainda bem que ela tem você. -Falou e piscou pra mim.

João foi pra cozinha e eu fui pra minha casa. Quando cheguei, os meninos estavam la, cheios de dinheiro, contando tudo.

-Ta porra. -Falei vendo todo aquele dinheiro.

-Tem mais de oitocentos milhões aqui, parceiro. -Falou Careca e fiquei feliz.

Fumamos uns baseados, bebemos um pouco e terminamos de contar o dinheiro. Depois separamos igualmente pra cada um e eles foram embora.

-Sabe o que vou fazer com esse dinheiro? -Ismael perguntou. -Vou comprar uma mecânica, começar no trampo, investir, sabe? -Perguntou e assenti.

-Isso mesmo, irmão. -Falei. -Eu vou dormir, hoje o dia foi cheio. -Completei e me despedi dele.

Guardei meu dinheiro e tomei uma ducha, me troquei e deitei na cama. Minha cabeça tava cheia, roubo, Mike, Kim, Taciana, bebê, minha mãe.... É difícil pegar no sono assim.

Percebi que não conseguiria ir dormir, então decidi ir trabalhar.

Levantei e coloquei uma roupa qualquer. Peguei minha pistola e meu radinho, peguei a chave da moto e sai de casa, fui em disparada até a boca, chegando la subi a escadinha vendo um vapor e um campana conversando.

-Ae patrão, ta fazendo o que por essas? -O campana perguntou.

-Não é da sua conta, maluco. -Falei sério e ele assentiu. -Como que ta o movimento?

-Ta fraco, patrão, os noia tão com preguiça de subir o morro todo. -Falou ele e Bufei.

-Esses noia tão ficando preguiçoso de mais. -Falei e Revirei os olhos.

Subi pro escritório e fiz algumas contas, separei o dinheiro pro João, ja que amanhã é o pagamento da boca. Separei o dinheiro pra cada um que trabalha e deixei tudo separadinho.

Fumo uns dez baseado e mesmo assim continuo na maior neurose.

Quando vejo o sol entrando pela janela eu me dou conta que virei a noite e não estou cansado.

Hoje as 14:30 os caras vem receber seu salário e tenho que entregar o dinheiro da boca pro JP.

Decido ir comer alguma coisa na Padaria do Seu João.

-Ei, seu João, trás um pão na chapa e um café, fazendo o favor. -Pedi me sentando no balcão e ele assentiu.

-É pra já, menino. -Falou e começou a preparar enquanto eu passava as mãos no cabelo, tenho que resolver logo as coisas.

Comi e tomei meu café. Quando deu 7:30, recebi uma mensagem no meu celular.

Bom dia, é do Laboratório de DNA. Recebemos o resultado e como foi requisitado, uma cópia está o aguardando.

Mandei SÓ um okay e guardei o celular. Subi na moto e fui pra clínica, mas ta tendo revista de novo.

Esperei na fila e logo chegou minha vez.

-Ae Borgo, encosta ali no canto rapidão. -O campana pediu e fui com a moto até o canto. Ele falou no radinho e veio na minha direção. -Ae, o patrão quer falar com você, disse que é urgente.

Estranhei, mas fui né?

-Pediu pra me chamar, JP? -Perguntei entrando na sala dele.

-Caju de Paraisópolis ta requisitando atenção da sua parte. -Ele Falou e me passou o telefone com uma cara nada boa.

-Fala. -Falei e JP me observava atentamente.

-Ae menó, deixa eu fala, seu pai pediu pra nois não falar nada pra você mas nois ta ligado como ce é e ce merece saber o proceder dos bagulho na sua ausência. Tem uma caminhada ai, parceiro.

-Qual foi, Caju? -Perguntei preocupado. Nunca que o dono de Paraisópolis vai me ligar pra perguntar como ta a minha vida.

-É sua mãe, Borgo. Parece que a doença ta se espalhando e o postinho do Morro não ta dando conta. -Ele falou e senti meu coração gelar.

-Eu to com o dinheiro. Consegui o dinheiro, vou mandar ai pra ela, tem como ce ajudar?

-Claro, seu avô ajudou muito no comando do Morro, nois tem uma dívida com ele, vamo sempre ajudar família.

-Demoro, Caju, eu mando o dinheiro pra você e você cuida dela pra mim, por favor. Fala pra ela que eu volto logo e que eu amo muito ela.

-Olha, não vou falar essas coisas meio gay não, mas pode pa que ela fica sabendo.

-Agradece, Caju.

-E você? Volta quando? O morro não é o mesmo sem você não, Borgo. Nois precisa de você, jão.

-Eu tenho certeza que ta suave. -Ri. -Mas volto logo, tenho que resolver mais algumas fitas ai e depois eu volto.

-Taciana, aquela piranha la do Ceasa colou aqui umas semanas, atrás de você, falando que ta grávida e o filho é teu. Nois ta ligado na caminhada dela e que ela fica com a quebrada toda, se quiser ela fora do seu caminho ta ligado, só dar um salve que nois resolve essas ideias pra você.

-Tá suave, Caju, to resolvendo essas ideia já.

-É isso, mas qualquer coisa, ta ligado. Paz.

E Caju desligou, JP tinha uma mistura de irritação e desconfiança.

-Eu vou esperar você me explicar, porque eu só consigo imaginar que você tem uma mina em São Paulo te esperando e você ta aqui com a minha...

-Minha mãe ta com câncer. -Falei e ele se calou. -Ela ta piorando e finalmente consegui o dinheiro pro tratamento dela. -Falei e ele ficou sem fala.

-E por que o dono te ligou? Se você falou que era só um vapor. -Falou e neguei.

-Nunca falei isso. Eu trabalhava na boca, mas quando o morro não precisava de mim. -Falei e dei de ombros.

-O que você é, na verdade? -Perguntou ele.

-Irmão. Sou braço direito do dono e irmão de Paraisópolis. -Respondi e ele pareceu surpreso.

-Por que não falou antes?

-Você não perguntou. -Falei e dei de ombros. -Agora eu tenho que ir, mas eu passo na sua casa mais tarde. -Falei e ele revirou os olhos.

-Nem aparece por lá se não vai virar peneira. -Eu tive que rir e me despedi dele.

Peguei minha moto e fui pro banco, depositei dinheiro na conta da minha mãe e fui até a porra do consultório.

Cheguei la na secretária e pedi o resultado, ela foi procurar e logo voltou com um envelope.

Peguei o envelope e fui pra casa, tinha outras coisas pra resolver...

Aconteceu 2: Filha do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora