Vitor

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Vitor observava Nina dormir naquela noite. Após falar com os agentes ele havia ido para o escritório e passado um longo tempo pensando. Temia que passado o choque inicial, sua garota ficasse mal. Afinal mesmo que em legítima defesa ela havia matado alguém. Sua irmã.  Ainda que a mesma fosse louca.

Ainda perdido em pensamentos ele ouviu um gemido baixo e olhando para a cama a viu se mexer. Em um sono agitado. Se levantando da cadeira onde havia estado, ele foi até ela e chamou baixinho:

- Nina amor acorde.

Ela continuou a se debater até que acordou. Desorientada.

- Eu matei a minha mãe amor, eu sou uma má pessoa. - Ela chorou agarrada a ele.

- Nina. Olhe pra mim - Ele mandou - Nem de longe você é uma pessoa má.  Você é doce. Gentil. Amorosa.

- Mas...

- Sem mas. Andria e Shawnna eram pessoas loucas. Elas iriam fazer mal a você amor, ao nosso filho e a Milana. Você defendeu a nossa familia. Queria ter sido eu em seu lugar. Mas você fez o que era preciso. Senão não estaríamos aqui nesse momento.

Ela foi se acalmando aos poucos até que voltou a dormir. Não sem antes dizer a ele:

- Nossa família sempre virá em primeiro lugar.

Após ela dormir ele continuou acordado, Celina havia ligado no início da noite para dizer que havia dado entrada no processo para retirar seu nome como mãe da certidão dele. Longe de se sentir triste, foi um alívio.

Ela havia ficado furiosa ao descobrir que um novo testamento do pai dele havia sido entregue e nele ela herdava uma quantia boa. As ínfima se comparada a que Vitor herdara. Rosa havia sido incluida. Aliás haviam entregue duas cartas naquela manhã.  Uma destinada a ele e outra a sua mãe.  A caligrafia do pai no envelope.

Ele não achava que deveria ler, mas de repente após o que aconteceu com sua família, sentiu que deveria ler.

Pegou o envelope na cômoda e se sentando novamente na poltrona, o rasgou o envelope.

" Caro Vitor

Se está lendo isso quer dizer que eu parti antes que pudesse te contar a verdade. Ou pelo menos tentar te fazer entender "minha" verdade.

Como você deve saber, Celine não é sua mãe.  Não digo apenas biológica, pois ela sempre foi incapaz de ser uma mãe. E eu inútil permiti isso. Me casei com ela porque no começo ela não era assim, ou pelo menos me mostrou outra pessoa. Que provavelmente era falsa. E quando dei por mim estava em um casamento vazio. Deus sabe que eu tentei me separar. Mas a cada tentativa ela me prendia com ameaças e tentativas de suicídio. A última levou seu irmão. Em uma briga nossa em que eu estava farto dela e de todo o seu desprezo, ela o matou. Eu o matei. Quem sabe.

Ali nosso casamento ou as sombras dele faliram. Sua mãe Rosa, havia sido contratada para cuidar da casa  e era uma bela jovem. Doce e amável. Sempre tendo um sorriso no rosto e uma palavra educada. Eu não planejei seduzir ela. Mas aos poucos para um homem carente de afeição e acostumado a ter tudo, eu passei a me interessar por ela. Rosa que fique claro me ignorou todas as vezes que tentei me aproximar dela. Exceto um dia. Celine estava viajando e Rosa adoeceu. Estávamos apenas ela e eu em casa e me pareceu natural cuidar dela. Nessa época eu a amava.

Nessa noite, talvez pela doença,  pela carência ou por gostar de mim. Ela se entregou a mim. O resto você deve saber.

O que quero meu filho, é pedir desculpas. Por ter sido um pai amoroso, mas ocupado. Por ter permitido a uma mulher que não tem um pingo de amor dentro de si fingir ser uma mãe. Enquanto outra que era a mãe mais incrível foi mandada embora.
Devo dizer que quando isso aconteceu eu não estava presente. E quando voltei era tarde. Rosa havia partido. E isso me feriu. Pois até pouco tempo eu achei que ela houvesse abandonado a nós dois. Celine havia concordado com o divórcio e nós três ficaríamos juntos. Ao inferno com os negócios ou com as aparências.

Mas não encontrei sua mãe em lugar algum. Foi como se ela houvesse partido desse planeta. E nisso tudo Celine se ofereceu para ficar e criar você. Eu estava em pedaços.  Achei que pelo menos você merecesse ser inteiro. Me enganei.

Vi você crescer como um homem a quem amar e a quem orgulhar.  E me orgulho de você meu filho. Tanto quanto o amo. E tenho um conselho:

Sei como olha para a filha de Sandoval. Nina. Um encanto de moça,  pena que os outros não enxerguem nela o que eu vejo. Sua beleza, seu caráter e sua bela personalidade.

enxergam os defeitos. Mas sei que você é diferente. Você nela o melhor. Então não permita que ela saia de sua vida. Não a perca. Seja feliz meu filho.

Seu pai"

Vitor leu tudo e sentiu um aperto no peito. Seu pai havia amado não apenas a ele, mas também sua mãe. Diferente do que Celina havia dito. E mais ainda, ele havia visto em Nina tudo o que ele, Vitor, também via.

Vendo seu duende dormir e pensando no bebê dentro dela, pensou que o pai estaria muito feliz. E orgulhoso.

E sorrindo se deitou. Abraçado a Nina e dormiu.

MEU TORMENTO 02 - um amor esquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora