Capítulo 24: "Eu tenho uma filha!"

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Branimir

Agarrei-a bruscamente. Atirei-a para a parede com a força que tinha em mim e beijei-a sem pedir licença e sem ter o mínimo de cuidado. Era a minha forma de sentir dor, de sentir raiva e de reagir pelo que ela me tinha feito e por ainda mo ter escondido durante tanto tempo. Era uma surpresa reagir assim, nunca o tinha feito antes. Eu era calmo durante todo o tempo, mas confesso que desta vez, senti o sangue fervilhar-me pelo corpo, a minha calma tornou-se em algo que eu desconhecia. O que sentia era algo completamente novo, daí estar a reagir de uma forma única. Eu sabia que gostava da Mariana, mais do que alguma vez tinha pensado vir a gostar e talvez fosse por isso que estava a sentir tudo aquilo com ainda mais dor. Por sentir algo tão forte é que talvez me estivesse a magoar tanto saber que neste momento, poderíamos estar à espera de um filho. Queria censura-la, culpá-la, queria fazer algo diferente, mas toda aquela irritação que sentia tornara-se em beijos, em toques e acabara exatamente onde começara o lado mais profundo da nossa relação, fora lá que começara todos aqueles sentimentos que sentira e toda esta relação confusa e era exatamente lá que acabara. Envolvemo-nos de uma forma completamente diferente das outras vezes, mais rude, mais violenta, mas também com mais violência, ela não me impunha limites, talvez soubesse que era a minha forma de lidar com esta notícia. Assim que terminamos, ela adormeceu, mas eu não consegui pregar olho. Fui até à sala, e fiquei às escuras a pensar em tudo... Até que a luz da rua que entrava pela janela chamar à atenção de um maço de cigarros que ali estava pousado.

Eu nunca fumara na vida, mas eu queria fazê-lo. Sabia que não devia fazê-lo devido à minha profissão, mas só um cigarro não iria fazer mal, pois não? Peguei no isqueiro e acendi. Mal senti o seu sabor, comecei a chorar. Descontroladamente. Estava a reagir à notícia da forma mais "natural" que um ser humano sabia lidar.

-O que pensas que estás a fazer, Branimir Kalaica?

-Eu sei lá o que estou a fazer! – Respondi-lhe revoltado. Atirei o cigarro para a rua pela janela, estava já cansado daquilo. – Eu nem sei como lidar com tudo isto! – As lágrimas não paravam de cair pela minha cara. -Não sei lidar contigo!

-Eu quero que tu conheças uma pessoa, Brimi.

-Eu não quero conhecer ninguém, Mariana, até porque eu pensava que te conhecia e pelos vistos, não conhecia nada!

-Estás a ser injusto.

-Põe-te no meu lugar! – Gritei-lhe. – Eu nem sei se consigo voltar a confiar em ti! Como... Como é que conseguiste dormir comigo escondendo este segredo?

-Eu tentei! – A sua tentativa de permanecer calma de repente tornou-se num choro incontrolável. – Achas que para mim foi fácil? Imaginas quantas noites passei em branco a pensar em como te devia dizer? Achas que quando te beijava, não me relembrava que podia estar a levar o nosso filho? Acredita que doí mais a mim que a ti!

-Isso é impossível!

-E é por isso que eu quero que conheças alguém para perceberes porque tomei esta atitude.

-A única pessoa culpada por isso, foste tu! – Acusei-a.

-Eu tenho uma filha! – Paramos de chorar. Se eu pensava que o que ela me tivesse dito sobre o aborto me tinha apanhado desprevenido, surpreendera-me ainda mais... 

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