Capítulo 2 - Pessegueiros.

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O passeio havia sido bem entediante, mas eu esperava um pouco de diversão quando saímos do ônibus. Eu, Armie e Sean ficamos juntos. Esperando nosso guia parar de falar sobre os cuidados que tínhamos que tomar, até nossos professores estavam animados, eu sabia que nós íamos acabar chegando perto demais da fronteira. Eu conheço minha espécie, então nós três não conseguimos mais esperar e resolvemos nos afastar do grupo e fomos para uma parte da floresta bem fechada guiadas por Sean que dizia saber onde estava indo.
Eu só fiquei mais tranquila quando conseguir ver um pouco de claridade a nossa frente. Uma claridade em um tom rosado e amarelo. Eram árvores baixas com folhas rosas, eu admirei aquilo passando na frente de Sean e deixando ele lá atrás falando que aquela plantação de pêssegos eram do nosso território. Um pouco mais lá frente estava a enorme muralha, a divisória de ambos os territórios.
-Aqui Lin...
Sean me chamou indo para algum lugar no meio dos pessegueiros acompanhado de Armie que estava animada e rindo feito uma criança da nossa travessura. Eu fui atrás dos dois meio desconfiada, mas quando cheguei lá, vi que se tratava de seis tijolos faltando no canto da muralha, um pequeno buraco que devia ter sido tampado a muito tempo para nossa segurança e a deles também. Estava sujo de musgo e o mato cobria metade da abertura, mas dava para passar. E parecia que Sean tinha pensando a mesma coisa.
-Sean! Você não vai fazer isso
Disse Armie puxando o braço dele quando estava quase metendo a cabeça por aquele buraco. Eu estava curiosa também, e não queria ser a chata outra vez mandando os dois de volta para perto do grupo. Resolvi me divertir um pouco também.
-Armie... Eu sei que você quer ver oque tem do outro lado também
Brinquei me aproximando dela com uma sobrancelha levantada e percebi a curiosidade nos olhos dela. E ela logo abaixou os olhos e soltou o braço de Sean que riu e voltou a meter a cabeça no buraco outra vez.
-Oque tem aí?
Perguntei curiosa esperando ele se mexer já ficando com medo. E se isso não tiver sido uma boa ideia?
-Nada... Só árvores e matos, não dá pra ver nada
Ele se levantou de lá decepcionado limpando as mãos uma nas outras e andando na nossa direção de novo. Eu entortei a boca entediada de novo me virando e caminhando de volta pelo caminho que viemos pensando em voltar para o grupo.
Mas algo apareceu na nossa frente e nós quatro gritamos com o susto, eu tropecei e recuei de perto daquela coisa me encostando em Armie quase derrubando nós duas. O único que agiu certo foi Sean que ficou na nossa frente nos protegendo daquele garoto que com certeza não era um de nós.
-Q-quem são vocês...?
Perguntou o menino encolhido de medo coberto por folhas rosas segurando três pêssegos nas mãos, ele parecia inocente mas não podíamos confiar em nenhum humano, por mais indefeso que seja.
-Oque está fazendo desse lado?
Sean continuava na nossa frente olhando para o garoto enquanto falava, mas eu sabia que ele estava nervoso assim como nós duas aqui atrás abraçadas feito duas medrosas de um garotinho tão magro e com certeza sem pais. Não o ensinaram que esse lado pertence a nós?
-Eu vim... Só pegar...
Ele tentava explicar erguendo um pêssego na direção de Sean na sua mão trêmula, e Sean para piorar as coisas bateu na mão do garoto e o empurrou do nosso caminho com uma grosseria que não sabia que ele tinha.
-Não volte mais aqui, esse lado é nosso!
Gritou ele bravo chutando o pêssego que havia caído da mão do garoto quando ele lhe deu um tapa, ele estava tentando expulsa-lo feito uma galinha. Mas o garoto nem se mexeu assustado demais permanecendo paralisado com os olhos arregalados. Eu sentir pena daquele humano que nem parecia saber que era errado oque estava fazendo.
-Sean... Chega. Ele já deve ter entendido
Falei calma indo na direção dele e olhando para o garoto ainda assustado apertando o último pêssego já amassado na sua mão. Olhei para Sean de novo dizendo para ele ficar calmo, e depois comecei a ajuntar mais alguns pêssegos do chão entregando para o garoto que se encolheu assim que eu me aproximei dele. Tentei sorrir educadamente para deixa-lo tranquilo. Mas ele estava nervoso demais e deixou mais um pêssego cair, eu peguei de novo e entreguei novamente a ele já perdendo a paciência.
-O-obrigado...
-De nada
Me virei de novo e puxei o braço de Sean fazendo um gesto com a cabeça para Armie que ainda estava lá atrás paralisada.
Logo ela percebeu que estava parecendo uma criatura do mato e deu uma pequena carreira para chegar até nós deixando o garotinho lá atrás ainda nos observando.
-Que menino estranho...
Comentou ela baixinho dando uma olhadinha por cima dos ombros vendo se o garoto ainda estava lá pegando pêssegos.
-Ele só não sabe que é errado invadir nosso lado, talvez não exista essas frutas no lado deles...
-Mas não é certo pegar oque está no nosso território, vamos contar para alguém assim que chegamos no grupo, vão tampar aquele buraco para isso não acontecer de novo
-Calma Sean... Até parece que os pêssegos são seus
Eu ri dele por parecer um velho fazendeiro que tinha acabado de saber que tem coiotes roubando suas ovelhas. Armie também riu e nós duas ficamos caçoando dele pelo resto do caminho. E quando chegamos no grupo sem ninguém perceber, já havíamos esquecido disso. Dentro do ônibus, nós três dormimos cansados da caminhada e do susto que tomamos por causa daquele menino estranho.

A filha de Lucy. Onde histórias criam vida. Descubra agora