Capítulo 3 - Travessuras.

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Eu me acordei na minha cama sentindo alguém me cutucar com algo pontudo nas minhas costelas. Era Sean com um sorriso assustador me chamando para ver algo atrás da escola. Eu ainda estava meio sonolenta mas mesmo assim eu me levantei pela curiosidade e o seguir pelo corredor correndo porque também tinha muitos alunos curiosos indo para o mesmo lugar que estávamos indo.
-Rápido Lin!
Gritou Sean puxando minha mão me arrancando do meio dos outros e me colocando na frente da multidão. Eu estava confusa e nem sabia direito pra onde estava indo e nem como havíamos chegados tão rápido no campo. Tinha milhares de alunos também correndo na direção da grade para ver algo na rua.
Parecia um tumulto acontecendo com outras pessoas ao redor observando alguma coisa que estava no centro dos curiosos.
-É um dos selvagens de novo!!
Gritou alguém que passou do meu lado se encostando na grade assim como eu e Sean, ficamos ali ofegantes de curiosidade querendo ver esse tal selvagem. Isso costumava acontecer quase todos os dias, um selvagem invadir nossa cidade em busca de comida. Mas oque eu vi parecia ser apenas uma menina extremamente irritada atacando todos que tentavam pega-la com uma corda que a população havia conseguido, claro que todos nós estávamos gritando em torcida para a garotinha nos divertindo com o tumulto que ela estava causando, e era tão pequena e agressiva que era engraçado ver todos os adultos com medo dela.
Mas logo conseguiram imobiliza-la no chão depois de quase meia hora.
-Todos vocês voltem para a escola!
Gritou uma mulher brava com os alunos que estavam se afastando da grade e correndo de volta para a escola rindo. Eu e Sean voltamos também comentando sobre oque fariam com a menina. Era divertido toda vez que isso acontecia porque na maioria das vezes as crianças selvagens eram mandadas para algum lugar que cuidava delas e as tornavam pessoas normais como nós. Sean nunca me contou, mas eu descobri recentemente pelos seus amigos que ele também tinha problemas quando chegou aqui. Nunca comentei nada sobre isso, eu achava legal ser um selvagem, apenas vivendo com a ajuda dos seus instintos primitivos. Eu sou uma não humana artificial que nunca sentiu essas coisas e que sempre foi criada com a ajuda das pessoas que tiveram pena de mim quando nasci.
-Boa noite
Dissemos juntos quando ele me deixou no meu quarto. Eu estava cansada mas também não queria dormir, era quase cinco horas da manhã. E vamos ter o dia livre hoje porque é domingo e temos a escola toda para nós. A escola também é nossa casa, então podemos fazer oque quiser com ela, e mesmo com os problemas que damos, o governo nunca toma uma atitude porque afinal não temos pra onde ir e ele não pode nos expulsar da casa que ele construiu para nós.

______

Eu gostava de aproveitar o domingo apenas dormindo. Era meu lugar de paz a árvore no campo, o barulho das folhas me acalmava e o sol morno no meu rosto me deixava com uma sensação boa e aconchegante. Isso era tão bom.
-Linney!
Mais uma vez a garota baixinha com cabelos cor de chocolate me interrompendo no meu momento de paz e sossego. Ela veio correndo de novo só que dessa vez não trazia livros, apenas seu caderno fino e um estojo rosa pequeno. Eu me levantei suspirando impaciente e fiquei esperando-a se arrastando de tão cansada da corrida. Ela está precisando de exercícios, não pode viver trancada no seu quarto estudando feito uma louca.
-Já pegou sua revisão né?
Perguntou se sentando na minha frente passando a mão na testa suada e depois folheando seu caderno em busca da revisão. Eu apenas fiquei em silêncio querendo empurrar ela morro a baixo por me atrapalhar nesse tempo de paz que eu precisava.
-Armie... Você está obcecada demais com os estudos, precisa de um tempo disso tudo
Falei apontando para o jeito dela folheando seu caderno parecendo alguém com problemas de cafeína. Seus olhos não paravam um segundo de tanto que ela lia um texto gigante no seu caderno parecendo uma louca.
-Armie!
Gritei puxando seu caderno e o fechando com força na cara dela fazendo seu cabelo voar para trás. Finalmente ela parecia ligada na realidade, piscou algumas vezes e depois pareceu envergonhada com oque estava fazendo.
-Hoje é domingo e a prova só é quarta feira, não precisamos estudar tanto
-Tem razão... Oque quer fazer?
Ela perguntou em um tom fraco e baixo demais, tirando uma mecha de cabelo do seu rosto. A pobre menina estava até com olheiras, com certeza havia passado a noite em claro gravando todo o texto sobre a reprodução humana. Tentei pensar em algum lugar que poderíamos ir que fizesse ela esquecer os estudos por um tempo.
-Vamos sair um pouco, você tá precisando relaxar
Me levantei sorrindo para ela agarrando sua mão e depois descendo o morro em direção ao grande portão que só abria aos domingos. Claro que nós estávamos com nossas pulseiras de choques que também servia como rastreador, por isso eles deixavam nós sair nesses dias.
Afinal de contas pra onde iríamos? Em volta da cidade há um tipo de cerca elétrica que ativa as pulseiras e, além de recebemos uma carga elétrica por todo o corpo, ainda somos encontradas na hora e ainda somos punidas de alguma maneira que eu nunca descobrir.
Mas claro que temos a confiança dos diretores da escola, duas alunas ótimas, ou talvez eu possa ser chamada assim apenas por andar com Armie, nunca e jamais ousariam fugir da cidade ou ir longe demais da nossa escola.
-Quer colher pêssegos de novo?
-Hum... Porque não tentamos passar por aquele buraco de novo?
Sorrir para ela que entendeu oque eu queria dizer, é da nossa natureza ir contra as regras, e nem uma menina como ela resiste a uma tentação de irritar os humanos. Sabemos que somos apenas duas garotas teimosas e infantis, mas quais são as chances de nos pegarem? Sean disse que lá só tem mato e árvores, nenhum sinal de humano. Então oque custa uma travessura inocente como essa?

A filha de Lucy. Onde histórias criam vida. Descubra agora