Capítulo 29 (Final) - Um dia vamos voltar.

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Acordei sentindo uma enorme dor na minha perna esquerda. Eu estava na beira de um lago com metade do corpo dentro da água. Eu tento me levantar bem devagar, mas logo percebo que minha coxa está perfurada com um pedaço de alguma coisa afiada.
Fico parada entrando em desespero tentando pensar no que fazer para tirar aquilo dali. Olho pra frente e vejo o helicóptero boiando no lago pegando fogo, estava todo destruído, com certeza já tinha explodido quando caiu. As árvores também foram atingidas, as hélices estavam espalhadas boiando também na superfície da água escura por causa do combustível do helicóptero que tinha vazado.
Eu levantei com muita dificuldade mantendo todo o peso do corpo na minha perna boa. Olho em volta mais uma vez, nada. Então eu tento andar bem devagar pegando um galho do chão e usando como bengala. Meu sangue não estava escorrendo mais, o ferimento estava roxo, quase preto. Isso não era bom sinal. Eu tinha que conseguir ajuda imediatamente se não poderia perder minha perna inteira.
Mas logo algo na minha frente me chama atenção me dando esperanças, alguém ali no meio do meu caminho estava andando quase da mesma forma que eu. Estava ferido e fraco com as roupas rasgadas e sujas. Suas pernas estavam bambas, quase caia no chão de fraqueza ou simplesmente por cansaço.
-Ei!
Chamei com a voz rouca tentando andar um pouco mais rápido. O garoto me olhou rápido arregalando os olhos quando me reconheceu. Era Ryan ali tentando chegar até mim, mas eu, apesar de está com a perna machucada, consigo chegar mais rápido e me apóio nele que se encosta em mim muito fraco e cansado.
-Tudo bem...
Eu cochicho passando a mão no seu rosto sujo de cinzas ou talvez lama. Ele fica me encarando muito triste com os olhos sem brilho, com certeza havia acontecido algo terrível, me atrevi a olhar para trás procurando os outros. Depois volto a encara-lo, mas ele une as sobrancelhas e me abraça com força chorando.
-Todos mortos
Ele disse seco com a voz rouca também me apertando ainda mais. Estava chorando mais alto me deixando triste também, eu comecei a chorar junto com ele por todos que morreram. Mas também choro por Deus ter deixado ele comigo. Se ele não tivesse aparecido eu já estaria morrendo por saber que ele tinha sido morto por aqueles crápulas também.
-Vamos sair daqui, temos que cuidar de você
Ele disse percebendo meu ferimento. Eu concordo com a cabeça e começo a andar um pouco mais rápido com ele ao meu lado me ajudando.

______

Chegamos em uma cabana abandonada no meio da floresta, ele pegou água da chuva que começou a cair para lavar meu ferimento. Não tinha outra fonte de água mesmo, então tínhamos que ir na sorte para não infeccionar minha perna.
Ele retirou aquilo pontudo na minha pele e depois apertou com força para que o sangue parasse de jorrar. Quando tudo acabou, eu o ajudei a se limpar deitada na cama velha com um colchão desgastado. O ajudei a limpar seus arranhões que estavam em quase todo seu corpo. Não fiquei com vergonha quando o pedi que tirasse sua blusa quase toda rasgada, usei ela para amarrar um corte no seu braço e a outra metade eu limpei seu rosto por último.
-Ryan...
Chamei quando eu notei que seus olhos estavam perdidos e tristes outra vez direcionados para a cama. Ele me olhou meio envergonhado segurando minha mão e depois juntando as nossas sobre seu colo me deixando confusa.
-Fiquei com medo de morrer e nunca mais poder ver você
Ele disse baixo fazendo carinho nas costas da minha mão com o polegar. Eu fico em silêncio sem coragem de interromper esse momento perfeito. Encarei seus olhos só depois de um tempo verificando se ele ainda estava pensando naquilo, mas agora eles estavam com um pouco de brilho. Talvez uma faísca bem fraca de carinho por mim ainda, arrisquei um sorriso bem fraco e sem graça.
-Você viu o helicóptero caindo?
Perguntei ainda com meu sorriso tentando distrai-lo. Acho que deu certo porque ele balançou a cabeça sorrindo um pouco mais.
-Eu pensei que iria morrer, fiquei com medo de nunca mais ver você de novo também
Confessei ainda com meu sorriso um pouco mais animado. Brinquei com suas mãos esperando o tempo passar até que ele suspirou exausto me puxando para um abraço colocando sua mão no meu ombro até eu encostar em seu peito de lado.
Ficamos assim por não sei quanto tempo, só sei que eu quase acabei dormindo quando ele resolveu falar mais um pouco.
-Vamos dá o troco neles alguma dia... Mas não podemos ir sozinhos dessa vez
-Não me preocupo mais sabendo que você está vivo depois disso tudo, eles podem fazer oque quiserem... Jade e eu matamos bastantes deles pra vingar a morte de Armie e dos outros
Eu falei roçando meu dedo no seu braço lembrando do exato momento em que Armie foi atingida. Balancei a cabeça e me levantei do seu peito ficando sentada do seu lado encarando seu rosto.
-Você me mataria?
-Como assim?
Perguntei assustada não entendo o motivo dele sorrir me perguntando isso.
-Eu sou metade humano, parte de mim pertence à espécie deles... Sente raiva de mim também?
Fiquei por um momento pensando nisso profundamente. Mas depois sorrir em seguida fiquei rindo do que ele insinuou.
-Não... Eu não tenho raiva de você
Disse por fim dando um ponto final nesse assunto estranho. Ficamos em silêncio pensando na nossa situação mais uma vez, isso nos entristeceu e nos olhamos por um segundo trocando pensamentos.
-Acho que agora... Vamos deixar tudo se acalmar, certo?
-Certo
Concordei sorrindo pegando sua mão e entrelaçando nossos dedos uns nos outros. Olhamos pela janela da cabana a tarde chuvosa lá fora e eu acabei voltando a me encostar no seu ombro pensando no que faria daqui pra frente. Claro que ficava preocupada, mas me sinto segura perto dele. Mesmo no meio de uma guerra, ele foi o único que sobrou.
-Não fica preocupada com nada... Você tá segura comigo, vamos cuidar um do outro de agora em diante
Ele passou a mão no meu cabelo me deixando mais calma. Fiquei ali sem dizer nada olhando pela janela me sentindo um pouco melhor do que antes. Sabia que ele nunca me abandonaria, e eu sabia que ele iria cumpri oque acabou de falar. Eu farei o mesmo. Mas não tiro da minha cabeça que um dia eu vou massacrar a raça humana por tudo que ela está fazendo com a nossa espécie.


{Fim}

A filha de Lucy. Onde histórias criam vida. Descubra agora