Capítulo 7 - Não era pra acontecer tudo isso.

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Claro que fiz oque ele havia pedido, e agora estou aqui presa com ele fazendo coroas de folhas rosas em silêncio e com o rosto vermelho de tanto chorar de raiva. Eu me sentia seu bichinho de estimação, pelo jeito que ele está me tratando agora. Eu não sabia direito porque tinha decidido voltar depois de tudo que aconteceu ontem, ele me jogou no chão e me deixou assustada, e agora estamos aqui como amigos fazendo coroas.
-Está tão calada, quando eu te conheci era bem desafiadora
Ele comentou com um sorriso me deixando irritada, eu não sei porque ainda estou aqui. Devia ter contado para as autoridades sobre esse buraco no muro, ele é como um rato que invadiu nosso território. Porque eu vim aqui para ser torturada? Ele é um humano. Eu sou a superior ainda... Não vou aceitar ser tratada dessa forma. Agora só falta a coragem para dizer isso na cara dele.
-Acho que vamos ser grandes amigos... Só falta você me apresentar para seus amigos,
-Iriam devorar você
Falei brava juntando mais folhinhas na minha mão e entregando a ele que me olhou meio confuso mas mantendo seu sorriso no rosto. Eu fiquei seria esperando ele responder. Eu sei que não atacamos mais os humanos dessa forma tão violenta, mas foi só uma tentativa de deixa-lo com medo. Uma coisa que com certeza não deu certo.
-Eu acho que você não entendeu direito... Não sou humano
Fiquei em silêncio esperando ele explicar porque vieram tantas coisas na minha cabeça que fiquei tonta de tanto pensar nas inúmeras besteiras inexplicáveis que imaginei. Mas ele só sorriu e continuou entrelaçando as folhinhas nos arcos de galhos flexíveis.
-Eu disse que devia está do lado de vocês, mas não ligam pro que eu sou do outro lado... Não percebem que eu sou diferente, afinal... Eu moro sozinho e não tenho contato com ninguém, eu devo ser apenas só um não humano que vive no território deles sem que eles saibam... São burros
-Seu pai?
-Minha mãe era uma de vocês.... Ela invadiu no tempo da guerra e acabou morando do nosso lado durante anos, até conhecer meu pai que é humano... Aí o resultado fui eu, nem sei porque permaneci lá se sou mais parecido com vocês
-Mas... Você come pêssegos
Ele riu me deixando constrangida e com medo de ter falado alguma idiotice. Só abaixei a cabeça e continuei catando as folhas pequenas em silêncio esperando ele terminar sua história.
-Eu não sei ainda porque gosto dessa fruta... Oque devemos comer de verdade?
Ergui os ombros em resposta porque também não sabia. Ele consegue comer por ser meio humano, mas eu nunca jamais conseguiria comer alguma fruta, não sei porque plantaram essas árvores do nosso lado se não nos alimentamos de frutos. Não era tão ruim conversar com ele.
-Desculpa por ontem... Eu só agir primeiro antes que você fizesse o mesmo comigo
-Quer dizer então que você quis me mostrar que era um tipo de "macho alfa"?
-Eu não quis machucar você, só estava garantindo que você viesse depois de uma pequena ameaça
Bufei me sentindo uma submissa e inferior de novo, cansei de colher folhas e me levantei limpando minhas mãos e andando de volta para o caminho que vim deixando ele lá atrás.
-Calma... Eu não sou muito sociável... Desculpa se agi errado
Ele falava tentando me acompanhar realmente parecendo arrependido. Mas eu não queria mais conversar com esse falso amigo e falso humano indefeso que pensei que era no começo.
-Linney
Ele pegou meu braço com cuidado como se ele fosse feito de isopor e me virou de frente para ele. Ficamos em um silêncio estranho e eu comecei a fugir do seu olhar olhando para os lados me sentindo esquisita de novo. Oque é isso?
-Tenho que ir agora
Disse rápido puxando meu braço e correndo dali deixando-o sozinho no meio do caminho. Eu tinha pensamentos horríveis e sensações estranhas à medida que eu me afastava daquela floresta. E quando eu cheguei na grade do portão da escola, eu coloquei minha mão na testa limpando meu suor e tentando recuperar o fôlego para não chamar atenção dos seguranças. Mas senti uma mão no meu ombro e meu coração voltou a disparar feito louco.
-Não... Volta por favor... Vão ver você
Disse quase chorando empurrando ele pelo braço olhando ao redor vendo se tinha chamado atenção demais com meu susto. Ele não estava ajudando, parecia ter os pés presos ao chão porque não saía do lugar. E ficava apenas rindo da minha força.
-Posso conhecer sua escola? Não é nada comparado ao lugar que eu costumava estudar quando era menor
Ele se mexeu, mas foi para frente em direção do portão chamando atenção dos seguranças que olharam diretamente para nós. E eu não conseguir mais disfarçar, fingir que ele era meu amigo e nós dois acabamos entrando na escola como se fôssemos estudantes.

A filha de Lucy. Onde histórias criam vida. Descubra agora