Capítulo 11 - Um assaltante.

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Conversamos sobre tantas coisas que eu me sentia cansada e sem mais nada dentro de mim para esconder dela, eu precisava ter algo em mim que ainda não havia contado para ela. Mas infelizmente não escondi nada, menos a parte da luta de ontem, essa parte não tive coragem de falar porque a conversa estava animada. Armie era uma boa amiga em partes, menos quando fica curiosa e me força a dizer cada sentimento escondido em mim. Eu preciso guardas algumas coisas que não se podem ser ditas na frente de ninguém, até mesmo ela.
-Se já tiver acabado, eu agradeço se você for agora porque meu corpo inteiro está doendo e eu preciso descansar
Fui dizendo isso fingindo está cansada caminhando até a porta e abrindo-a para ela que suspirou mas se levantou da cama e andou até mim.
-Amanhã terminamos isso, eu sei que você esconde alguma coisa
Ela tocou meu nariz com seu indicador me dando um sorriso desconfiado mas pelo menos me deixou sozinha para pensar. Antes de fechar a porta, eu sem querer encarei Sean que estava do lado de fora encostado na parede olhando para o chão mas depois para mim. Eu sentir um nervosismo estranho e procurei logo desviar os olhos e fechar a porta trancado-a duas vezes.
Me joguei na minha cama tirando meus sapatos e depois minha blusa apertada, fiquei com uma fina e sem mangas por baixo e também tirei minha calça vestindo um short branco que encontrei embaixo do meu travesseiro.
Como sabia que meus pensamentos não iriam me deixar dormir, eu finalmente decidir estudar para os exames que teriam nas próximas semanas, peguei meu caderno quase sem conteúdo e comecei a ler as minhas atividades incompletas. Eu era uma ótima aluna na minha opinião, quase conseguia responder sem a ajuda de Armie, mas por outro lado eu estava meio apertada esse ano. Sei que depois que nós acabarmos de estudar e aprender boas maneiras poderemos ser finalmente "soltos" no mundo. Além das muralhas e das cercas elétricas que tem ao redor da nossa cidade. Eu nunca soube por onde andou as outras crianças que terminaram de estudar e foram soltas para fora da cidade, eles nos criam, e depois somos soltos, isso não fazia sentido pra mim.
Não estava mais conseguindo me concentrar na minha atividade, eu não queria saber de como os humanos evoluíram. Então, irritada, eu fechei meu caderno passando as mãos no meu cabelo bagunçado e solto tentando não cair em pensamentos sobre tudo que passei hoje. Não tinha motivos pra mim pensar sobre isso.
Então eu fui dormir apagando meu abajur vermelho e me deitando na cama de lado abraçando meu travesseiro.

______

Não era tão bom ser acordada por batidas fortes na porta, eu não gostava de ser acordada dessa forma. Mas parecia ser Armie gritando para mim abrir a porta desesperadamente.
-Lin!! Vamos nos atrasar
Ela dizia sem parar batendo na porta me lembrando que hoje era o dia que tínhamos para sair da escola, esqueci que tínhamos pedido autorização semana passada para isso. Me levantei ainda pensando sobre oque iríamos fazer hoje sem conseguir me lembrar.
Mas cuidei de catar alguma roupa simples no guarda roupa e correr para o banheiro ignorando ela que me acompanhava pedindo que eu me apressasse. Quando cheguei no banheiro, abri meu armário pegando meu shampoo e condicionador. Corri para o chuveiro logo derramando quase todo o shampoo no meio da minha cabeça.
Parei de esfregar tanto e esperei a espuma sair ficando quieta embaixo da água com jatos fracos. Eu comecei a pensar no que houve ontem, pensei em coisas que não deveria sem querer, eu não gostava de sentir isso. Não gostava de lembrar de como era a sensação de arranhar seu rosto, lembrei também que depois de tudo que fizemos um com o outro, ele me ajudou no final. Mas porquê? Era pra mim estar morta nesse momento.
Balancei a cabeça e desliguei o chuveiro trocando de roupas rápido, deixei a toalha pendurada dentro do armário e sair já pronta encontrando Armie sorrindo pra mim.
-Não se preocupe porque hoje vamos comprar roupas novas e você vai parar de usar esses trapinhos
-Com que dinheiro?
Perguntei rápido sorrindo fraco também, ela agarrou meu braço colocando ele entrelaçado no seu sem me responder. Apenas me levou até a porta da escola e de lá passamos pelos guardas mostrando nossa autorização para eles nos deixarem sair.
Não sei onde Armie me levaria, mas começamos a andar pela calçada falando sobre vestidos e coisas de meninas que eu não gostava muito de discutir com ela. Apesar de sermos melhores amigas, tem certos assuntos que me deixam constrangida só de pensar e pior ainda falar. Ela começou a mudar o assunto para namorados e meninos que gostamos quando éramos pequenas.
Mas fomos interrompidas, quando íamos atravessar a rua para entrar na loja de roupas, um carro preto freou na nossa frente fazendo os pneus cantarem nos assustando. Por pouco nossos pés não foram amassados por eles.
Logo a frente do carro, estava um garoto que tinha sido o motivo pela freada que o pobre homem dentro do carro deu para salva-lo. Ele estava com um cupcake na boca segurando um pacote de papel e com certeza tinha atravessado a rua correndo porque tinha assaltado a confeitaria do outro lado da rua.
Ele caminhou até nós quando nos viu e tirou aquele docinho da boca tirando um pedaço. Sem querer apertei demais o braço de Armie e abaixei a cabeça mas não tirei os olhos dele ficando nervosa sentindo um nó dentro de mim. Meu peito chegou a doer por algum motivo, não sabia se era raiva ou outra coisa.
-Oque está fazendo aqui? Não devia está do seu lado?
Armie estava confusa e eu agradeci a ela por começar a conversa primeiro me deixando de lado. Continuei ignorando o olhar dele em mim e prometi não dizer nada mesmo se alguém me perguntasse alguma coisa.
-Na verdade meu lugar é aqui mesmo
Ele disse tranquilo mordendo aquele docinho sujando o canto da sua boca com chantilly, Armie fez uma pausa com certeza se lembrando da nossa conversa que eu revelei que ele havia me contado que não era humano.
-Mesmo assim você continua sendo um intruso
Porque ela fazia questão de conversar sobre isso com ele? Porque não vamos embora? Eu já estava me sentindo mal e ficar olhando para meus pés não estava me ajudando, minha cabeça doeu e logo Armie me olhou porque eu soltei um gemido baixo e agudo por causa da dor.
-Lin?
Ela me chamou mas eu mal a ouvir. Apertei os olhos e me obriguei a mão desmaiar aqui na frente de todo mundo, já basta ter passado vergonha ontem quando cheguei dizendo que quase fui violentada.
-É só uma dor de cabeça
-Melhor leva-la Armie...
Ele falou de uma forma estranha, quase como se tivesse prendendo o riso ou achando isso engraçado. Me apoiei no braço dela e o encarei ainda comendo aquela coisinha, eu não aguentei só ficar olhando para seu sorriso. Dei um passo para frente cambaleando para o lado, mas conseguir dar um tapa na sua mão derrubando o docinho no chão fazendo ele espocar na calçada. Nos encaramos quando terminamos de ver o show do docinho explodindo no chão, ele uniu as sobrancelhas bem devagar mas depois suspirou com força e pegou mais um no seu pacote.
Pelo visto eu estava querendo arrumar mais confusão porque peguei aquele pacote e joguei no meio da rua e logo em seguida, um carro o atropelou espalhando cobertura de cupcakes pra todo lado. Ele agora me encarou furioso com os olhos em chamas apertando seus punhos com força, mas não me deixou nenhum pouco intimidada. Aceito mais um desafio aqui mesmo na rua.
-Pobrezinha... Não está bem... Melhor eu ajudar você chegar até seu colégio
Ele mudou de postura relaxando seus ombros e fazendo um olhar dócil para Armie atrás de mim que não estava entendendo nada. Mas quando a encarei, ela logo balançou a cabeça concordando e se colocando do meu lado ajeitando sua pequena bolsa no ombro sem jeito.
-Deixa eu ajudar você
Respondi com um rosnado baixo só para ele escutar e me afastei dos dois indo em direção ao muro para me apoiar e controlar a vontade que tinha que arrancar um pedaço dele com os dentes.
-Ela é sempre assim?
-Ela só fica estressada quando as pessoas a deixam irritada, mas no final oque ela quer realmente é ficar sozinha... Como quase sempre faz comigo, mas não se preocupe, talvez ela só não goste de companhia masculina
Olhei para Armie nesse momento e já estava pensando em empurra-la para o meio da pista. Mas não ia cometer tal loucura com minha melhor amiga. Então abaixei a cabeça e continuei andando em silêncio escutando a conversa irritante dos dois lá atrás.

A filha de Lucy. Onde histórias criam vida. Descubra agora