Capítulo 9 - Defender ou ceder?

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Fiquei esperando ele a tarde inteira encostada em um pessegueiro tremendo de frio mas mesmo assim ainda com a ideia de conversar com ele. Não queria mais causar problemas pra ninguém, mesmo que a última confusão seja por causa de Sean que agiu por instinto. Pensando bem agora, eu não tive tanta culpa por ter levado Ryan até a escola. Eu sei que não devia fazer aquilo, mas na minha cabeça não seria causa de uma confusão.
Devia ter trago meu casaco de inverno, se soubesse que tinha que ficar aqui até essa hora da noite, porque ele não surge de repente como costuma fazer? Não adianta ficar aqui me tremendo de frio e começando a ficar com medo dos bichos que faziam barulhos estranhos ao meu redor. Cansei de espera-lo e me levantei dali limpando minha calça e indo em direção a trilha que gravei de volta para a civilização. Só que ele resolveu surgi como estava esperando, um pouco diferente do comum, com certeza havia roubado roupas novas porque sua calça preta estava diferente limpa dessa vez. Ele carregava um pacote de balas que comia sem parar jogando as embalagens no chão sem se importar.
Quando notou que eu estava na sua frente, ele parou e sorriu mostrando seus dentes coloridos me deixando meio irritada porque ele era a causa de toda essa preocupação que está na minha cabeça. Preocupação de causar outra guerra por minha causa e também da segurança dele, se alguém mais do meu colégio souber de um intruso, vão querer fazer o mesmo que fazíamos a anos atrás quando não existiam leis a favor de invasores jovens. Ele seria morto pela minha população e sua espécie não iria salva-lo, não iam levar em consideração se ele fosse um de nós, oque importa é que ele não é do nosso lado.
-Vim falar com você
Disse oque estava preso na minha garganta e soltei o ar pela boca aliviada por finalmente consegui dizer. Seria mais difícil ainda se ele continuar comendo aquelas coisas cheias de açúcar e sorrindo pra mim de um jeito despreocupado.
-Sobre oque?
-Sobre você está à vontade demais do nosso lado, precisa parar de fazer essas coisas
Apontei para o pacote de balas e suas roupas novas que ele havia roubado. Estava ficando ainda mais irritada porque ele nem parecia ter entendido oque eu estava querendo fazer ele entender. Ainda não conseguia ver o risco que corria agindo feito um bandido no nosso território. Esse menino precisa entender a gravidade do que está fazendo aqui.
-Vai tentar me convencer a voltar pro meu lado? Sem chances... Eu gostei daqui... Mil vezes melhor do que viver sozinho numa casa abandonada sobrevivendo de frutas
Ele passou do meu lado colocando mais daquela balas na sua boca jogando os papéis perto dos meus pés. Eu mantive a cabeça baixa me sentindo um pouco menos culpada de ter mimado ele. Não quer me obedecer, então que sofra as consequências pois não o salvarei quando estiver sendo mutilado por nossa espécie.
-Tudo bem então... Você que sofra as consequências da sua desobediência, vou dizer que tentei te ajudar para meus amigos quando estivermos assistindo você sendo mutilado pela nossa popula...
Fui interrompida porque ele havia pegado meu pescoço com sua mão suja de açúcar e me colocado contra a mesma árvore que me ameaçou no outro dia. Eu engasguei mas mantive minha expressão séria não querendo me mostrar a fraca de novo. Fiquei encarando ele esperando terminar de lamber seus dedos da sua outra mão para começar a falar.
-Você não deve ser a única a saber das minhas visitinhas, então acabarei com você agora e depois irei atrás daquele seu amigo agressivo... Até não sobrar mais ninguém nessa cidade que saiba que sou um invasor
Ele estava me ameaçando outra vez, só que dessa vez eu surtei e resolvi chutar sua barriga fazendo ele se afastar de mim e cambalear para trás. Fiquei no chão de joelhos recuperando o ar e tossindo com os olhos neles, mostrei meus dentes à ele de tanta raiva que estava me consumindo agora. Esse imbecil pensa que sou um tipo de submissa e não vou deixar que isso termine assim.
-Não vai dar muito trabalho me livrar de você
Ele caminhou na minha direção de novo com os olhos no meu pescoço que com certeza ainda estava vermelho. Eu pensei em atacar, mas tinha que me recuperar primeiro. Então resolvi correr para ver se conseguia ajuda porque tinha um maluco atrás de mim querendo me matar.
Eu tentei correr o mais rápido que conseguia, mas como era péssima nisso desde quando brincava de pega-pega, eu não fui tão rápido quanto ele. E fui agarrada pelo casaco que tentei tirar antes dele me jogar no chão com facilidade como se eu pesasse dois quilos. Bati minha cabeça mas continuei lutando tentando morder seus braços e suas mãos que estavam querendo chegar ao meu pescoço de novo.
Usei minhas pernas que eram mais fortes que meus braços e o empurrei para trás chutando seu rosto com força antes de me levantar. Fiquei assistindo ele limpar o sangue que escorria da sua boca até seu queixo, eu queria ter quebrado sua mandíbula.
-Vai aceitar apanhar de uma menina?
Perguntei brava mas recuando alguns passos quando ele levantou e ficou em posição pronto para atacar. Mantive minha expressão séria e corri na direção dele quando ele fez o mesmo, não sabia de onde havia tirado meus rosnando porque nunca fiz isso na minha vida.
Ficamos tentando derrubar um ao outro através de arranhões e mordidas, conseguir rasgar sua blusa numa tentativa de arranha-lo feio no peito. Eu conseguir e fiquei feliz com minha vitória quando ele foi o primeiro a se afastar com a mão no seu ferimento sangrando.
-Vá embora de uma vez e nunca mais volte
Pedi ofegante com a mão no meu ombro também porque ele havia conseguido tirar um pedaço dele com seus dentes afiados. Estávamos parecendo dois selvagens brincando por território. Mas quem deve perder é ele, eu estou agindo com honra defendendo meu lado de um intruso que acha que pode ter tudo que quer através de ameaças bobas como as que ele vive fazendo pra mim.
-Admito que você tem persistência, mas deve ir por favor... Eu não quero contar a mais ninguém sobre isso... Você corre risco de vida se isso acontecer
-Corro risco de pegar raiva através de uma mordida sua
Fechei os punhos não querendo começar de novo, mas ele pediu então eu avencei nele de novo dessa vez lhe acertando um soco no rosto fazendo ele cuspir sangue.
Me afastei esperando ele se recuperar me tremendo de nervosismo e adrenalina que sentia por ver que estava ganhando essa briga por território. Eu me sinto agindo por todos do meu lado, e vou até o fim porque se parar, eu tenho certeza que vou perder para ele.
-Estamos fazendo do jeito tradicional... Mas você é uma menina, e uma menina sozinha não pode proteger um território inteiro
Ele me olhou sorrindo e me acertou algo duro na minha coxa que fez eu me encolher no chão de tanta dor. Eu achava que tinha perfurado minha pele, e só tive certeza disso quando sentir o líquido quente escorrer por ela. Fiquei em silêncio chorando de dor olhando para o céu estrelado esperando eu apagar de vez. Mas antes de fechar os olhos, eu vi o rosto dele sério na frente do meu tampando minha visão.
-Vou cuidar de você...
Ele disse se afastando de mim mas logo em seguida sentir meu corpo ser erguido do chão como se eu fosse uma boneca de pano muito grande. Minha cabeça cambaleou para trás quando ele começou a andar para algum lugar, eu sentia muita vontade de dormir, então me entreguei a isso e apaguei.

A filha de Lucy. Onde histórias criam vida. Descubra agora