Capítulo 20 - Planos de fuga.

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A vida nessa cidade artificial estava ficando entediante, nada acontecia de diferente. Os dias eram todos iguais, as festas não eram mais com tanta frequência, então nos acostumamos a ficar com fome por semanas ou até mais. Ryan e Sean se tornaram amigos de uma hora para outra, quando Sean o chamou para caçar. Eu achei que fosse algo que faria mal a Ryan e a seus instintos também. Mas até que ele continuou o mesmo depois de começar a praticar isso com Sean, eu e Armie ficávamos na parte de trás da casa conversando sobre coisas aleatórias e sem importância, era um dia comum nessa cidade chata.
Quando eles chegavam, contavam suas aventuras idiotas com um coelho e um esquilo, era isso que ele caçavam. Eu estava pensando em ir também só para não ficar com fome por tanto tempo, parece que estamos passando por uma espécie de crise.
A mais de duas semanas que não comemos. Eles querem nos matar.
-Porque estão aqui com cara de enterro?
-Não estamos afim de fazer nada
Respondi a Ryan que se sentou no chão na nossa frente ao lado de Sean que brincava com a grama arrancando ela no chão e enrolando os matinhos no seu dedo. Eu fiquei olhando aquilo até começar a fazer o mesmo sem muita animação como a dele.
-Seria melhor se... Nós estivéssemos lá fora
Ele comentou olhando para o lado com os olhos estreitados por causa do sol que estava se pondo em cima das casinhas. Eu também fiquei olhando aquilo com certeza me imaginando rolando na cama porque não consigo dormir, muitas vezes pelo motivo de não estar cansada de não fazer nada o dia inteiro.
Suspirei e comecei a brincar com o cabelo de Armie fazendo uma trança de lado.
-Será que podemos fugir? Não vi nenhuma cerca ainda, parece que só estamos morando num território livre
-Ryan
Chamei ele colocando a mão no meu peito onde tinha um quadradinho preto grudado no meu uniforme. Alguns dias atrás, explicaram para nós que aquilo era um rastreador, podemos ir longe, mas assim que ele começar a apitar, queria dizer que já tínhamos ido longe demais e vamos ser considerados fugitivos quando nos pegarem. Não podemos tirar pois o último morador daqui que tirou seu uniforme e passou a usar roupas normais sem ser em ocasiões como as nossas festas, ele foi pego e levado para algum lugar além da nossa fronteira e nunca mais voltou. Isso foi o suficiente para fazer Ryan pensar duas vezes antes de começar a trabalhar em outro plano.
-Mas... Podemos replicar os uniformes! Se fazermos alguns iguais a estes com o quadradinho falso e tudo, não vão desconfiar de nada
Ele parecia tão alegre, mas eu queria que fosse tal fácil assim. Não gostava de ser estraga prazeres, mas eu tinha que lembrar a ele sobre uma coisa.
-Ryan, eles passam um troço em nós para saberem se o quadradinho está ativo quase todos os sábados, não iria dá tempo de...
-Aí está Lin, você disse todos os sábados, acho que dá tempo sim de replicar os uniformes e fugir antes deles nos escanearem
Eu desistir. A auto estima dele é ótima para me deixar feliz também e esperançosa, então concordamos em fazer essa tentativa louca. E hoje mesmo começamos a caçar pedaços de tecidos que poderiam servir para fazer os novos uniformes, não sei como iríamos fazer isso. Nenhum de nós sabemos costurar, muito menos fazer uniformes. Mas não me atrevi e estragar a nossa última esperança.

_______

Ryan passou a noite na cozinha com seus planos de fuga, eu me segurava para não ir lá ver oque ele estava fazendo. Não tínhamos material, nem tesouras, não sabia como ele iria fazer aquilo. Mas não consegui segurar a curiosidade, tive que me levantar quase às duas da amanhã para ir ver oque ele estava fazendo. E me surpreendi quando vi uma máquina de costura em cima da mesa e moldes de roupas que ele fazia em um tipo de papel.
-Eu tenho meus amigos aqui Lin... Eles também concordam em me ajudar, mas agora eu tenho que fazer seis informes
Ele sorriu pra mim passando o lápis naquele papel desenhando mais um molde, depois colocando em cima do tecido idêntico ao do nosso uniforme. Eu fiquei ali parada sem entender como ele havia conseguido tudo isso sem ter sido pego antes. Que amigos?
-Ryan... Isso é arriscado demais...
Passei a mão na testa preocupada me aproximando da mesa para ver seu trabalho organizado e bonito. Mas alguma coisa vermelha chamou minha atenção em cima do balcão. Tinha uma fita ali sobre um tecido muito vermelho e chamativo, eu fui até ele me sentindo atraída por aquilo de outro modo. Eu peguei o tecido nas minhas mãos e ergui na minha frente, e a beleza do vestido fez meu queixo cair e na hora me imaginei nele.
-Eu conseguir pra você
Me virei colocando o vestido contra meu peito e depois o encarando com um brilho nos olhos incapaz de dizer apenas um "obrigado". Esse presente era perfeito demais para apenas ser agradecido com um "obrigado". Em vez disso, eu fui até ele e lhe dei um beijo na sua bochecha correndo para o banheiro me trocar.
Chegando lá eu fiquei horas me olhando no espelho admirando o vestido e amarrando aquela fita na cintura fazendo um laço atrás. Eu estava parecendo aquela menina de oito anos que perdeu a mãe quando ela não conseguiu sair debaixo do telhado que iria cair sobre ela. A imagem se repetiu na minha mente, mas eu balancei a cabeça e tirei o vestido vestindo meu uniforme outra vez voltando para a cozinha.
-Onde está? Eu queria ver...
Meu rosto ficou quente mas eu não respondi nada e fiz um sorriso para não parecer que não havia gostado. Fiquei sentada na mesa observando ele trabalhar concentrado até demais, eu estava começando a fazer coisas para chamar sua atenção e distrai-lo também de propósito. Eu tirava aquelas agulhas da almofadinha e colocava elas atravessadas nas pontas dos meus dedos. Mostrei pra ele sorrindo mas ele só rolou os olhos e não demonstrou interesse algum me deixando triste.
-Lin...
Ele disse meu nome como se percebesse que eu iria fazer uma besteira quando apontei a agulha para sua mão aberta sobre a mesa quando ele estava pensando olhando para o molde.
-Vá dormir e me deixa terminar isso, até agora só conseguir fazer uma blusa
Desistir de perturba-lo e fui para meu quarto levando meu vestido e ficando triste assim que vi o cômodo vazio. Eu queria que ele estivesse aqui e dormisse comigo. Mas está ocupado demais com seu trabalho.

A filha de Lucy. Onde histórias criam vida. Descubra agora