Capítulo 5 - Não devia ter feito aquilo.

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Eu não parava de pensar na cara que aquele idiota iria fazer quando visse aquela pedra que eu e Armie colocamos. Não conseguia nem colar direito e acabei colocando as respostas em perguntas diferentes, eu não liguei muito pra isso, entreguei minha prova e sair esquecendo até de passar os papeizinhos para Sean que ficou me olhando com raiva quando passei pela porta andando pelo corredor perdida em pensamentos.
Tentei me concentrar em andar em linha reta pelo corredor e não esbarrar em ninguém, mas não conseguir sair da frente do menino que antigamente eu talvez tenha gostado quando era pequena. Mas agora ele só era um estranho, eu tinha coisas demais na cabeça e nem seu sorriso que eu admirava de longe me ligou na realidade, e eu continuei perdida.
-Desculpa... É Linney não é?
Balancei a cabeça afirmando e depois fui embora ajeitando minha mochila e quase correndo para fora da escola indo em direção ao campo para tentar me concentrar. Eu não devia ter deixado ele lá no vácuo, mas eu queria um tempo sozinha, eu sabia que só estava tendo um dia péssimo. Mas já estava ficando estressada com isso, talvez seja porque não me alimento a muito tempo. Mas não era isso também!
-Lin... Oque houve com você?
Sean surgiu do meu lado me acompanhando até a árvore que eu gostava de ficar, eu olhei pra ele fingindo um sorriso e depois resolvendo contar oque eu e Armie fizemos ontem.
-Nada... É que eu e Armie fomos naquele lugar que encontramos aquele humano de novo
-Oque!?
Ele arregalou os olhos surpreso e curioso me provocando a rir pensando na sua reação quando eu contar oque fizemos.
-Ele nunca mais vai voltar a invadir nosso lado
Falei sorrindo me sentando perto do tronco e olhando para o campo finalmente limpando meus pensamentos e voltando ao meu estado normal. Eu adorava esse lugar e também gostava de pensar na reação dele, eu queria está lá para ver.
-Nós colocamos uma pedra na frente daquele buraco
-Vocês são mal
Ele riu e eu o acompanhei, mas nós dois paramos quando percebemos um menino se aproximando de nós. Era aquele garoto de novo olhando pra mim sorrindo e depois cumprimentando Sean também, ele segurava minha caneta rosa na mão direita e estendeu pra mim.
-Você deixou cair quando esbarrou em mim
Ele disse ainda sorrindo me deixando envergonhada por lembrar da minha fuga naquela hora. Mas peguei minha caneta e logo abaixei os olhos e guardei a caneta no bolso lateral da minha mochila esperando ele ir embora.
-Hum... Tá na hora da minha aula de natação... Tchau gente
Sean olhou para um relógio imaginário no seu pulso e se levantou as presas me lançando um sorriso maléfico antes de correr de volta para escola.
-Acho que não se lembra de mim, sou Liam...
Ele estendeu a mão pra mim ao mesmo tempo se sentando do meu lado perto demais invadindo meu espaço pessoal. Eu fiquei nervosa e não conseguir entender porque me sentia tão "pequena" do seu lado e apertando sua mão que cobria a minha inteira. Meu cérebro estava em transe e ele me pedia para sair correndo daqui.
-Como foi sua prova?
Ele perguntou sorrindo ainda me deixando sem graça, eu olhei por dois segundos nos seus olhos e tentei responder naturalmente.
-F-foi difícil porque... Eu não sou muito de estudar
Minha mão esquerda que estava na grama do lado do meu quadril começou a tremer e isso não era bom sinal. Perguntei oque estava acontecendo comigo mas só conseguir pensar em sair correndo daqui.
-Eu... Vou procurar minha amiga agora... Tchau
Falei rápido tropeçando nas palavras, mas ele não tentou me fazer ficar, oque foi bom. E eu fui correndo para a escola me sentido normal de novo em questão de segundos.
Quando abrir a porta de vidro, acabei batendo em alguém e essa pessoa gemeu de dor colocando a mão no nariz que estava sangrando. Que droga...
-Armie! Me desculpa
Pedi tentando ajuda-la segurando suas mãos e tentando ver a gravidade do que havia feito no seu nariz. Ela estava gemendo ainda e depois percebi que ela estava chorando. Oque eu fiz na minha melhor amiga?

______

Eu cuidei de Armie sozinha porque a enfermaria estava vazia e nem estava funcionando mais. Levei ela para meu quarto e cuidei do seu nariz até parar de sangrar, ficou um pouquinho vermelho mas logo voltou ao normal. Ela ficou chorando dizendo que eu a odiava por ter feito aquilo por mais que eu falasse que tinha sido sem querer.
Eu deixei ela lá chorando na minha cama e fui pegar nossa janta que era deixada na porta do nosso quarto uma vez por semana só para nos manter vivos. Eu tive que ir pegar a de Armie que estava na frente da porta do quarto dela e voltei para meu quarto entregando a maletinha branca individual para ela, dentro tinha apenas dois pedacinhos do que eu achava ser carne ou alguma outra coisa que seja uma proteína. Vinha embrulhado em um papel alumínio e também tinha água. Só tínhamos direito a isso.
-Não tô conseguindo sentir o gosto...
Ela disse assustada com os olhos arregalados segurando seu pedacinho de carne mas mãos trêmulas.
-Calma... Deve ser porque você tá com o nariz machucado
-Mas já sarou
-Relaxa Armie... Você não perdeu o paladar por causa de uma porrada no nariz
Brinquei rindo dela ainda assustada mastigando aquilo ainda com os olhos arregalados.
-Lin... É sério!
Eu continuei rindo pegando o seu pedacinho de carne e provando. Tinha o mesmo gosto do meu, então eu voltei a assegura-la de que era por causa do seu nariz machucado.
Eu tinha que cuidar dessa menina até ela parar de reclamar de dor se não, no outro dia ela está me chamando de péssima amiga. Então eu arrumei minha cama pra ela, deixei meus dois travesseiros com ela, e ainda lhe dei um beijinho de boa noite tentando de todas as formas me desculpar. E eu tive que dormir no chão frio, por cima apenas de um lençol fino e usando uma almofada pequena como travesseiro. Oque eu não faço por essa menina chata?
Eu esperava uma boa noite de sono por estar tão cansada por causa de tudo que aconteceu comigo hoje. Mas quando estava quase dormindo, eu comecei a ter pensamentos estranhos, veio em minha cabeça a imagem da plantação de pessegueiros. Claro que Ryan estava lá também, roubando os pêssegos mais uma vez. Eu não conseguia entender porque estava sonhando com isso, mas mesmo no meu sonho, eu tinha em mente oque havia feito para ele não passar mais. Então porque ele está aqui?
Eu me aproximei dele meio tonta e confusa com aquilo, mas ele não pareceu notar minha presença, se notou, está me ignorando de propósito. Tentei chama-lo e ele finalmente olhou pra mim de um jeito estranho, como se tivesse com raiva de mim. E no mesmo instante eu abaixei a cabeça e observei pelo canto dos olhos a pedra movida do lugar que eu e Armie havíamos deixado.
Perguntei como ele tinha conseguido passar confusa e desconfiada de alguma coisa que ele estava me escondendo.
Mas ele só riu e disse que tinha seus truques. Eu não entendi nada e depois fiquei irritada, fiquei com raiva dele e acabei puxando sua sacola rasgando-a no meio deixando seus pêssegos caírem no chão. Olhei para ele satisfeita com oque havia feito mas fiquei com medo quando notei sua expressão furiosa comigo.
Ele chutou os pêssegos do seu caminho e começou a andar na minha direção ainda furioso com o olhar assassino no rosto. Eu não sabia se ficava com medo e corria, ou se o encarava e me defendesse dele. Mas escolhi a mais louca opção que era encara-lo e me defender.
Mas na melhor parte do sonho eu me acordo desesperada com o coração acelerado olhando para os todos lados como se procurasse por ele. Mesmo com um pouco de medo desse pesadelo, eu queria ter terminado aquilo, ele iria me atacar? Um humano iria me atacar. Eu tinha que sair vencedora dessa briga pois sou a espécie superior.
Não era hora de ficar pensando na espécie mais forte. E como não iria mais dormir com isso na minha cabeça, eu sair do meu quarto depois de ter vestido um casaco de Armie para me proteger do frio dos corredores a noite. Era um pouco assustador passear por aqui de noite, mas o banheiro ficava tão longe... Eu estava apertada.
E também ficando com medo só de olhar para trás com a sensação de estar sendo perseguida, eu estou ficando paranóia por causa daquele pesadelo e não vou deixar que um humano me deixe assustada.
Entrei no banheiro bem devagar e me olhei no espelho quase levando um susto quando vi uma coisa no canto atrás de mim, mas era só um esfregão de cabeça pra baixo no escuro. Procurei logo fazer minhas necessidades e voltar para meu quarto seguro, mas pensar em ter que passar por aquele corredor de novo quase me faz ter vontade de passar a noite aqui.

A filha de Lucy. Onde histórias criam vida. Descubra agora