Capítulo 13 - Peso da culpa.

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Passaram-se quatro semanas desde o acontecimento que eu evitava pensar. Não falava com ninguém, nem com Armie, muito menos com Sean que ficava de longe me observando meio bravo, meio triste ou magoado, eu nunca sei direito. Mas não ligo mais pra ninguém aqui nesse colégio, o único que eu até conversava era com o garoto que, no passado, cheguei a gostar. Mas era coisas como "bom dia" ou de vez em quando um "como vai?" sempre respondo da forma mais educada que encontro. Por fora pareço está bem, por dentro ainda estou murcha por toda vez me lembrar da expressão que ele fez quando me viu gritando seu nome.
Toda vez que eu lembrava disso, meu peito se apertava e eu tinha vontade de chorar ou bater em mim mesma. Não sei porque me importo tanto com oque ele pensa de mim agora, já se passaram quatro semanas, ele já deve está no seu território assistindo as notícias sobre nossas ameaças à eles. Vendo que estamos prontos para outra divertida possível guerra. Nossa espécie é tão cruel consigo mesma, como se gostassem de se exibirem. Mas tem algumas pessoas do nosso lado que não querem isso. Como eu.
-Lin... Acho que a professora vai chamar sua atenção por não copiar a atividade e ficar olhando para o nada
Sean meio que só falou comigo para debochar da minha cara pensativa, ouvi sua risada fraca quando ele se afastou da minha cadeira e se encostou nas costas da sua. Eu já estava ficando irritada com esses dois, que se dane se eu quero ou não fazer essa atividade boba e inútil. Armie, de minha amiga, havia se tornado minha pior inimiga desde o tapa que dei na sua cara. Eu evitava qualquer contato com eles, principalmente no nosso tempo livre.
Eu fico como um leão quando estou na minha árvore sozinha protegendo aquele morro como se fosse só meu. Ninguém ousa se aproximar quando eu estou repousando lá em paz. Armie passa longe e abaixa a cabeça quando a encaro com ódio me lembrando daquilo que ela fez repetidas vezes aumentando minha mágoa que tinha por ela agora. Não ligo se ela tenta fazer ciúme pra mim andando com outras cretinas iguais a ela.
-Parece triste ainda
Eu abrir os olhos rápido vendo o rosto de Liam tampando minha visão que tinha para as folhas. Pisquei pensando sobre oque ele disse, mas depois, como estava irritada hoje, simplesmente me levantei bufei na sua cara e me virei rápido fazendo meu cabelo chicotear no ar com a presa que estava para me afastar dali que já não era um lugar de paz.
Fui em direção ao portão, mas fiz uma curva indo para um lugarzinho que eu gostava perto do muro, tinha um banquinho embaixo de uma árvore muito menor do que a minha. Lá era minha segunda opção, eu adorava ficar vendo os carros passando pra lá e pra cá me distraindo. Sei que estou sendo meio antipática nesses dias, mas eu estou em depressão por causa do que eu fiz, e quando ninguém respeita isso, eu começo a agir com ignorância.

_______

De noite, eu ainda estava sentada no banquinho refletindo sobre minha vida e todas as besteiras que andei fazendo até agora. Se eu pudesse resumir minha jornada até aqui, diria que ela era... Talvez engraçada. Tudo isso é apenas um fato confuso e engraçado. Eu vou rir depois, mas não via graça agora. Estamos no meio de uma declaração de guerra, e não consigo me preocupar com nada além dele.
Quando estava quase pegando no sono caindo para o lado, eu levei um susto com um barulho muito alto vindo de todas as direções da cidade. Era um alarme de alerta, com certeza já era o começo. Não sei porque permaneci calma quando percebi o pequeno alvoroço se formando na porta da escola depois de quinze segundos. Os alunos seguiam os professores para algum lugar atrás da escola em fila única, eu decidir me juntar a eles também com medo de ficar aqui fora e ser atingida por alguma coisa.
O lugar que estavam nos levando, era um tipo de abrigo subterrâneo escondido atrás da escola, uma portinha minúscula que não ajudava os milhares de alunos desesperados querendo fugir do caos. Eu fui amassada mas conseguir passar e fiquei encostada na parede de braços cruzados porque Sean estava do meu lado sentado no chão do lado de Armie que fazia a mesma cara  lá fora. Todos em silêncio e tensos e eu com falta de ar.
Mas depois de quarenta minutos, os professores começaram a nos liberar aos poucos, mas eu fui na frente não querendo mais ficar perto desses amigos falsos e me meti no meio dos outros respirando o ar puro lá de fora andando rápido para a frente da escola. A caminho do meu quarto, tudo estava vazio e quieto, um momento meio assustador mas sossegado, então eu me tranquei no meu quarto e coloquei minhas roupas de dormir caindo na cama e adormecendo sem muitos pensamentos.
Claro que eu tive que ter um sonho para me deixar assustada amanhã, com certeza passaria o dia de amanhã pensando nisso como uma louca. Eu falava isso pra mim mesma no meio de uma floresta de filme de terror escura e, para completar, não estava sozinha lá.
-Saia daí
Pedi usando uma voz firme ainda sem medo dele que apareceu rindo pensando que eu tinha me assustado com essa sua palhaçada. Fiquei de braços cruzados esperando ele acabar.
-Sabe porque estou aqui?
Ele perguntou sorrindo abrindo os braços se referindo à floresta escura. Eu respondi balançando a cabeça meio confusa me afastando um pouco dele quando começou a andar na minha direção.
-Eles me mataram por sua culpa Lin
Ele disse agora meio sombrio abaixando os braços e me olhando com o mesmo olhar daquela última vez que eu o vi na escola. Eu me sentir culpada por isso, mas também não queria acreditar que era verdade, não tinha como ser verdade... Ele não viria nos meus sonhos me contar isso... Não se ele não estivesse em paz agora. Oque eu estou pensando? Isso não é verdade... Ele não está morto.
-Você não está morto
-Estou sim... Por isso vim aqui te assombrar, amanhã vou aparecer no seu quarto, vou perturbar você por ter feito isso comigo
Ele sorria me mostrando seus dentes brilhando no escuro, comecei a balançar a cabeça tentando acordar porque sabia que era um pesadelo outra vez. Coloquei as mãos na cabeça e puxei meus cabelos sentindo a dor que me salvou e me tirou daquele lugar no mesmo instante. Estava agora no meu quarto com alguns fios de cabelo nas minhas duas mãos, eu olhei em todas as dimensões do meu quarto e não encontrei nenhuma assombração. E quando me acalmei, não sabia porque sentia vontade de voltar àquele sonho, talvez porque gostaria de me explicar pra ele. Dizer que eu não fiz de propósito, mas tenho medo de nunca poder fazer isso, se ele estiver certo... Eu nunca mais vou poder viver em paz com esse peso na consciência.


A filha de Lucy. Onde histórias criam vida. Descubra agora