Capítulo 10 - Desculpas.

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Acordei sentindo uma pressão na minha coxa, e estava doendo ainda. Meu ombro estava enfaixado, não sentia mais os arranhões no meu rosto e logo notei que estava numa casa com janelas e portas faltando, era muito suja e tinha galhos de árvores entrando pelos buracos do teto, estava deitada numa cama cheia de folhas secas que fizeram barulho quando me sentei observando o lugar.
-Sorte sua que eu andei guardando kits de primeiro socorros do exército do meu pai
Disse ele calmo sentado em uma mesinha muito pequena do lado da cama me olhando com um sorriso fraco no rosto, eu busquei algumas lembranças da noite passada mas só conseguir imagens da nossa luta. Fiquei com o olhar perdido direcionado para o chão tentando entender porque ele estava me ajudando agora, ontem mesmo ele disse que tinha que se livrar de mim.
-Porque está me ajudando agora?
Perguntei pra ele olhando para seu rosto com as sobrancelhas unidas de confusão, abaixei a cabeça logo depois que ele se levantou e se sentou do lado das minhas pernas na cama. Fiquei ali com medo dele por tudo que fez comigo ontem, mas me lembro de ter mais pontos pois ele ainda tinha uma ferida no seu beiço. Mas ele conseguiu me apagar, então eu sair perdedora?
-Fiquei com pena de você
Respondeu tocando meu queixo com o polegar e o indicador e depois indo em direção a um armário velho tirando de lá um frasco de vidro com algo branco dentro. Eu me encolhi ali com medo de ser algum tipo de remédio, não confiava nele mesmo que agora esteja me ajudando.
-Tenho que passar isso na sua perna... Mas sei que não vai deixar eu tocar nessa região sua... Então passa você, tá bem?
Balancei a cabeça meio vermelha mas peguei o frasco da sua mão e rasguei ainda mais o buraco que estava na minha calça e derramei um pouco daquilo lá. Mas tive que rasgar mais um pouco para fazer massagem, e primeiro olhei para ele que ainda estava ali em pé me observando.
-Desculpa
Ele falou envergonhado e foi para outra parte da casa me deixando sozinha. Fiquei mais a vontade pra fazer isso e rasguei mais um pouco aquele buraco porque quase minha coxa inteira estava vermelha por causa daquele ferimento. Quando terminei, tirei a atadura do meu ombro e amarrei lá para cobrir aquele buraco por precaução.
Peguei meu casaco que estava pendurado na cômoda da cama velha de madeira e me levantei testando minha perna para ver se ainda doía. E acabei caindo na cama de novo soltando um gemido baixo de dor. Oque esse imbecil tinha na cabeça pra ter feito isso comigo?
-Você está bem?
Perguntou ele aparecendo do meu lado e me ajudando a levantar de novo, fiquei envergonhada outra vez por me sentir fraca. Não gostava do jeito que ele estava me tocando, não importa se era só meu cotovelo.
-Claro que não estou bem... Mas vou voltar pra minha escola mesmo assim... E não se preocupe porque vou inventar que fui assaltada ou estrupada em um beco por aí
Respondi alto com raiva e puxei meu cotovelo de volta. Fui mancando mas finalmente conseguir sair da sua casa e andei com muita dificuldade até a muralha que parecia tão longe daqui. Choraminguei de preguiça de ter que mancar até lá, mas mesmo com dor na perna esquerda inteira, eu apressei o passo e comecei a inventar uma desculpa para dizer aos meus colegas, principalmente no que iria dizer a Armie que deve está arrancando seus cabelos se perguntando aonde me meti.
-Nunca vai chegar lá com apenas uma perna boa
Ouvi sua voz atrás de mim mas quando virei, ele me ergueu do chão me colocando nos seus braços de novo provocando ainda mais a dor no meu ombro e na minha coxa. Por um momento fiquei paralisada olhando pra ele com a boca meio aberta não acreditando que ele me tocou de novo.
-Me coloca no chão agora
Pedi sem usar minha ignorância ainda cruzando meus braços e esperando ele me olhar, mas apenas ficou calado olhando para o caminho parecendo concentrado.
-Me coloca no chão!!
Comecei a gritar e me remexer pedindo para ser derrubada feito uma criança mimada, ele riu e me apertou ainda mais e eu tive vontade de chorar de dor que agora estava em meu corpo inteiro.

______

Mesmo depois de ter reclamado no caminho todo, eu aceitei ser carregada até o portão da escola. Chegando lá, Ryan explicou aos guardas oque havia acontecido, ele inventou o mesmo que eu falei. Fui atacada por tarados num beco mas ele apareceu do nada e me salvou como uma mocinha de novela, fiquei calada com a minha cara de emburrada quando ele finalmente me colocou no chão e acompanhou o guarda até a enfermaria que por um acaso voltou a funcionar. Todos ficaram na calçada curiosos nos observando se aproximar do prédio da escola, tudo que não gostava na minha vida era chamar atenção, e foi pior ainda quando eu vi no meio da confusão Armie e Sean que era o único com um olhar assassino para mim e Ryan que me ajudava a chegar até a enfermaria sem saber que tinha uma pessoa no meio daquela multidão desejando sua morte. Armie era a única chocada lá, todos os outros só estavam curiosos, ela com certeza me trancaria no meu quarto e ia me arrancar tudo detalhe por detalhe.
-Oque exatamente fizeram com você, querida?
Perguntou a mulher quando chegamos ao pequeno quartinho com apenas duas macas e alguns armários com remédios e coisas para ferimentos leves. Ryan me levou até uma das macas e ficou de longe encostado na parede aguardando.
-Eu... Estava voltando para a escola quando fui atacada por dois homens que tentaram me violentar
Disse com uma voz fina e triste tentando ser uma boa atriz, a mulher apenas balançou a cabeça compreendendo a vergonha que eu sentia em ter que explicar isso. Ryan sorriu ali se divertindo com minha situação e eu tive vontade de mata-lo.
-Não parece tão grave, só procure não deixar exposto que e a dor vai passar logo... Mas é melhor você ficar em repouso no seu quarto para não piorar, tudo bem mocinha?
Acenei com a cabeça me sentindo uma criança sentindo as mãos geladas dela na minha coxa. Mas depois eu fui liberada e tive que enfrentar os olhares curiosos dos outros alunos a caminho do meu quarto. Ryan se despediu de mim alegre e satisfeito com minha pagacão de mico e foi embora passando pela porta de vidro sendo notado por apenas duas garotas que estavam sentadas em uma das mesas de refeição. Sentir Armie se aproximando de mim pela energia tremendamente curiosa que ela carregava, logo atrás dela Sean carrancudo de braços cruzados parando atrás dela que sorria com os olhinhos brilhando pra mim.
-Aqui não Armie por favor
Pedi passando a mão na minha testa preocupada com oque ela me perguntaria.
-Estão bem íntimos agora né Armie? Ela nem quer contar oque houve com ela para seus amigos de verdade
Sean estava tão frio ali atrás de Armie que parecia uma visagem, ele me lançou um olhar irritado quando eu o encarei tentando entender oque realmente ele quis dizer com isso. Talvez esteja insinuando alguma coisa que eu tenha com Ryan que só me ajudou porque talvez se sinta culpado pelo oque fez comigo. Eu instantaneamente o perdoei por aquilo, não sentia mais raiva dele depois de ter me recompensado me carregando até aqui.
Me lembrei que tinha que responder, pisquei algumas vezes e voltei a realidade puxando o braço de Armie levando-a para meu quarto.
-Acho que essa conversa é só pra meninas Sean
Com isso, fechei a porta na cara dele e tranquei. Me sentei na minha cama e esperei Armie começar com suas perguntas que eu com certeza iria odiar.

A filha de Lucy. Onde histórias criam vida. Descubra agora