Capítulo 21 - Livres.

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Eu prometi a mim mesma que iria visitar aquele lugar mais uma vez, o penhasco. E eu fui, dessa vez foi um pouco desagradável pois passamos por ele rápido e eu não tive tempo de me escorar na grade e admirar a paisagem. O motivo pelo qual estava correndo, era porque o plano de Ryan havia dado certo, mas também errado. Eu, Armie, Sean e ele estávamos fugindo junto com mais seis moradores que se espalharam pela floresta úmida por causa da chuva fraca que caía, eles escaparam dos disparos e os homens não conseguiram os alcançar. Então como nós quatros estávamos mais perto, eles focaram em nós e por isso tivemos que correr mais rápido ainda sem olhar para trás.
Ryan havia sido atingido no braço a pouco segundos atrás, mas continuou correndo preocupado com nós em vez de prestar atenção nos disparos que estavam indo na sua direção.
Eu mandei os dois irem para o outro lado e seguirem em zigue-zague. Ryan e eu fomos em direção a um rio e acabamos pulando dentro dele nos escondendo no fundo por alguns segundos até os homens irem embora. E quando eles foram, eu ajudei Ryan com seu ferimento depois que saímos do rio, eu o culpava por isso e amarrava seu braço com a manga do meu uniforme falso. Fiquei irritada com ele e começamos a discutir porque ele tentava defender seu plano de fuga insistindo que pelo menos tinha dado certo e ele não se sentia mal por ter levado um tiro em troca da nossa liberdade.
Armie e Sean logo apareceram e ficaram em silêncio esperando nós dois terminarmos nossa discussão sobre sua ideia idiota de fugir daquele lugar. Mas no fundo eu só estava preocupada com ele e a quantidade de sangue que saía do seu braço. Eu me calei deixando ele ganhar essa briga de novo, me virei para o rio e comecei a rasgar meu uniforme tirando ele completamente, eu estava com o vestido vermelho por baixo, mas ele estava grudando em mim.
-Oque fazemos agora?
Perguntou Sean encolhido do lado de Armie, eu olhei pra ele com raiva também e depois encarei Ryan que ainda estava me olhando como um cachorro bravo.
-Pergunta pra esse daí!
Joguei minha mão na direção dele e depois comecei a andar em direção a uma árvore grande me sentando no chão encostada no tronco dela de braços cruzados. Fiquei ali feito uma criança com raiva porque não havia ganhado um brinquedo, eu só não queria que ninguém saísse machucado, os outros que vieram conosco já devem ter sidos capturados.
-Para de fazer essa cara porque fica difícil fazer as pazes com você
Ele disse andando na minha direção parando na minha frente me olhando ainda irritado. Eu sei que ele não quer pedir desculpas por isso, ele sabe que não tem culpa de nada, eu só estava brava porque não queria que ele se machucasse, mas eu não iria dizer isso e parecer uma boba... No final conseguimos nossa liberdade.
-Você tá brava porquê mesmo?
-Não enche, Ryan...
Virei meu rosto para o rio outra vez e fiquei esperando ele ir embora. Mas em vez disso ele se aproximou de mim e me colocou em pé me puxando pelos braços. Ele apertou meus cotovelos e me manteve bem na sua frente, fiquei encarando seus olhos negros e irritados ficando com mais raiva ainda.
-Desculpa se você tá com raiva de mim por algum motivo!
Ele disse cada palavra fazendo pausas curtas formando outra expressão no seu rosto, ele ficou frio e estreitou os olhos quando percebeu minha expressão vacilar. Eu tentava ser fria também, mas acabei deixando meu beiço tremer porque eu queria chorar de raiva.
-Me larga
Pedi entre os dentes para não deixar meu beiço tremer outra vez, ele ficou em silêncio me encarando de outro jeito agora. Um jeito que me deixou paralisada por perceber que estava perto demais do seu rosto. Estava começando a lagrimar, e fechei os olhos abaixando minha cabeça. Suas mãos se afrouxaram nos meus cotovelos e eu relaxei meus ombros ainda com a cabeça abaixada.
-Vamos decidir juntos então, você me ajuda a tomar as decisões agora
Ele usou uma voz baixa agora passando sua mão direita no meu rosto me obrigando a olhar para o lado. Eu não gostava quando ele fazia isso, não gostava de ficar com raiva e depois desistir tão rápido.
-Me solta agora
-Nossa... Você tem nojo de mim?
-Só não gosto de você
Disse contendo meu sorriso olhando nos seus olhos que estavam alegres outra vez, ele sorriu e me deu um beijo na testa me deixando um pouco melhor do que estava antes. Eu odeio ele.
E de noite nós todos dormimos em galhos de árvores como primitivos mesmo. Mas eu gostava de ficar no chão com medo de cair de lá de cima. Eu olhava para as estrelas que enfeitavam aquele mar azul escuro que era o céu, era uma coisa única que quase não via. Estava cantando uma música que não saiam da minha cabeça, era em outro idioma e eu tentava lembrar de cada palavra diferente cantando de qualquer jeito.
Mas comecei a ouvir uma outra voz mais bonita que a minha de cima da árvore, Ryan estava balançando seu pé deitado no galho enquanto cantava um verso da música que era minha parte favorita. Eu parei de cantar e fiquei escutando suas palavras perfeitamente pronunciadas impressionada com sua facilidade de cantar essa música que pra mim era tão difícil. Fiquei olhando pra cima vendo apenas seu braço que estava embaixo da sua cabeça servindo de apoio.
Seria estranho demais me sentir tão bem escutando sua voz linda cantando essa música? Eu não sabia porque tinha pedido para ele cantar uma segunda vez. E de lá de cima ele me olhou sorrindo me deixando envergonhada. Mas mesmo assim ele cantou pra mim mais uma vez e dessa vez um pouco mais alto, eu fechei os olhos me aconchegando no tronco para dormir escutando sua voz.


A filha de Lucy. Onde histórias criam vida. Descubra agora