Claro que no dia seguinte na hora do almoço, ou só um tempo livre que tínhamos mesmo pois comemos uma vez por semana. Eu resolvi sair sozinha dessa vez, eu precisava andar um pouco e principalmente ir ver se aquela pedra estava no lugar. Porque ainda estou com um pouco de medo daquele pesadelo, eu sabia que tudo poderia acontecer, mas eu não estava com tanto medo pois acreditava que ele não havia passado outra vez.
E bem devagar eu fui me aproximando da plantação de pêssegos encontrando a pedra gigante no lugar, eu suspirei aliviada e sorri da minha idiotice de ter medo daquele pesadelo bobo.
-Você veio
Claro que primeiramente eu dei um pulo pelo susto e depois comecei a olhar em todas as direções procurando pelo dono da voz. Conseguir encontrar dois segundos depois aquele idiota pendurado em um galho de árvore devorando um pêssego enorme e bem maduro. Ele sorriu pra mim mastigando aquilo como se fosse divertido brincar com meu coração que estava se estabilizando.
-Como...? Você...?
Ele começou a rir descendo da árvore e pousando bem na minha frente me deixando ainda mais assustada. Um humano não tinha conseguido pular o muro! São mais de dez metros!
-Vocês não são a espécie mais inteligente...
Disse em um tom animado meio desafiador passando do meu lado e se abaixando no chão. Eu me virei bem devagar ainda em choque tentando entender como ele havia passado, mas tive até medo de perguntar e ele me responder a mesma coisa que disse no meu pesadelo. Não seria possível.
-Não humanos e humanos normais, são bem diferentes, temos a popularidade de sermos os mais frágeis e fracos... Vocês sempre agem como querem e quando querem, não ligam para as regras, vivem perigosamente... Estou certo?
Balancei a cabeça o observando catar pequenas folhas rosas do chão para fazer alguma coisa, ele as colocava nas suas mãos esquerda e pegava mais uma e mais uma como se tivesse preparando alguma coisa.
-Podia existir um território só para pessoas iguais a mim
Ele disse baixo demais pegando a última folha e colocando dentro da sua mão. Se levantou e tirou um pequeno arco que estava preso na sua calça e começou a juntar as folhas naquele arco que estava ficando rosa, até que finalmente se tornar uma coroa feita de folhas de pessegueiros. Logo em seguida ele sorriu pra mim e aproximou aquilo da minha cabeça e eu deixei que ele colocasse aquilo em mim. Estava em transe, e por isso não conseguir reagir.
-Ficou bonito...
-Como passou pra cá? Eu...
-Foi você então? Que maldade... Eu pensei que tivéssemos feito um acordo
-Não fizemos acordo nenhum, eu coloquei aquela pedra pra você não vir mais aqui... É arriscado pra nós dois
Eu falei calma retirando aquela coroa da minha cabeça entregando a ele que ficou sério observando minha mão estendida na sua direção. Por um segundo pensei que ele iria morde-la.
-Tudo bem... Eu pulei por cima do muro
Arregalei os olhos surpresa olhando para a altura do muro e depois para ele que sorriu mas não riu para dizer que isso era sarcasmo. O garoto era do meu tamanho, é impossível.
-Humanos não tem capacidade pra isso...
-Exatamente... Mas eu tenho meus truques
Recuei deixando a coroa cair ficando assustada agora e ele percebeu isso porque veio na minha direção com o mesmo olhar do meu sonho.
-Eu devia estar do lado de vocês
Ele falou olhando pra mim sério me deixando confusa. Por um segundo eu não vi mais um humano na minha frente. Porque eu vim aqui sozinha?
-Porque está com medo de um humano?
Perguntou avançando na minha direção segurando meus ombros com força e me colocando contra uma árvore. Eu não conseguir ficar sem gritar de desespero com medo de que ele me machucasse, mas depois eu me calei e fiquei com os olhos fechados choramingando baixinho feito uma criança.
-Tão bonita e escandalosa, não vai contar pra ninguém né?
Sacudir a cabeça ainda choramingando de medo sentindo suas mãos apertarem ainda mais meus ombros. Tudo que eu queria era que ele esfregasse na minha cara que é mais forte do que eu e que me deixasse ir para nunca mais voltar.
-Vai voltar aqui amanhã? Eu quero ver você mais uma vez
Abri meus olhos bem devagar e o encarei agora com um rosto diferente, não estava mais sério, mas mantinha um sorriso carinhoso ao mesmo tempo malicioso. Oque eu poderia responder ?
-Eu não vou voltar nunca mais
-Vai sim... Se não eu vou atrás de você
Meu coração pulou e eu comecei a ofegar segurando seus braços para que ele me soltasse. Mas eu fui jogada no chão como se fosse uma trouxa velha de roupas, me sentir uma inferior na hora, era a pior sensação do mundo. Ele me olhava de cima com os ombros erguidos se mostrando mais forte do que eu. E eu só pude abaixar a cabeça e começar a chorar de vergonha de ter perdido para esse coisa.
-Vou esperar você aqui amanhã
Ele usou uma voz alegre agora, que só me fez chorar ainda mais. Eu queria me esconder no meu quarto e nunca mais sair. Quero chorar de vergonha de mim mesma.
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A filha de Lucy.
FantasiaExistem duas espécies não muito diferentes, mas que se odeiam. Nós somos conhecidos como "Não humanos" temos vários outros nomes também, vampiros, assassinos, psicopatas da noite, maníacos etc. O motivo pelo qual essa guerra entre nós e os humanos c...