"A novas amizades"

483 49 16
                                        

Gustavo havia deixado o café pronto e tudo muito bem organizado.

Nem eu arrumava uma mesa de café da manhã tão bem. 
Pães, frutas, suco, café... uma mesa digna de hotel.

Sentei pra tomar meu café e fiquei pensando no tempo em que conversamos enquanto assistíamos ao filme.

Gustavo parecia ser uma boa pessoa.

Mas pensando bem, eu fui um louco de abrigar alguém que eu nunca havia visto na vida, dentro da minha casa daquele jeito. Parece até que eu nunca havia visto filmes de terror na vida.

Afinal, todo mundo sabe que não se dá carona, muito menos se convida alguém pra entrar em sua casa em noites de chuva.

Ele podia ser um serial killer, um louco, um demônio..., mas enfim, já não era hora pra me arrepender.

Comecei minha rotina matinal com a tradicional ida com Lana até a casa dos Walter. Eles a adoravam, e ela por sua vez se derretia toda vez que Laura lhe fazia carinho e dava biscoitos caninos que ela comprava só pra isso.

Os Walter tinham uma filha que quase nunca os visitava. Beatriz só aparecia no natal quando vinha quase que obrigada. Por isso eu fazia questão de sempre ir até lá passar um tempo com eles.

Sentamos na varanda, eu e Laura. Ela dava biscoitos a Lana, enquanto eu olhava pra casa dos Brown. Laura dizia o quanto estava feliz em ver aquela casa com vida novamente. 

- Me doía o coração ver uma casa tão bonita se acabando desse jeito. Depois que a família saiu daqui, nunca mais ninguém apareceu. - Ela dizia.

Enquanto isso, seu Marido Harold cuidava das plantas do jardim. Ele, que não estava tão feliz quanto ela. Dizia que o lugar onde houve um suicídio não podia ser um lugar bom pra se morar. Pra ele aquela família era amaldiçoada.

Ninguém falava sobre o suicídio do patriarca da família Brown e sempre que alguém tocava no assunto, as pessoas ficavam desconcertadas, como se fosse um assunto proibido.

Depois de algum tempo com os Walter, decidi ir ao mercado no centro com Lana. Na cidade eu tinha a permissão pra entrar com ela em todos os lugares, menos no açougue, já que lá ela não conseguia se controlar muito bem.

Após fazer as compras da semana, me deparei com Gustavo tentando se equilibrar em uma bicicleta velha, enquanto segurava algumas sacolas e latas de tinta.

- Tem certeza que vai conseguir pedalar até em casa com isso? - Perguntei parando com a caminhonete ao seu lado.

- Acho que eu comprei demais. Vim para comprar um pincel e to saindo com mais do que devia. - Ele disse levantando as mãos e mostrando o que tinha comprado.

Ele estava todo desajeitado em cima daquela bicicleta e ainda usava as roupas de Pedro que eu havia lhe emprestado. Mas mesmo todo suado e desajeitado, ele parecia ainda mais bonito.

- Coloca a bicicleta e as latas na carroceria que eu vou te dar uma carona.- Eu disse descendo do carro.

- Melhor não. Não tem nem 24 horas que eu cheguei e já estou abusando da sua generosidade. - Ele disse abaixando a cabeça e ajeitando os óculos.

- Não aceito um não como resposta Gustavo, anda logo. Você não vai conseguir carregar isso tudo na bike, e a gente aproveita pra conversar um pouco mais.

Ele então aceitou a carona. Colocamos as coisas na carroceria e fomos pra casa.

- Me desculpa por ter mexido nas suas coisas. Mas é porque eu não podia sair da sua casa sem te agradecer. E como você estava dormindo tão profundamente, eu não quis te acordar. - Gustavo diz ajeitando os óculos de grau mais uma vez. O jeito tímido dele olhar pra baixo e de ajeitar os óculos com o dedo indicador me encantava.

Até o fim...Onde histórias criam vida. Descubra agora