"Finalmente te encontro sozinho de novo coisinha!"

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Uma gritaria se instalou dentro da sala.
Nossos amigos vibravam com a decisão, Claudia esbravejava coisas desconexas quando num acesso de raiva jogou o sapato em direção ao Juiz.

Resultado. Ela saiu algemada direto pra cadeia por desacato a autoridade.
Fábio por sua vez, nos olhava como quem prometia vingança.

Foi quando eu me dei conta de que Pedro não estava mais ao meu lado e fui atrás dele que já caminhava para o carro.

- Hey! Você está bem? - Perguntei.

- Estou feliz por você. Isso é oque importa. - Ele respondeu segurando minha mão - Seja feliz Gabriel.

Pedro parecia bem. Ele me abraçou e disse que me desejava sorte.
Eu adoraria ter o autocontrole que ele sempre apresentou.

- Você está se despedindo de mim, é isso?

- Não Gabriel, minha promessa ainda está de pé. Quero ser seu amigo pra sempre, mas por enquanto eu vou me afastar só um pouco. Você foi pedido em casamento, precisa organizar sua vida ao lado do Gustavo, e eu preciso pensar na minha agora. Mas se precisar de mim, é só gritar que eu apareço. Só espero que ele não te magoe novamente.

Pedro me beijou. Foi um beijo de despedida, cheio de carinho. E de longe Gustavo assistia a tudo.
Assim que ele arrancou com o carro eu voltei para o lado de Gustavo, que não escondeu sua insatisfação com o beijo, mas pra minha surpresa ele não falou nada a respeito.
Eu tive a impressão de que aqueles dois já tinham conversado sobre isso.

- Vamos buscar o Théo? - Perguntei.

- Vamos sim, a avó dele vai precisar dar um jeito de tirar a filha doida da cadeia. - Ele disse segurando minha mão. - Mas tem uma coisa me incomodando.

Eu então achei que ele fosse falar algo sobre Pedro.

- Você ainda não respondeu a minha pergunta.- Ele então parou de frente pra mim -  Você aceita se casar comigo Gabriel?

- Eu aceitei me casar com você no momento em que te vi todo molhado batendo tarde da noite em minha porta. E venho aceitando a cada vez que olho pra você, a cada vez que minha mão encosta na sua, a cada momento em que você fala o meu nome, eu aceito me casar com você, nessa vida e em todas as outras. Porque eu te amo Gustavo.

Nós então demos um beijo bem rápido e saímos do prédio de mãos dadas, pra estranheza de algumas pessoas ao nosso redor e após pegar Théo, fomos pra casa. Nossa família.

Passamos o resto do dia entre risadas, guloseimas e muitos filmes. Théo estava radiante, finalmente podendo brincar com os brinquedos que trouxemos de Nova York.

...

Os dias seguiram tranquilos. Claudia só passou um dia na cadeia, pois precisava do dinheiro de Gustavo pra pagar a fiança, e ele só deu a quantia estipulada no dia seguinte, e por insistência da mãe de Claudia. Porque se dependesse dele, ela continuaria lá.

Claudia deveria passar por exames psicológicos para atestar sua sanidade, a pedido do juiz. Antes disso, suas visitas ao Théo seriam todas supervisionadas.

Fábio nunca mais apareceu, mas ao que tudo indicava ele continuava se encontrando com Beatriz, já que todas as noites ela saía com o carro, e dizia para os pais que ia a academia.

Ela sempre com seu jeito intrometido, fazia diversas perguntas sempre que nos encontrava.

Com o passar do tempo, nossa vida foi se encaixando. Nós morávamos em minha casa, já que eu não me sentia bem em dormir numa casa onde alguém havia se matado. Gustavo sempre ria quando eu dizia meus motivos pra não querer morar lá. Vai que de repente me levanto pra buscar água e dou de cara com o avô dele andando pela casa.

Gustavo só ia até a casa para pintar, e nessas horas eu e Théo nos fazíamos companhia. Enquanto ele pintava, eu e Théo brincávamos pela casa com Lana.

As visitas de Cláudia a Théo aconteciam sempre com a presença de uma assistente social. O teste foi inconclusivo e até eles marcarem uma nova consulta, as visitas precisariam ser dessa forma.

Ela sempre esbravejava, mas a mãe dela sempre estava junto pra acalmar a louca. As poucas vezes que cruzei com Claudia pela cidade, senti um frio na espinha. Eu não sabia oque era, mas eu sentia medo. Apesar dela não olhar e não falar comigo, eu sentia sua aura pesada. Ela me odiava, afinal, na cabeça dela eu tinha tirado seu marido e seu filho. Outra coisa que me preocupava um pouco, era o sumiço de Fábio. Ele que estava sempre do lado dela, não era visto pela cidade há algum tempo.

Certo dia tomando um café na casa dos Walter, Beatriz mais uma vez perguntou como eu e Gustavo estávamos. "Vocês estão bem? Vão continuar morando aqui? Pensei que fossem querer viajar." Eram as coisas que ela dizia. E eu que já não aguentava mais suas investidas reverti o jogo.

- Então Beatriz, como anda seu namoro com Fábio? Soube que ele anda meio sumido da cidade.

Perguntei fazendo Harold e Laura darem um salto em suas cadeiras, com a surpresa.

- Eu e Fábio, quem te disse isso? Você está louco? - Ela disse quase entornando a xícara de chá sobre a mesa.

Laura e Harold começaram a fazer perguntas quando eu resolvi me levantar e voltar pra casa, deixando ela com a batata quente nas mãos.
Por mais que eu soubesse que ela daria um jeito de dobrar os pais, eu gostei do gosto de deixá-la naquela saia justa. E esperava que com aquilo ela parasse de tentar saber da minha vida com Gustavo.

Cheguei em casa e encontro Gustavo e Théo dormindo no sofá da sala. Uma das cenas que eu mais gostava de ver. Os dois estavam abraçados, Théo com a mão no rosto do pai.
Foi então que decidi ir até o centro comprar mais sorvete, já que os dois haviam acabado com o pote inteiro.

Deixei um recado pra Gustavo, dizendo que tinha ido até o centro e que não levaria meu celular, pois a bateria estava acabando.

Eu não tinha intenção de demorar.

Fui ao mercado comprar nosso sorvete favorito, e antes de entrar na loja vejo o carro de Fábio estacionado. Pensei em ligar pra Gustavo, mas me lembrei de que não estava com o celular.
Meu coração ficou apertado novamente, mas eu não deixei o medo e a insegurança tomarem conta. Comprei o sorvete, e dei uma volta pela cidade, minha respiração ofegante começava a se estabilizar. Eu comecei a pensar que estava ficando paranoico.

Após encontrar o restaurante de Iza fechado, resolvi que era hora de voltar pra casa e ao passar por onde o carro de Fábio estava estacionado, não o vejo mais e isso me deu um certo conforto, mas por pouco tempo.

Como em alguns filmes de terror, após entrar no carro comecei a sentir que havia alguém me olhando. Olhei no banco de trás, mas não tinha ninguém. E mais uma vez comecei a pensar que estava enlouquecendo.

Coloquei uma música e saí com o carro, meu coração estava ainda mais apertado, tanto que eu não conseguia prestar atenção no que tocava.

Tudo naquela noite parecia conspirar contra mim. Ao entrar na estrada que liga o nosso lado da cidade ao centro, ouço o barulho alto do pneu estourando. E começava a pensar na merda que eu fiz em deixa o celular em casa.

Aquela era única coisa que eu odiava fazer. Eu não havia nascido pra trocar pneus.

Ao entrar na parte deserta que separa o centro da cidade de onde eu moro, vejo um farol ao longe vindo pelo mesmo caminho.

Saio do carro e abro o porta-malas do carro para pegar o step, não consigo enxergar qual é o carro por conta do farol alto, mas vejo quando ele diminui a velocidade e vem em minha direção.  Sinto um certo alívio por imaginar que poderia ser alguém que pudesse me ajudar a trocar aquele maldito pneu, ou me dar uma carona até em casa.

Já me preparava pra estender o braço como forma de pedir ajuda, quando um pensamento tomou conta da minha cabeça "quem além de mim e os Walter pega essa estrada?", e meu coração gela ao ouvir a voz de Fábio ecoando dentro do carro.

- Finalmente te encontro sozinho de novo coisinha!

Até o fim...Onde histórias criam vida. Descubra agora