"Droga. Eu não pensei nisso!"

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O tempo passava e uma chuva intensa começava a cair do lado de fora.
Do lado de dentro, várias goteiras se espalhavam pela cabana.

Claudia estava inquieta. Ela andava de um lado pro outro com a arma na mão, coçava a cabeça, dava socos nas paredes...

- Melhor você se acalmar Claudia. Porque você não se senta um pouco?

- Está tentando ficar meu amigo coisinha? Não adianta bancar o bonzinho agora depois de roubar meu marido, meu filho, fazer o Fábio ser preso... - Claudia foi dizendo essas coisas e se aproximando de mim.

- Não é isso. É porque ficar nervosa não vai adiantar de nada. - Eu mal acabei a frase quando ela bateu com a arma em meu rosto.

- Eu não estou nervosa coisinha. Você ainda não me viu nervosa. E quer saber de uma coisa? Eu pensei em deixar você sair vivo dessa, mas acabei de mudar de ideia.

Claudia apontou arma pra minha cabeça e engatilhou.

- Tem certeza de que você quer me matar Claudia? Se eu morrer, o Gustavo não vai te dar oque você quer. Além disso, ele vai até o inferno atrás de você pra que você pague pelo que fez.

Ela então acertou outro golpe com a arma que acabou me fazendo apagar.

...

Não sei por quanto tempo fiquei apagado, mas fui acordado com ela batendo na minha cara e me dizendo pra levantar rápido. Segundo ela, havia ouvido latidos do lado de fora.

Eu não conseguia ouvir absolutamente nada, mas no estado em que ela estava eu não duvidava de que estivesse ouvindo coisas.

Ao me levantar senti que a corda em meus pulsos já não estavam tão apertadas. Talvez num momento de lucidez ela tenha afrouxado, ou por pura sorte as cordas tenham se desprendido um pouco.

Saímos da cabana em direção a ponte que passava sobre o rio.

- Pra de baixo da ponte coisinha. - Ela disse me empurrando com o cano da arma.

Chegávamos ao local escolhido por ela, quando meu telefone começou a tocar.

- Seu tempo está se esgotando Gustavo. - Ela disse colocando no viva voz novamente.

- Eu estou cuidando da transferência Claudia. Mas antes eu preciso ter certeza de que o Gabriel esteja bem.

A louca então veio até a mim e tirou lenço que cobria minha boca.

- Se falar alguma coisa já sabe... - Ela disse em meu ouvido.

- Eu estou bem Gustavo. Só faz oque ela está dizendo e presta atenção no som ao redor. - Eu disse isso, enquanto um carro passava sobre a ponte. Eu tinha certeza de que eles saberiam o porque de eu ter dito aquilo.

Outro soco.

- Você acaba de perder seu tempo. Agora você tem 30 minutos ou eu mato essa coisinha.

Claudia desligou o telefone, e recolocou o lenço em minha boca que agora sangrava.

- Vou ter que sujar meu lenço com seu sangue. Mas com o dinheiro que eu vou ganhar eu compro outros.

Meu telefone tocou novamente, mas ela não atendeu.

Claudia estava transtornada, e enquanto andava de um lado pro outro dizia coisas como "eu sabia desde o dia em que te vi" e "eu já sabia que ele estava apaixonado por você".

Certo momento pude ouvir as sirenes de uns 3 carros de policia passar pela ponte.

- Droga. Eu não pensei nisso. - Ela disse coçando a cabeça com o cano da arma. - Eu devia ter dito pra ele não chamar a policia.

Na verdade, acho que ela não havia pensado em nada.

Tirando outro celular no bolso, ela verificava se o dinheiro tinha entrado na conta.

- Bingo! E não é que ele fez oque eu pedi? Você está valendo Quinhentos Mil coisinha, e eu que sempre achei que você não valia nada.

Ela então atende o celular que volta a tocar.

- Obrigado por fazer de mim uma mulher rica Gustavo. Quer falar com seu amor? - Ela disse colocando o celular no viva voz. Pra alguém que gostava tanto de dinheiro, achar que Quinhentos mil deixa alguém rico, ela estava um pouco equivocada.

- Claudia, eu fiz oque você me pediu, agora solta o Gabriel como combinado. - Ele disse com apreensão na voz.

- Olha Gustavo, eu realmente pensei em deixar ele voltar pra você, mas acho que não vai dar não. Aproveita pra se despedir dele agora, eu já não tenho nada a perder, mas você tem.

- Claudia se você fizer alguma coisa com ele...

- Você vai fazer oque Gustavo? Adeus meu amor.

Ela então engatilhou a arma e mirou em minha direção, quando num momento de coragem eu com um chute a empurrei em direção ao rio. A arma disparou me acertando o ombro.

Claudia caiu na beira do rio enquanto eu tentava correr em direção a ponte.
A dor no ombro era insuportável.

Escorreguei várias vezes tentando correr sem conseguir me manter de pé na terra molhada pela chuva fina que caía. Eu não olhei pra trás, mas podia ouvir os gritos da louca bem atrás de mim.

Ao conseguir chegar à ponte, ouço mais um tiro.

- O próximo é na cabeça. Pare onde você está coisinha. Eu quero te matar olhando em seus olhos.

Eu não conseguia mais correr de tanta dor.

- Vai Claudia, me mata logo! Eu não vou mais correr.

Ela tinha sangue escorrendo no queixo.

- Eu vou te matar você pode ter certeza. Mas antes eu preciso olhar bem nos seus olhos.

Claudia mais uma vez apontou a arma e minha direção e com um sorrisinho no rosto puxou o gatilho, que dessa vez mascou.

- Droga de arma velha!

Eu já não conseguia segurar as lágrimas que insistiam em querer cair.

- Você está chorando Gabriel? - Ela disse dando uma risada.

Nesse momento pude ouvir ao longe os latidos de Lana que vinha correndo em minha direção seguida por Gustavo, Pedro e alguns policiais.

- Manda ela parar ou eu atiro nela. - Claudia então aproveitou meu momento de distração pra me puxar pra frente dela como um escudo, enquanto apontava a arma pra Lana, que parou como se soubesse oque estava acontecendo.

- Acabou Claudia, solta ele que vai ser melhor pra você. Eu prometo que você vai sair daqui livre se fizer isso.

Claudia então soltou outra gargalhada.

- Você acha que eu vou cair nesse papo Gustavo? Acha mesmo que eu acredito que vai me deixar sair bem dessa?

Cerca de três policias vieram por trás de nós, fazendo o mesmo caminho que havíamos feito por debaixo da ponte.

- É como você mesmo disse Gustavo. ACABOU! Eu não tenho mais chances de sair daqui. E eu não vou ser presa por causa dele.

Ela então apontou arma pra minha cabeça.

- Toma conta de Lana pra mim Gustavo, e diz pro Théo o quanto eu o amo.

- Cala essa boca coisinha.

- Eu te amo Gustavo!

Fechei os olhos quando senti que ela começou a fazer pressão no gatilho.

Em seguida ouço o latido de Lana que com seu instinto protetor pulou em cima de Claudia. Ouço também um disparo e sinto meu corpo sendo lançado em direção ao vazio.

Por fim, me vejo dentro do rio.

Até o fim...Onde histórias criam vida. Descubra agora