3 - Caquinhos

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Lorham

Entrei em casa com o sapato nas mãos, joguei ele num canto e segui andando.

Minha mãe estava na mesa com Nickola, e como sempre, quando me viu, se retirou. Sem dizer nada.

- Lhou - a voz da minha irmã ecoou, por algum motivo, a experiência com o nosso pai foi tão traumatizante, que depois que ela voltou a falar, esqueceu. Simples.

Me sentei na mesa com ela.

- a mãmãe te ama tá? - ela sorrio pra mim, então desviei o assunto.

- Nick você quer o que de aniversário? - disse levantando da mesa pra pegar algo pra comer.

- Que você e a mãe se deêm bem. - ela deu de ombros, eu suspirei sem que ela notasse.

- talvez algo mais material - a olhei sorrindo com os olhos, terminando de fazer um sanduiche.

Na verdade tudo oque queria era que minha mãe não me odiasse, mas do contrario de Nickola, ela lembra.

- não sei, seja um bom irmão, e descubra oque eu quero. - me sentei comendo.

- Um bom vidente no caso. - ela riu

- cala a boca! - Nick era o tipo de pessoa apaixonante, que se encantava com todo mundo.

- Eu vou te dar um espelho, para você ver o quanto é linda - ela me olhou espremendo os olhos

- Não adianta me bajular, e no dia da minha festa você vai colocar blaser - respirei fundo, odiava roupa social.

Depois que terminei de comer, já sozinho na cozinha, subi as escadas devagar como um bêbado, porém estava indeciso enquanto finalmente passava pelo quarto de minha mãe.
A porta estava entre-aberta.

- mãe...

- Mary, não sou sua mãe. - disse de pé, sem piedade, olhando nos meus olhos. - você está muito proximo da Nickola.

- Ela é minha irmã. - tantas coisas atoladas na garganta, porém essa foi a unica frase que ousou sair.

- Ele era seu pai Lorham, e por que você está aqui? Saia do meu quarto. - dei as costas para ela - você já é maior de idade, se não me obedecer cai fora.

Nao falei nada, a raiva subio para a garganta, e lá ficou, incapaz, indefesa. Apressei os passos para meu quarto e entrei com tudo, tranquei a porta e deixei o capote cair.
As lagrimas vieram nos olhos.

Droga.

Peguei uma lâmina qualquer, e pressionei contra o pulso, logo vi o sangue, tranquilizador...
Quando cai em mim, meu pulso já estava todo sangrando, porém eu sou um inutil, nem assim consigo me matar.

Limpei meu braço, vesti um capote e com a mesma roupa da faculdade, sai andando e escutando munsica bem alta nos fones, já deviam ser quase nove horas da noite.
Faziam dois anos que eu não dirigia porém, uns meses em que não bebia pra esquecer da vida.

(...)

Peguei duas garrafas, uma de Vodka Devil Springs e a outra de cerveja, não estava nem ai, iria misturar mesmo.
Sai andando até chegar numa praia fria, sentei na calçada com os pés na areia e encarei o mar distante, olhei pro céu escuro.

- Então Deus, eu estou deprimido de novo, eu estou sempre deprimido, o senhor deve estar cansado de mim- murmurei e comecei a beber a vodka.
Já estava zonzo, e enjoado, com muito sono quando ouvi uma voz distante.

- Ei, seu nome era Louis né - olhei pra trás e vi uma garota de vestido fofa, ela era familiar, pareceu se impressionar. Eu estava bêbado.

- Lorham. - a neta da senhora que eu ajudei, meus olhos se arregalaram, ela estava com um batom forte e uma bíblia media na mão.

- você estava chorando ? - meneei a cabeça num não previsível, ela olhou o céu devagar.
Acho que estava tão bêbado que desabafei, não perguntei, nem disse que não estava chorando como quando Nick me achou chorando e eu disfarcei, eu estava tão bêbado que falei tudo que sentia, tudo que sentia naquele momento, não estava desnorteado ao ponto de falar do meu pai. Meu pai estava morto e lá deveria ficar.

- Deus se esqueceu de mim, há muito tempo - suspirei olhando o mar, já eram quase dez horas da noite. - cara eu estou muito bêbado- minha visão estava turva

- Nunca se esqueça oque vou te dizer, Deus não se esquece de ninguém, porque você acha que nunca conseguiu se matar ? Quem não deixou você morrer? - parecia não se importar com o horário, apenas me consolou, me falou de Jesus, e mesmo bêbado nunca vou esquecer do que ela disse:

"Deus não esquece ninguém "

Pedaços de um coração partidoOnde histórias criam vida. Descubra agora